Obra de Luiz Dolino – Foto: Rafael Berezinski
“A Dança das Horas”. Este é o nome da primeira mostra individual do pintor Luiz Dolino na capital paulista, mas ele já teve seus trabalhos expostos em coletivas e assina, inclusive, um painel de 12 metros quadrados em um dos salões nobres do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual. Além disso, participou da emblemática nona edição da Bienal de SP, dedicada à arte pop em pleno ano de 1967, e mantém amizades duradouras que resistem há décadas com grandes nomes da cultura e das artes plásticas, como a gravadora Maria Bonomi.
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Em relação à exposição, que poderá ser vista pelo público entre 7 e 21 de maio na galeria, Dolino afirma que há todo um ineditismo que permeia esse contexto. “Embora eu seja um veterano, trata-se de um reconhecimento dessa cidade com a qual mantenho uma duradoura relação”, diz. Sobre o nome escolhido, “A Dança das Horas”, afirma: “Gosto de me situar no universo da literatura e esse título sintetiza, metaforicamente, o que as horas, ao longo de minha trajetória, fizeram de mim. É o tempo que o relógio me consumiu para eu poder estar circulando em vários ambientes”, explica Dolino, cujas obras estão presentes em mais de 50 países, em todos os continentes.
“A beleza plástica do trabalho de Luiz Dolino nos chamou a atenção, sobretudo pela fluidez com que domina a arte abstrata geométrica e pela forma elegante que ele a utiliza como linguagem para dar vida e formas a uma diversificada paleta cromática”, afirma a galerista Monica Felmanas, que é sócia proprietária da Galeria Contempo ao lado de suas irmãs, Marcia e Marina. O espaço, que é dedicado à arte contemporânea, conta com obras do artista em seu acervo.
Luiz Dolino – Foto: Divulgação
No conjunto de trabalhos que serão exibidos – cerca de 20 telas de diferentes dimensões e períodos e três esculturas – as linhas retas assumem o protagonismo por meio de suas pinceladas firmes, sem espaço para curvas. Uma exclusão deliberadamente assumida pelo artista. “O caminho percorrido na busca de uma gramática pessoal levou-me ao encontro dos elementos gráficos de clara inspiração geométrica que são visíveis na decoração de objetos de uso cotidiano e ritualístico, assim como também no próprio corpo de nossos ancestrais indígenas, que cultivaram o gosto pelas formas simplificadas e estabeleceram uma linguagem capaz de expressar o seu universo simbólico por meio de um sofisticado código de formas geométricas”, argumenta. Para Dolino, a curva também é portadora de uma grande sensualidade, uma característica que poderia levá-lo a correr riscos em seus traços retilíneos e potentes, os quais, para ele, imprimem os necessários vigor e ritmo em suas telas.
Obra de Luiz Dolino – Foto: Rafael Berezinski
Quanto à abstração presente na obra de Dolino, o artista plástico, crítico e professor Fábio Magalhães afirma que ela se expressa com clareza e disciplina. “Notamos na construção geométrica a preocupação em estabelecer releituras da proporção áurea, sobretudo, nas relações entre os quadrados e os retângulos”, observa, acrescentando que a linguagem do artista ultrapassa o território cerebral diante de uma intensa vibração lírica. “Frente ao caos das coisas, da vida e da cultura, Dolino nos propõe uma arte de relações harmoniosas em que as formas e as cores interagem e dialogam entre si”, diz.
Obra de Luiz Dolino – Foto: Rafael Berezinski
Com mais de 50 anos de carreira no Brasil e no exterior, o artista não se considera um mestre das linhas retas. Prefere se colocar como um fiel discípulo que, com seu trabalho, traduz a abstração da geometria em encanto e poesia. E, como bem observa a escritora Nélida Piñon, “paira sobre sua criação uma dimensão lírica e melancólica que um artista sutil e refinado como Dolino tem a graça e o poder de ostentar”.