Fotos: Zé Rendeiro e Dalton Valerio
Após o sucesso de “Alma Imoral”, Clarice Niskier estreia novo espetáculo “A Esperança na Caixa de Chicletes Ping Pong”, um almanaque pop bem-humorado, que reúne fragmentos culturais e emocionais do Brasil. O texto e a direção são de Clarice, que contou com a supervisão de Amir Haddad e direção musical de Zeca Baleiro. A estreia acontece no dia 15 de abril no Teatro J. Safra.
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O espetáculo comemora os 40 anos de Clarice Niskier sobre o tablado. A apaixonada pela música popular brasileira, a atriz trançou suas memórias, histórias e reflexões com 45 canções do compositor e cantor Zeca Baleiro.
Cada canção inspirou a atriz a elaborar uma cena que tem relação com o Brasil, com a sociedade, com a sua vida. Algumas inclusive estão na íntegra, e a ouvimos na gravação original de Zeca Baleiro, enquanto outras, são ditas, em versos escolhidos. O texto de Clarice e a poesia do compositor se entrelaçam de maneira fluida e orgânica.
A peça, de forma lúdica, poética, reflete, principalmente, sobre a ética no mundo contemporâneo, uma ética que só pode ser vivida em liberdade. E uma liberdade que exige refinamento para se viver em sociedade. Segundo a atriz, “só haverá saída para o impasse político, social e econômico no nosso país se houver uma discussão profunda sobre o que é ética para os brasileiros”.
Fotos: Zé Rendeiro e Dalton Valerio
Escrita em versos que lembram um cordel, um samba de breque ou letras de músicas, o texto de Clarice ainda faz referência a Sergio Buarque de Holanda, Ferreira Gullar, Hélio Pellegrino, Eduardo Galeano, Chico Buarque e Yuval Harari. “Sempre amei a música popular brasileira.”
É um continente de valor inestimável, onde uma teia de relacionamentos éticos, étnicos e estéticos se agigantam constantemente. Faço uma demarcação deste Parque Nacional Artístico e digo aos amigos que fico. Escolho Zeca Baleiro para falar desse momento do mundo e do Brasil, para ancorar meus afetos, minha vontade de permanecer aqui, apesar de tudo. Hoje, as canções de Zeca Baleiro radiografam meus estados de alma, me aproximam de um Brasil que eu quero conhecer cada vez mais. Existe um Brasil que nos encanta. Nele existe um patrimônio imaterial extraordinário. O trabalho de Zeca Baleiro revela esse patrimônio.
São diversos ritmos, sons, melodias. Os versos se harmonizam, se contradizem, há sentimentos de esperança, desesperança. “A vida é dura, irmão/ A vida é dura/ Cheia de fúria/ Amor e dor/ Paixão/ Cobiça e ira/ Mais uma razão para não viver a vida de mentira”, canta o compositor em “Mentira”. Erudição, natureza, cultura, questionamentos, tudo misturado de forma lúdica e lúcida. Saudar este patrimônio é engajar-se em um Brasil que nos aponta algumas saídas. Ele contém o cheiro da terra, a água do rio, as fábulas da infância, a sensualidade bendita, as lutas que valem a pena. Estamos respirando debaixo d’agua como uma árvore sob a cheia de um rio. E vamos sobreviver. Assim como a árvore, temos também nas células a memória de que já fomos água. Na poética está a ética ou, já que estamos pós-tudo, a pós-ética que nos fará seguir em frente”, afirma a atriz.