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MAC Niterói: exposição de Antonio Kuschnir retrata ansiedade, tecnologia e pandemia

Antonio Kuschnir – Foto: Divulgação

Antonio Kuschnir – artista mais jovem a ocupar o Salão Principal do MAC Niterói – abre, no dia 30 de abril, a partir das 10h, a exposição “Choro”, com curadoria de Victor Valery. A mostra é composta por 73 telas, que refletem sobre o poder de julgamento no mundo digital.

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Para preparar o trabalho, o artista levou em conta o uso excessivo das redes sociais, como gerador de ansiedade e insegurança aos seus usuários, já que, com a pandemia, o contato físico interpessoal precisou ser reduzido.

Kuschnir partiu da premissa de que o necessário distanciamento social intensifica aflições já presentes na relação da sociedade contemporânea com a tecnologia. A partir daí, ele aprofunda suas reflexões sobre o mundo atual e presenteia o público com uma série de pinturas que ecoam sobre pandemia, redes sociais e ansiedade.

O choro e o grito aparecem nas telas, em diálogo com monitores de computador, celulares e espadas – objetos ambíguos de gozo, poder, tortura e morte. O objetivo do artista é que as pinturas, que vão de pequena escala a grandes painéis, operem como dispositivos de catarse que possam permitir o confronto, a assimilação e a cura de feridas estruturais, sociais e afetivas.

Antonio Kuschnir – Foto: Divulgação

Segundo o artista, “as mídias digitais, quando utilizadas de forma mal intencionadas, podem propagar o terror e a desinformação, por meio de fake news”. Então, em “Choro” são retratados objetos do cotidiano, como o celular, que está cada vez mais incorporado ao dia a dia das pessoas, como um veículo de medo e angústia.

Como em uma cena da Tragédia clássica, as pinturas trazem a dor em seu ápice. O “choro”, neste sentido, pode ser lido tanto quanto substantivo quanto o verbo no ato do artista chorar, em “eu choro”. Ativa-se uma polissemia: de início, o desconforto; em outro plano, o convite à reflexão e identificação com representações pictóricas e experiências sociais mais amplas.

Segundo Valery, curador, “a elaboração, conclusão e comercialização da série ‘Choro’, de Antonio Kuschnir, é uma vitória para o artista, que não parou um segundo de estudar e aperfeiçoar seu material para apresentá-lo ao mundo retratando sentimentos em um período tão difícil para todos”. E completa: “a expressividade dos objetos do cotidiano e a violência nas pinturas são alegorias para mostrar o quão fácil é julgar o outro e ser julgado nos dias de hoje”, simbolizando que a tecnologia quando mal direcionada pode ser utilizada como ferramenta de disputa de poder e dominação nas relações contemporâneas.

De acordo com Victor De Wolf, diretor do MAC Niterói, “a pintura de Kuschnir é cheia de energia e com boas referências históricas, porém sempre atualizadas para o contemporâneo”.

Além de experiência de autoconhecimento, a exposição convida o visitante a refletir sobre a conjuntura política, a desigualdade e os padrões sociais, encarando suas feridas para transformá-las. O artista traz luz à importância da arte como meio de questionamento e revolução na sociedade – e como objetos do cotidiano podem afetar tanto positiva quanto negativamente as relações com pessoas e com o mundo.

MAC Niterói – Mirante da Boa Viagem, s/nº, Boa Viagem, Niterói, RJ.

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