Exposição “Brasil no [Centro do] Mapa” – Foto: divulgação
Comemorando os duzentos anos da independência e os trinta anos da realização da Rio-92, a primeira reunião global que somou governo e sociedade
diante do desafio ambiental, é preciso revisitar o mundo e o continente sul-americano diante da realidade física que sustenta a política nacional e internacional do país. O Brasil está no centro do mundo e com ele a América do Sul. Para motivar esta reflexão, o
Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ) inaugura dia
20 de abril a exposição
Brasil no [Centro do] Mapa, e apresenta uma série de preciosidades da cartografia. São 22 mapas, desde o século XVI até hoje, incluindo o Brasil no centro do mapa do mundo.
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A mostra traz ainda quatro mapas temáticos: emissão de CO2 por habitante, lixo plástico, unidades de conservação e energias renováveis. Outro ponto alto da exposição é “Cartografia de Anna Bella Geiger”, segmento da mostra que apresenta um vídeo inédito e três obras da série de cartografia (duas gravuras e uma caixa objeto) da artista.
Influenciada pelo seu casamento com o renomado geógrafo brasileiro Pedro Geiger, Anna Bella Geiger desenvolveu um trabalho único com mapas, pelos quais é conhecida no mundo todo. E não poderia deixar de estar nesta exposição que oferece ao espectador tantas raridades da cartografia.
“Baseada nos ‘ingredientes’ comuns a todos os mapas como projeção, escala, generalização, procuro, ou através do uso deliberado de distorções, ou por inserções de textos, obter significados cujo resultado é diverso ao do uso comum do mapa. Intenciono com isso criar um espaço representativo (suporte), para uma reflexão sobre o sistema de arte e seu circuito, mais especificamente no nosso contexto. O mapa é quem determina o local da ação. Tenho utilizado mais frequentemente duas representações, a de cartogramas de áreas contiguas – os mapas topológicos, e a tradicional projeção Mercator. Os territórios escolhidos são o mundo (Mapa-Mundi), a América Latina e o Brasil. O processo de informação desse trabalho depende, para a sua eficácia, de um esforço entre o leitor e o autor, isto é, do papel ativo de ambas as partes”, contextualiza a artista.
Mapa de Jeronimo Marini – Foto: divulgação
Com curadoria de Paulo Manoel Lenz Cesar Protasio e consultoria do geógrafo André Alvarenga, Brasil no [Centro do] Mapa traz tesouros da cartografia, como a Carta Rogeriana, que marca o período de transição entre a fase em que o mediterrâneo era dominado por muçulmanos e a retomada por cristãos europeus, o Mapa de Ebstorf, o maior mapa do período medieval que tem o Oriente no topo. Tem o corpo de Cristo em cruz como Rosa dos Ventos (indicando as direções norte, sul, leste e oeste). O mapa apresenta cenas bíblicas e tem Jerusalém no centro.
A mostra também traz como destaque o Mapa Genovês que, com a forma de Arca de Noé, marca o fim do período medieval e entrada na Renascença. É dos primeiros a apontar a possibilidade de se chegar às Índias pelo contorno da África. O Mapa de Johannes Scnitzer, um exemplar da redescoberta do livro Geographia de Ptolomeu (diretor da Biblioteca de Alexandria no século 2 d.C.), é outra preciosidade que a exposição irá ambientar. O livro de Ptolomeu era um guia de como se referenciar as localidades na terra pelos astros no céu e também um guia para a produção de projeções diferentes.
A exposição que entra em cartaz no CCBB RJ às vésperas do dia em que se comemora a descoberta do Brasil, apresenta o Planisfério de Juan de la Cosa, o primeiro mapa a mostrar o continente americano. Seu criador viajou com Cristóvão Colombo. Destaca também o Mapa de Alberto Cantino, de 1502, o primeiro a mostrar o litoral brasileiro, chamada no mapa de Vera Cruz. O mapa feito pelo cartógrafo português foi contrabandeado por um pirata italiano.
Mapa Alberto Cantino – Foto: divulgação
O espectador também irá conhecer o Mapa de Jerônimo Marini, de 1511, o primeiro a trazer o nome Brasil, o Terra Brasilis, de Lopo Homem e Antonio de Holanda, de 1519, que mostra um delineamento completo da costa brasileira, apresenta a embocadura do Rio da Prata e representa os índios cortando madeira (pau-brasil), e muitas outras raridades.
A cartografia parece muito complexa e direcionada aos especialistas, mas isto é um forte engano. A exposição que fica no CCBB RJ até 30 de junho ratifica que seus referenciais são essenciais para praticamente todas as áreas. Dos mapas feitos à mão aos sistemas tecnológicos atuais, a necessidade de saber sobre cartografia é mais do que interessante, é necessário.
Fará também parte da programação da exposição Brasil no [Centro do] Mapa um seminário de três dias sobre o rico tema.