O cantor e compositor norte-americano de pop e R&B Adrian Jean, 28 anos, gosta do Brasil. Seu lar e seu coração, como diz, estão em Los Angeles, mas atualmente ele passa mais da metade de seus dias por aqui. O cara é um batalhador, passou três anos morando em seu carro em Los Angeles porque tudo era muito caro e ele estava sem grana, até que conseguiu uma audição para participar de um trabalho musical, e deu certo.
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Apaixonado por funk, gosta de música que dá vontade de mexer os quadris, embora o estilo de seu trabalho pessoal seja outro. “Então, o funk é o meu ritmo brasileiro preferido. Eu gosto muito também do pop que a minha amiga Carol Biazin está fazendo e gosto do trabalho da Luísa Sonza, Ludmilla”, diz.
Nesta quarta-feira (20.04), ele lança a música “New Man”, que vem acompanhada de videoclipe. A letra no ritmo do R&B fala sobre a dor causada por relacionamentos que deram errado. O audiovisual tem direção geral de Andreza e Jef Delgado (frequentes colaboradores de Emicida e Mano Brown) e direção criativa de Cássio Andreasi, da mesma equipe.
O visual do projeto conversa com a obra de Jean-Michel Basquiat, grafiteiro de Manhattan que revolucionou o neoexpressionismo. A ideia veio do próprio cantor, como ele conta: “O público vai ver no vídeo que usamos uma referência de Jean-Michel Basquiat – eu gosto muito desse artista preto maravilhoso. Fizemos a recriação de uma foto que ele fez quando estava na frente de suas peças e utilizamos o conceito no videoclipe e na capa”.
A canção foi produzida pelo Los Brasileros, time de superprodutores que já assinou trabalhos de grandes nomes – entre eles, Anitta (no álbum “Kisses”), Luísa Sonza e Vitão (“Flores”) e Jão (no álbum “Anti-Herói”). Na narrativa, o artista permite que os fãs vejam uma versão mais frágil sua, questionando quem é esse novo homem que tem a coragem de se abrir e desabafar sobre suas mágoas.
Leia a seguir entrevista que RG fez com Jean.
Como começou sua carreira na música?
Essa é uma pergunta muito interessante porque minha carreira começou com o destino, eu comprei uma passagem só de ida de Los Angeles para Nova York, só com o suficiente para uma estadia em hotel lá. Fui para uma audição de uma banda de covers que fazia muito sucesso na cidade, eles viajavam bastante. Na época ninguém sabia que, em Los Angeles, eu já estava há três anos vivendo no meu carro, porque tudo era muito caro lá. Foi uma época muito difícil, eu não revelava essa situação para ninguém. Tomava banho na academia, meu closet era o porta-malas do meu carro. Isso aconteceu por três anos, até que descobri essa audição. É por isso que eu digo que foi destino: cheguei na audição, tinha uma fila de outros artistas tentando, memorizei quatro músicas de um dia para o outro e cantei. Eles ficaram impressionados e eu consegui o trabalho. Fiquei com a banda por alguns anos, muito feliz, até que um fundador de uma grande gravadora me viu cantando e me apresentou às pessoas que acabaram investindo na minha carreira.
Por que pop e R&B?
Eu cresci com a minha avó ouvindo Smokey Robinson, Tina Turner, Patti Labelle, Gladys Knight… O R&B sempre estará no meu coração. E depois, com o tempo, passei a estudar o mercado musical, as pessoas que estavam no topo das paradas, foi assim que o pop entrou na minha história, numa junção do que é importante para mim.
Quais suas influências na música?
Falando de influências de palco, cito Michael Jackson, James Brown, Usher… No caso de performances em vídeo, tenho assistido muito pessoas como a Jazmine Sullivan, artistas que não se mexem tanto no palco e focam na entrega da mensagem da música. Sobre composição, me inspiro em muitos rappers, Frank Ocean, H.E.R., Daniel Ceaser, Sza… Essas influências me inspiram, junto com os nomes oldschool que eu cresci ouvindo, como Harold Melvin & the Blue Notes, Patti Labelle, The Temptations.
Como o trabalho de Jean-Michel Basquiat influenciou seu mais recente trabalho?
Eu me identifico tanto com o Jean-Michel Basquiat porque ele conheceu a dificuldade. Ele viveu em Nova York e em Los Angeles, antes de seu sucesso, convivendo com artistas que bombavam na época, como Keith Haring e Andy Warhol, e não entendia o porquê de não conseguir alcançar o mesmo prestígio que eles. Tempos depois, as peças que Basquiat produziu nessa época de sua vida, antes do sucesso, se tornariam clássicas e seriam vendidas por valores recordes. O artigo do “The New York Times” onde foi publicada a foto que inspirou a capa do meu single se chama “New Art, New Money” e eu tento continuar essa história com “New Man”.
Qual a ideia de suas músicas?
Depende da música. Para “New Man”, particularmente, é bem literal: passei uma semana toda em meio a discussões e desentendimentos, então entrei num estúdio e contei essa história. Mas cada música é diferente.
Como é trabalhar com Andreaza e Jef Delgado, colaboradores de rappers importantes do Brasil, como Mano Brown e Emicida?
Foi muito legal trabalhar com eles. Antes de trabalhar, nos encontramos primeiro no Rio de Janeiro, almoçamos juntos e nos divertimos. Acho muito importante que artistas se conheçam antes, quebrem o gelo, antes de colaborarem. Fazer arte é um processo muito vulnerável, então, para mim, é muito importante que conheça essas pessoas antes. Assim, quando finalmente entramos no estúdio, já tínhamos quebrado o gelo, só fizemos arte, compartilhei algumas ideias, incluindo a do Basquiat. Eles curtiram e quiseram colocar em prática imediatamente e deu certo. Artista colaborando, dando vida a ideias, foi muito legal.
Acha importante manter ainda, nos dias de hoje, um discurso antirracista?
Sou muito a favor do discurso pró-diversidade, pró-direitos iguais… Adoraria viver num mundo em que eu visse mais gente como eu nos espaços, ir a um restaurante em não ver apenas pessoas brancas. Acho que é importante trazer esses ideais para a luz.
Quando terá mais shows seus por aqui?
Ontem (19.04) tive um show aqui em São Paulo, no Blue Note. Foi minha primeira vez me apresentando em show solo no Brasil, com uma banda totalmente nova, tivemos alguns dias para entrar em forma, nos conhecermos e entendermos o repertório. Cantei com o MC Du Black algum tempo atrás, mas essa foi a primeira vez, desde o início da pandemia, em que subi em um palco para um show só meu. É um show quase todo de músicas inéditas, estou muito animado para que vocês vejam o Adrian Jean do palco, que é bem diferente do Adrian do estúdio. Além disso, em 17 de maio eu retorno ao Blue Note, dessa vez em um evento aberto ao público. Espero poder receber todos nesse show.
O que gosta da música brasileira?
Eu amo quando a música faz você querer mexer os quadris ou rebolar (risos). Então o funk é o meu ritmo brasileiro preferido. Eu gosto muito também do pop que a minha amiga Carol Biazin está fazendo e gosto do trabalho da Luísa Sonza, Ludmilla. Se você vier à minha casa enquanto eu estiver me arrumando para algo ou começando meu dia, você com certeza vai ouvir funk ou qualquer som dançante, como as produções do Pablo Bispo, Ruxell e Hitmaker, amo Tropkillaz, amo funk.