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Jéssika Menkel estreia neste sábado na série “A(u)tores”, da Globoplay

Foto: Divulgação

Mais jovem dramaturga indicada aos prêmios APTR e Cesgranrio, Jéssika Menkel, de 31 anos, é uma das personagens da segunda temporada da série “A(u)tores”, que estreia neste sábado (23.04) na Globoplay. Depois do sucesso com o espetáculo “Cálculo Ilógico”, ela tem agora a oportunidade de contar sobre seus processos em meio à escrita. “Encontrei nessa arte espaço para ressignificar acontecimentos que me cercam. Eu era muito tímida e escrever me ajudou a me expressar melhor. Mas ainda é um campo muito dominado por homens e com pouco espaço e reconhecimento para as mulheres. Quando concorri a Melhor Texto em 2019, dos seis indicados, eu era a única mulher. Por isso, me considero uma vencedora por participar da série”, diz ela, que vai figurar ao lado de Mayana Neiva, Leona Cavalli, Cissa Guimarães, Zé Celso Martinez Corrêa e Tonico Pereira, entre outros, no programa sobre atores que também escrevem.

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Há sete anos, quando começou a pesquisar sobre o teatro documentário, Jéssika percebeu que amava o cruzamento do real x ficção. Foi a partir desse lugar que escreveu “Cálculo Ilógico”, uma autoficção dirigida por Daniel Herz. “Me apropriei de um fato trágico da minha vida (a morte do meu irmão Douglas na noite de Ano-Novo) para ressignificar a minha relação com a morte e consequentemente com a vida. Na dramaturgia, eu utilizo metáforas matemáticas para falar sobre recomeços. Minha missão como artista é tocar as pessoas com o meu trabalho”, diz.

Leia a seguir entrevista que RG fez com Jéssica.

Como se chama o episódio que você participa na série “A(u)tores”? É sobre o quê? Por que escolheu o assunto? 

A série “A(u)tores” é sobre a relação dos artistas com a literatura. Cada episódio é sobre um ator/atriz falando um pouco sobre o seu processo de escrita.

Que sentimento você espera despertar no espectador com o seu episódio?

Eu espero poder inspirar os jovens artistas a escreverem as suas histórias e os seus projetos. Encontrei na escrita e na arte espaço para ressignificar os acontecimentos que me cercam e foi assim que  “Cálculo Ilógico” aconteceu e virou livro. Espero que mais pessoas se arrisquem a escrever, pois sinto que o nosso País é carente de novos autores.

Como surgiu o convite para participar do programa?

O diretor Marcio Vianna teve conhecimento que a dramaturgia do meu espetáculo “Cálculo Ilógico” tinha virado livro e que eu fui a atriz e autora mais jovem indicada na história do Prêmio Cesgranrio de Teatro e APTR, por isso me convidou para fazer parte da segunda temporada da série “A(u)tores”.

Que outros autores estão com você nessa temporada do programa? E como é estar nesse time?

Zé Celso Martinez, Cissa Guimarães, Silvero Pereira, Juliano Cazarré, Leona Cavalli, Tonico Pereira, Mayana Neiva… uma galera incrível. Eu estou muito feliz por ter sido lembrada em meio a tantos artistas que são referências para mim, mas principalmente por esse reconhecimento vir por meio do meu trabalho no teatro. Saber que eu fui lembrada pelo livro do “Cálculo Ilógico”, uma autoficção que tem como base um acontecimento real da minha vida, é ainda mais forte. É o meu texto, o meu livro e é também a minha história de vida.

Quando começou a escrever quais eram as suas referências?

Minha relação com a escrita surgiu desde criança. Eu era muito tímida e encontrei na escrita uma forma de me expressar. Eu tinha um diário, onde eu escrevia cartas, mas sem a intenção de enviá-las, era só uma forma de conseguir colocar para fora o que não cabia dentro de mim. Minhas referências como criança eram os gibis. Eu amava os gibis da “Turma da Mônica”, do Mauricio de Sousa, amava ler mangá… Quando eu comecei a estudar teatro me encantei pelas peças do Ariano Suassuna e pela complexibilidade de Shakespeare.

Foto: Divulgação

De onde tira sua inspiração?

Da vida! Quer algo mais inspirador do que isso? Minha inspiração vem dos atravessamentos que eu vivo, das minhas experiências, dos meus encontros. Às vezes até a infiltração do meu apartamento vira poesia ( se a gente olhar bem, pela rachadura também pode entrar luz).

Como é sua rotina como escritora?

Eu estou escrevendo meu mestrado e em paralelo estou escrevendo também uma peça. No mestrado eu demoro um dia para conseguir escrever uma página, enquanto a minha peça eu escrevo três páginas em uma hora. A liberdade da escrita artística (seja peça ou poesia) é um processo muito orgânico e espontâneo para mim. Quando eu termino de escrever, eu começo a ligar para meus amigos e falo “eu preciso te mandar um texto que eu acabei de escrever!”. Essa semana eu escrevi um texto que me deixou tão feliz, que quando eu terminei eu comecei a dançar na frente do computador. Rsrs

É difícil conciliar as carreiras de atriz e escritora? 

Há 13 anos eu comecei  a estudar e a construir minha carreira do zero. Sempre foi degrau por degrau, sem ter ninguém para me ajudar ou algum familiar do meio artístico que pudesse de alguma forma “facilitar” esse processo, por isso aprendi na prática que eu nunca poderia ser “só” atriz. Na verdade, o difícil para mim é ser só atriz. Hoje eu escrevo, produzo, já fui professora de teatro e também estou começando a me arriscar na área de direção. Na minha opinião, quando a gente fala sobre ser artista, a gente fala também sobre pluralidade.

Existe ainda muito machismo no campo da escrita? Como você avalia o quadro agora? 

Sim, sinto que ainda há pouco espaço e reconhecimento para as mulheres na escrita. Em festivais que eu circulei sempre prevaleceu um número muito maior de homens autores. Um dos prêmios que eu concorri em 2019, na categoria Melhor Texto foram seis indicados, sendo cinco autores e só eu de autora. Ser lembrada e indicada a prêmios é maravilhoso, mas eu quero mais. Quero mais não só para mim, mas para todas as mulheres que escrevem e por isso considero a minha participação na série “A(u)tores” um ponto de vitória na minha carreira.

Quais são seus próximos projetos?

Eu tenho alguns projetos, mas o ponto principal é não saber de fato quando eles poderão ser realizados, já que não há incentivo à cultura no nosso País. Estou terminando de escrever uma peça, recebi um convite para gravar um curta-metragem como atriz no segundo semestre deste ano, mas o meu projeto principal no momento é o documentário que eu estou dirigindo que tem relação com a minha pesquisa de mestrado. A previsão de estreia é para 2023. Espero que todos eles aconteçam.

Conte um pouco sobre a sua trajetória, destaque trabalhos importantes da sua carreira até aqui. Como ingressou no universo das artes? 

Eu saí de Sorocaba, interior de São Paulo, com 17 anos e fui pro Rio estudar teatro. Me formei na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) e hoje sou mestranda em artes cênicas na Unirio.  Há sete anos comecei a pesquisar sobre o Teatro Documentário e percebi que eu amo o cruzamento do real x ficção. Foi a partir desse lugar que eu escrevi “Cálculo Ilógico”, uma autoficção dirigida pelo Daniel Herz. Me apropriei de um fato trágico da minha vida (a morte do meu irmão Douglas na noite de Ano-Novo) para ressignificar a minha relação com a morte e consequentemente com a vida. Na dramaturgia eu utilizo metáforas matemáticas para falar sobre recomeços.

Eu nunca imaginei que essa peça me proporcionaria tantos momentos felizes. As indicações aos prêmios, as apresentações em Portugal, ter artistas como Marieta Severo, Andréa Beltrão, Paulo Betti… me assistindo e gravando depoimentos lindos sobre o espetáculo foi muito emocionante. Minha missão como artista é tocar as pessoas com o meu trabalho e é isso que eu busco. Me percebo na direção dos encontros e em formas de poder continuar no outro, seja pela minha escrita ou pela minha atuação.

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