Cultura

Jorge Farjalla – O homem sucesso do teatro

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Jorge Farjalla – Foto: @priscilaprade

Talvez você não o conheça por nome, afinal, ele não age na linha de frente, mas com certeza já deve ter visto ou desejado ver algum dos espetáculos que Jorge Farjalla dirigiu. Dono de um perfeccionismo nato, ele, atualmente, comanda a direção de duas peças de sucesso simultaneamente: “O Mistério de Irma Vap”, com Luis Miranda e Mateus Solano, e “Brilho Eterno”, com Reynaldo Gianecchini, Tainá Muller e grande elenco. Não é pouco, sendo que uma está em São Paulo, e, a outra, viaja o Brasil. 

Natural de Catalão, em Goiás, Farjalla estudou artes cênicas na Federal de Uberlândia, em Minas Gerias, onde, posteriormente, se tornou professor, ocupando a cadeira de direção e interpretação. Passou muitos perrengues até se tornar quem é hoje, inclusive não ter onde comer e dormir, mas o talento falou mais alto e ele, como outros artistas bem-sucedidos, acabou vendo o jogou virar para o melhor lado da vida. “Já fiquei sem ter o que comer, sem grana para pagar aluguel, morando em república, dormindo no chão, endividado por fazer produção de teatro e não conseguir retorno com a peça em cartaz, enfim, há realmente várias histórias de perrengues, como também várias histórias sobre de vitória! Axé.”

Mesmo com duas peças simultâneas em cartaz, ambas com grande sucesso, ele não para. Tem vário projetos e outros que já estão saindo do papel. O que vem pela frente é uma série de trabalhos já definidos e quase prontos, preparem-se, vem coisa muita bacana por aí, como “Clara Nunes A Tal Guerreira”, um musical sobre a história desse ícone na música com Vanessa da Mata e produção dos irmão Marco e Daniela Griesi; “Dom Quixote de Lugar Nenhum”, do cineasta Ruy Guerra e musicado por Zeca Baleiro; “O Que Vamos Fazer Com Walter”, do autor argentino Juan José Campanella e produção do ator Leo Miggiorin e Danny Oliveira. E em pós-produção o longa gringo “Epithaf”, dirigido em parceria com Bernardo Barreto.

Sobre o atual momento da arte e da cultura no País, Farjalla diz que é crueldade o que fizeram com a classe, mas acredita na força do artista e em sua transformação para dar a volta por cima. “Cruel, nos colocaram num liquidificador e nos trituraram, nos tornamos sobras do que fomos ontem. Fico pensando o que seria do nosso País sem cultura? O que vão saber sobre arte e cultura os que virão depois de mim? Enfim, um momento difícil, mas nós, artistas, podemos envergar, como o bambu, com o vento, mas a faca jamais corta.”

Leia a seguir o papo que RG teve com o diretor.

O que estudou, onde?

Me formei em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Uberlândia-MG, onde logo após a formatura me tornei professor da mesma no departamento de Arte Cênicas ocupando a cadeira de direção e interpretação.

Você é de Goiás, mas se mudou para o Rio para trabalhar? Quais referências tem de sua terra natal?

Sim, sou goiano, nascido em Catalão, cidade a 100 km da divisa com Minas Gerais. Na verdade saí de casa aos 16 anos para estudar artes cênicas na Faculdade Dulcina de Moraes em Brasília, no DF, mas acabei me mudando para Uberlândia e me formando na federal de lá e, em seguida, me mudando para o Rio de Janeiro para alçar um voo maior. Acredito fielmente que minhas raízes interioranas são que me dão até hoje o alicerce para ser quem sou, a poética vem desse interior, dos meus avós maternos, da minha mãe, principalmente, que sempre potencializou o meu eu artista.

Como tudo começa na sua carreira, voltando lá atrás, ou seja, como nasce o diretor Jorge Farjalla?

Nossa… sempre revisito o museu de onde vim… é importante para me manter fiel a quem sou, principalmente para ficar com pé no chão. O Farjalla nasce num monólogo, escrito por mim, em 1997, na Faculdade Dulcina de Moraes, em Brasília, sobre os poemas de Carlos Drummond de Andrade, mas não, o Farjalla nasce mesmo em Catalão, nos festivais de teatro da cidade, ou ainda com o diretor goiano Marcos Fayad, já falecido, que foi quem me apresentou o teatrólogo francês Antonin Artoud, que se tornou meu objeto de estudo, e também a queimar alecrim no palco antes das apresentações, ritual que também me acompanha até hoje, falo de 1995.

Quais foram os principais perrengues que você passou profissionalmente?

Vários. O mais difícil foi agora, com a pandemia, que desespero, mas é que, talvez, os outros perrengues, à distância, vão perdendo a força. Já fiquei sem ter o que comer, sem grana para pagar aluguel, morando em república, dormindo no chão, endividado por fazer produção de teatro e não conseguir retorno com a peça em cartaz, enfim, há realmente várias histórias de perrengues, como também várias histórias sobre de vitória! Axé.

Quais os principais trabalhos da sua trajetória, pode elencar alguns?

Preciso começar pelo “lado B”, quando não era reconhecido, mas foi o trabalho quem me trouxe meu padrinho na arte João Paulo Mendonça, filho dos meus outros padrinhos Rosamaria Murtinho e Mauro Mendonça, que foi minha leitura sobre o Inferno de Dante Alighieri intitulado: “Dante´s Inferno”, feito no Parque das Ruínas em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, com os atores completamente nus com os corpos cobertos de argila inspirado nas iluminuras do Gustave Doré. “Dorotéia”, clássico de Nelson Rodrigues, que foi meu encontro com a minha deusa Rosamaria, Leticia Spiller, Alexia Dechamps e um grande elenco para comemorarmos os 60 anos de carreira da Rosa. “Senhora dos Afogados”, também de Nelson Rodrigues, com João e Rafael Vitti fazendo pai em filho na ficção, Leticia Birkheuer e um grande elenco. “Vou Deixar de Ser Feliz Por Medo de Ficar Triste”, do Yuri Ribeiro, com o próprio em cena, Paula Burlamaqui, Vitor Thiré e Jujuba, que foi o projeto que me deu maior visibilidade devido o que fiz com a minha encenação e adaptação da obra, foi este trabalho que me trouxe “O Mistério de Irma Vap”, este talvez seja a minha celebração de criador e encenador, pude colocar minha mãos neste dois gênios da artes cênicas no Brasil – Luis Miranda e Mateus Solano – e agora “Brilho Eterno”, minha adaptação e de André Magalhães para o teatro com Reynaldo Gianecchini, Tainá Muller e grande elenco, que foi um projeto dado ao Reynaldo de presente.

Luis Miranda, Jorge Farjalla e Mateus Solano – Foto: reprodução/Instagram/@jorgefarjalla

Como é estar com duas peças de sucesso em cartaz simultaneamente, “Brilho Eterno” e “O Mistério de Irma Vap”?

De extrema felicidade, realização, gratidão… Ainda estamos de luto por toda a agressão da pandemia e conseguir retomar “O Mistério de Irma Vap” e estrear “Brilho Eterno” no teatro, com sucesso de público para os dois espetáculos, é algo inenarrável.

Como você concilia os dois trabalhos?

Tenho tentado. “O Mistério de Irma Vap” está em turnê pelo Brasil e o “Brilho Eterno” em cartaz no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, de sexta a domingo, sendo sábado duas sessões. Fico sexta no “Brilho”, e sábado e domingo com a “Irma Vap”. Não consigo ser um diretor que não esteja presente.

Tem vontade de adaptar essas peças para streaming?

Não. E mesmo se tivesse teria problemas com direito autoral, porque no áudio visual se rege de um outro aspecto a questão dos direitos.

Como você elabora seu processo de criação, sobretudo nas inovações que impõe nos espetáculos? Como o parque de diversões, em “O Mistério de Irma Vap”, e o MDMA, em “Brilho Eterno”.

Vem muito da minha intuição, como se estivesse com algum canal astral aberto e pudesse me conectar com outro plano para sentir e ressignificar uma obra, seja em sonho ou mesmo buscando um signo ou signo camuflado na obra. Tanto na “Irma” quanto no “Brilho” as cenas iniciais foram criadas a partir de um sonho. O trem fantasma (cenário “Irma Vap”) e a pandora (cenário “Brilho”) vieram a partir de fazer algo de inusitado para a encenação, que instigue, tanto o ator quanto o espectador.

A que você atribui o sucesso das suas peças?

Acredito que possa ser pela roupagem artística em algo que pode ser popular, claro é um achismo meu, mas provocar o espectador levando ele a um outra viagem que não seja o óbvio pode sim reconectar este espectador a um outro lugar que não o celular, por exemplo. Mesmo porque tudo já foi feito no teatro. Não há nada de novo, só uma forma inusitada de reorganizar os pensamentos sobre cada obra em questão, e o fundamental, a entrega do elenco, principalmente em aceitar os meus desafios, sou muito grato pela generosidade e troca de todos que trabalham comigo me oferecem.

Você é conhecido como um cara que cuida de tudo de perto. Acha que isso se deve ao fato de você ser perfeccionista?

Sim, busco a perfeição, não sei se sou perfeccionista, ou exigente, claro, quero o melhor, busco o acabamento, aquilo que ninguém vê só eu ou alguém que comunga de um mesmo olhar que o meu.

Reynaldo Gianecchini, Tainá Muller e Jorge Farjalla – Foto: Luis Miranda, Jorge Farjalla e Mateus Solano – Foto: @priscilaprade

Quais são seus próximos projetos?

“Clara Nunes A Tal Guerreira”, um musical sobre a história desse ícone na música do nosso País com Vanessa da Mata e produção dos irmão Marco e Daniela Griesi; “Dom Quixote de Lugar Nenhum”, do cineasta e multitalento Ruy Guerra, e musicado por outro gênio que é o Zeca Baleiro; ainda “O Que Vamos Fazer Com Walter”, do autor argentino Juan José Campanella e produção do ator Leo Miggiorin e Danny Oliveira. E em pós-produção o longa gringo “Epithaf”, dirigido em parceria com Bernardo Barreto.

Como avalia a atual situação da cultura no Brasil?

Cruel, nos colocaram num liquidificador e nos trituraram, nos tornamos sobras do que fomos ontem. Fico pensando o que seria do nosso País sem cultura? O que vão saber sobre arte e cultura os que virão depois de mim? Enfim, um momento difícil, mas nós, artistas, podemos envergar, como o bambu, com o vento, mas a faca jamais corta.

Acha difícil fazer arte no País?

Acho difícil fazer arte para um povo que não sabe ser múltiplo mesmo pensado ser, porque o povo brasileiro é multifacetado, mas para grande parte o interesse por outros braços da cultura se tornam desnecessário ou por falta de curiosidade ou por não terem contato, ou seja, o que não é massificado sofre por não atingir o popular.

Que projeto gostaria de fazer que ainda não aconteceu?

“Os Lusíadas”, do Camões, que é minha adaptação para um tipo de série teatral, esse seria para o streaming, “Hamletmaschine”, do autor alemão Heiner Muller com Leticia Spiller e Pablo Vares e outros guardados em surpresa que já sairão do papel.

Tem algum ator ou atriz com quem você gostaria muito de trabalhar?

Fernanda Montenegro, e já cantei muito à nossa imortal um projeto.

Que conselhos daria a jovens diretores?

Não tenham medo. Ouçam o íntimo, o que está por traz do óbvio e estudem. Leia, devore os livros de teatro, os pensamentos dos teóricos, estude cinema, ouça música, veja filmes, se emocione. Permita ser quem você é. Não há regras mas sim vontade.

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