Carmem Miranda, 1941 – Foto: Divulgação
A mostra Ecos de 1922 – Modernismo no Cinema Brasileiro chega ao CCBB do Rio de Janeiro para provocar o presente e projetar novos futuros. Com patrocínio do Banco do Brasil e incentivo da Lei Rouanet, a maior retrospectiva cinematográfica já feita sobre o tema, em cartaz até o dia 11 de abril, conta com filmes raros em 35mm e 16mm, e aborda o centenário da Semana de Arte Moderna de forma atual, trazendo um pensamento crítico sobre seu legado na cultura e, especialmente, no cinema brasileiro.
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São aproximadamente 50 filmes, entre longas, médias e curtas-metragens, num vasto recorte geográfico, temporal e conceitual, que vai de 1922 a 2021, de Roraima ao Paraná. Com curadoria de Aïcha Barat, Diogo Cavour e Feiga Fiszon, as obras escolhidas são atravessadas pelo pensamento dos intelectuais paulistas, como Oswald de Andrade e Mário de Andrade, mas também pensadores e artistas indígenas contemporâneos, como Jaider Esbell e Denilson Baniwa.
“O cinema modernista propriamente dito não existe. Não há um cinema contemporâneo a 1922 feito nos moldes modernistas ou que se reivindique como tal. Talvez o maior impasse de uma mostra de cinema que aborda os ecos de 1922 seja justamente que não houve modernismo per se no cinema. Longe de querer fechar um recorte numa única abordagem do tema, mas o mais importante é que a mostra chega para lançar questionamentos, abrir frentes, disparar provocações”, explica a curadora Aïcha.
Clássicos em 35mm e cópias raras
Serão exibidos em película 35mm clássicos do cinema brasileiro, como os curtas da série “Brasilianas”, de Humberto Mauro (1945–1956), “Limite” (Mário Peixoto, 1931) em sessão com acompanhamento sonoro ao vivo do grupo DEDO no dia 10 de abril, às 18h, “Terra em Transe” (Glauber Rocha, 1967), “Como era gostoso meu francês” (Nelson Pereira dos Santos, 1971), “Ladrões de Cinema” (Fernando Coni Campos, 1977), e “Tudo é Brasil” (Rogério Sganzerla, 1997). Já em 16mm, alguns destaques são “Iracema, uma transa amazônica” (Jorge Bodanzky e Orlando Senna, 1974) e “Mato eles?” (Sergio Bianchi, 1983).
Filmes raros, em cópias digitais especiais, também merecem destaque, como é o caso dos longas “Orgia ou O homem que deu cria” (João Silvério Trevisan,1970), “Mangue-bangue”, (Neville de Almeida, 1971), “A$$untina das Amérikas” (Luiz Rosemberg, 1976) e “Um filme 100% brazileiro” (José Sette, 1985). É também o caso dos curtas “O ataque das araras” (Jairo Ferreira,1969), “Bárbaro e nosso – Imagens para Oswald de Andrade” (Márcio Souza, 1969), “Herói póstumo da província” (Rudá de Andrade, 1973), “Alma no olho” (Zózimo Bulbul, 1974), “Há terra!” (Ana Vaz, 2016) e “Apiyemiyekî?” (Ana Vaz, 2019).
“Podemos reconhecer esses ecos cinematográficos em diversas adaptações literárias e em cinebiografias de artistas modernistas, mas acima de tudo há uma ligação conceitual e uma vontade de experimentar novas formas, de romper com a tradição conservadora e colonial, de achar outras chaves para pensar o Brasil”, afirma o curador Cavour.
Ecos de 1922 conta ainda com uma seleção de filmes “oswaldianos” de Rogério Sganzerla e de Júlio Bressane, como “Sem essa, Aranha” (Rogério Sganzerla, 1978), “Tabu” (Júlio Bressane, 1982), “Miramar” (Júlio Bressane, 1997) e “Tudo é Brasil” (Rogério Sganzerla, 1997), além dos curtas “Perigo negro” (Rogério Sganzerla,1992), “Quem seria o feliz conviva de Isadora Duncan?” (Júlio Bressane,1992) e “Uma noite com Oswald” (Inácio Zatz e Ricardo Dias, 1992) – este último com exibição em 35mm.
Figura central na relação entre o modernismo e o cinema brasileiro, Joaquim Pedro de Andrade também terá destaque especial na mostra. Além da exibição dos longas “Macunaíma” (1969) e “O homem do pau-brasil” (1980), e dos curtas “O mestre de Apipucos” (1959) e “O poeta do Castelo” (1959) – filmes dedicados à obra e às ideias de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Gilberto Freyre e Manuel Bandeira, respectivamente, há ainda a exibição do média-metragem “O Aleijadinho” (1978). Vale ressaltar que todos os seus filmes foram restaurados recentemente e que a Ecos contará com cópias 35mm realizadas após restauro.
Catálogo-livro reúne textos inéditos, debates e releituras críticas
O catálogo-livro da Ecos conta com textos inéditos de Ruy Gardnier, Lorraine Mendes, Marília Rothier, Aline Leal, Tainá Cavalieri, Mateus Sanches e Juliano Gomes, além de textos já publicados de Jaider Esbell, Denilson Baniwa, Paulo Antonio Paranaguá, Pedro Duarte, Julierme Morais, Glauber Rocha e Paulo Emílio Salles Gomes. Ele traz, ainda, os Manifestos Modernistas de Oswald de Andrade, um texto de Mário de Andrade sobre o movimento e uma seleção de poemas, artes e propagandas publicadas nas revistas modernistas dos anos 20 (Klaxon e Antropofagia).
“Tivemos a preocupação de unir pesquisadores, iniciantes e consagrados, com textos de caráter mais experimental e de intervenção. Ao longo do catálogo, além da pluralidade de visões e posições diante do modernismo, optamos por uma variedade de formas que, além dos textos corridos, incluem poemas, ensaio visual e obras artísticas”, explica Gabriel Martins da Silva, um dos organizadores do catálogo.
Para adquirir um dos cem exemplares impressos, será necessária a apresentação de quatro ingressos da mostra. A versão online estará disponível gratuitamente para download no site da Ecos e em bb.com.br/cultura.
Centro Cultural Banco do Brasil – Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro.