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Após 2 anos, Tribe retorna com sua edição de 20 anos

Foto: Gui Oliveira

A Tribe, um dos mais antigos festivais de música eletrônica nacional, retorna após dois anos de pandemia com sua edição comemorativa de 20 anos. O idealizador do projeto e também um dos maiores produtores de festas eletrônicas do Brasil, Du Serena, conta toda a história da festa que se coaduna com toda a evolução da música eletrônica mundial, do cenário de festas e com os desafios de produção encontrados ao longo dos anos, principalmente em terras brasileiras.

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Serena ressalta, ainda, momentos marcantes na sua carreira de produtor e também os desafios percorridos até chegar aqui. Para essa edição teremos muitas novidades reveladas por ele em entrevista exclusiva ao RG.

Foto: Gui Oliveira

 Para quem não conhece, quem é o Du Serena? O que ele faz?

 Du Serena é um cara sonhador. Sou pisciano. Então eu vou longe nas minhas ideias aqui. Diariamente me pego parado, pensando, tendo ideias e projetando essas ideias ao longo do tempo. E como que daria para fazer esse projeto aqui e ali. Seja de eventos, seja de cenografia, seja no melhoramento de layout, de eventos, experiências. Então eu sou um cara relativamente criativo e sonhador. Eu me vejo desse jeito. O que eu faço, cara? Grande parte do meu dia eu trabalho. Da hora que eu acordo até a hora que eu vou dormir, eu basicamente estou trabalhando quase o tempo todo. Mas eu também gosto das minhas coisas pessoais. Que é dedicar um certo tempo para minha família e para minha filha. Tenho sido bastante caseiro nesses últimos anos. Tenho aproveitado bastante e curtido ficar em casa. Gosto de ficar em casa cozinhando e com a minha família. Investindo tempo na família. Porque fiquei muitos anos, duas décadas aí, viajando e trabalhando todos os fins de semana. E agora que eu estou indo muito mais para o lado do backoffice de produção de eventos e agência de DJ do que propriamente dizendo, como DJ, eu tenho alguns fins de semana livres. Eu valorizo muito ficar em casa ou ficar com a minha família. 

Foto: Gui Oliveira

Antes de falarmos da sua filha Tribe, gostaria que você falasse da retomada dos eventos. Como foram esses dois anos parados? Como foi o impacto na música eletrônica nacional?

 Ficar quase dois anos sem trabalhar era algo completamente impensável antes da pandemia. Se tem uma coisa que a gente aprendeu ao longo desses anos de música eletrônica é ser resiliente. Porque toda hora a gente tem que enfrentar. Todo ano quase a gente tem que enfrentar um desafio. Seja ele lá no começo da nossa carreira, até preconceito com as festas e festivais de música eletrônica. Aí, passamos por dificuldades com a queda de algum estilo musical que a gente tem apostado. Passamos por alta do dólar, crises financeiras no País, enfim, cada hora é um desafio grande, né? Mas eu acho que a pandemia realmente foi algo impressionantemente desafiador, porque a gente teve que, de fato, ficar 18, 19 meses sem trabalhar, né? Então, acho que não é algo que mudou antes, mas é o que vai mudar depois. Os desafios são muito grandes para se produzir um evento de música eletrônica ou um evento no geral. Hoje, os custos subiram absurdamente, como o valor do dólar que a gente paga para os artistas internacionais. Mas a inflação atingiu em cheio os números do custo de uma planilha de um evento. Os fornecedores estão todos mais caros, a parte de estrutura ficou muito mais cara e tudo ficou mais caro. A vida do brasileiro ficou mais cara, né? Então, isso está atingindo em cheio as planilhas dos custos de operação. O grande desafio aí é entender o que vai acontecer no futuro e se preparar para isso, porque hoje o brasileiro tem menos dinheiro no bolso e o custo de operação subiu mais. Consequentemente, o custo dos ingressos vai ter que subir para a conta fechar. Então, esse é um cenário que vai atrapalhar bastante a cena como um todo. Porque se continuar a mesma oferta, com uma demanda menor que a tendência, não por opção, mas por necessidade, as pessoas não vão ter mais tanto dinheiro para gastar.

Foto: Gui Oliveira

 Para quem não conhece o que é a Tribe? Quantos anos ela tem?

 Bom… a Tribe nasceu no ano 2000. Então, esse ano ela completa 22 anos. A gente está extraordinariamente comemorando a edição de 20 anos. Porque seria os 20 anos que seriam do evento, que foi adiado em 2020. A gente não quis mudar isso porque é uma edição muito simbólica, 20 anos de festival, mas ela já tem 22.

 Para essa edição quais são as novidades? Conte para a gente em primeira mão. Sonoridades, palcos, decorações etc.

 Acho que essa Tribe vai trazer diversas surpresas. São muitos artistas inéditos tocando no festival, Be Svendsen, Who Made Who, Melanie Ribe, Melo Nery. O Guy Mantzur, Enrico Sangiuliano, Township Rebellion, tem vários nomes que nunca tocaram aqui. Então, sonoramente falando, eu acho que está bem interessante. A gente dividiu ainda mais os estilos musicais. Serão quatro palcos. Um de melódico. O outro de tech house. O outro de techno e outro de psytrance. Em termos de cenografia, bastante coisa nova. A gente renovou todos os palcos. O item de cenografia é algo que a gente leva muito a sério aqui. A gente sempre gasta bastante energia nos projetos e na inovação e estou bem feliz com o resultado deste ano. Vamos entregar quatro experiências completamente diferentes dentro do festival. Cada palco com a sua identidade e condizendo com a identidade sonora também. Então, acho que é bastante novidade, interessante.

Foto: Gui Oliveira

 A Tribe tem uma vida e uma história, de altos e baixos, atualmente resgatando um nome já construído. Fale um pouquinho qual foi o melhor e o pior momento da Tribe.

Uma marca de 22 anos não fica só no alto. Ela tem uma variação. A gente teve dois episódios, em 2005 e 2016, que foram entregas difíceis, ambas com problemas de clima que nos atrapalhou por causa da chuva. Seja no festival, como no caso de 2005 ou em 2016, como foi na prévia. Ambas as chuvas atrapalharam bastante a logística de acesso do festival, que acabou trazendo uma experiência difícil para o público. Mas se a gente for contar as mais de 60 edições do festival, a gente teve duas entregas ruins. A gente está numa média de acima de 90% de acerto, o que acaba deixando um resultado bastante satisfatório.

Os piores momentos eu acredito que foram esses, dezembro de 2005 e junho de 2016. Mas os melhores, nossa, seria tão difícil. Acho que tem alguns simbólicos aqui muito especiais, que foi 2006, a Tribe de seis anos que a gente fez a cenografia com uma equipe internacional, pela primeira vez. Em 2007, que foi nossa primeira parceria com o Alex e onde a gente fez toda a comunicação do festival e a cenografia baseada na arte dele. Em 2011, foi a Tribe de dez anos e foi muito simbólica. Também foi um evento incrível. Em 2014 também sensacional. O evento foi um evento histórico. A gente teve artistas como o Dub Fire e Danny Daisy, enfim, foi um incrível e acredito que acho que são os pontos mais mágicos do festival. Foram eles.

 Quais são os artistas que acompanham o evento desde sempre? Existe algum que é marca registrada da festa?

 Olha, são 22 anos e dois artistas tocam nela desde a primeira edição que sou eu e o Gabe. Alguns internacionais nos acompanham desde o comecinho, como é o caso do Astrix, que tocou pela primeira vez para a gente em 2002. O D-Nox, que tocou pela primeira vez em 2005. E o Bóris, que tocou pela primeira vez em 2007. Então são parcerias de longuíssimos anos. Eu acho que os quatro aí têm um relacionamento, uma imagem muito atrelada à Tribe. São anos e anos, décadas de parceria. Então, invariavelmente, a imagem deles está muito atrelada com a do festival. 

Foto: Gui Oliveira

O que mudou no cenário da música eletrônica de 20 anos para cá e que você acha que melhorou ou piorou?

Olha, mudou muita coisa. Quando eu comecei a frequentar os eventos. Primeiramente, não existiam smartphones e não existia o Waze. A internet estava começando a engatinhar, então muita coisa mudou. E você imagina que naquela época a gente tinha que ir na Galeria Ouro Fino ou em outros lugares onde as promoters deixavam os flyers para a gente ficar sabendo das festas. E aí você tinha que seguir o mapinha ou as direções de como chegar na festa. Estava escrito no flyer. E aí, quando você chegava,  muitas vezes se perdia ali ou tinha que ir seguindo os sinais flúor para chegar nas festas, né? Era algo bem divertido e bem místico, porque, às vezes. se demorava horas para chegar. Então, hoje você bota no Waze e chega direitinho no seu trajeto. Uma outra coisa que mudou bastante, obviamente, são o tamanho dos eventos. Hoje, música eletrônica é algo muito popular. Naquela época estava nascendo basicamente a música eletrônica. Afinal, no final dos anos 1990, 1998, 1999 a cena estava começando. Em 1997, quando eu comecei nas festas, a cena estava começando ainda no Brasil. O jeito de se produzir música eletrônica mudou bastante. Hoje, ela é muito mais de eficácia de dance floor. Claro que tinha a importância de funcionar na pista, mas era um pouco mais aberto, sabia? Não tinha essa pressão toda de fazer uma música que funcione na pista. Então, a fórmula mudou bastante.

Também por serem eventos menores naquela época. Claro que trazia uma experiência mais intimista que você ainda consegue ter hoje em alguns eventos menores, mas no geral é algo maior, né? Você vai assistir a um artista grande ali, são de umas milhares de pessoas que estão lá para ver o cara. No começo, se pegava um artista grande, você podia vê-lo numa festa de 600 a 1.000 pessoas. Então, essa parte mística do começo se perdeu um pouco, mas de novo ela pode ser encontrada em alguns eventos específicos ainda, que não são eventos de massa. Então isso está sendo muito legal, está voltando essa coisa de fazer eventos menores, intimistas.

Foto: Gui Oliveira

Não gosto de falar de melhorou, piorou, porque isso acaba sendo meio sem sentido. Qualquer negócio, qualquer mercado, qualquer business, eles vão se desenvolvendo ao longo do tempo. Então, assim, o que para mim pode ser pior, para o outro pode ser melhor e vice-versa. Mas eu gosto de olhar as coisas sempre pelo lado positivo. As experiências de hoje em dia em termos de produção, de decoração, de sound system, até dos próprios de Djs, de visual estão muito mais profundas do que naquela época. Isso te permite ir muito mais longe na experiência, na entrega da experiência para o público. A tecnologia hoje disponível nos ajuda muito a entregar, e isso nos ajuda muito a comunicar com o público através das redes sociais. Hoje o mercado está muito mais profissional, está muito mais internacionalizado, integrado. Então, um cara lança uma música hoje e você fica sabendo instantaneamente, né? Acho que a tecnologia lá acaba trazendo muitos benefícios para a cena atual, em todos os sentidos, desde qualidade sonora, qualidade de cenografia, qualidade de leds de hoje em dia. Claro que dá saudades daquele tempo, mas eu estou sempre olhando para a frente e mirando no que a gente pode melhorar a experiência do uso do público que vai no nossos eventos, ao invés de ficar lamentando coisas que passaram,  sabe?

 

 

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