“Drive My Car” estreia no Brasil nesta quinta-feira – Foto: divulgação
Escrito sob a perspectiva da desilusão e do luto, “Drive My Car” fala sobre amor, desejo, culpa e a passagem do tempo em um drama pesado, mas que surpreende com uma mensagem de esperança. Os mesmos temas também são centrais na peça de Tchécov, “Tio Vânia”, que é trabalhada pelo filme em um enredo que entrelaça narrativas teatrais e cinematográficas.
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O longa japonês, dirigido por Ryusuke Hamaguchi, parece ser dividido em atos tal qual uma peça de teatro. E talvez por isso mesmo tenha três horas de duração, ele definitivamente não poupa tempo para mostrar as transformações dos personagens. Inspirado no conto de Haruki Murakami, o filme segue duas pessoas solitárias que dividem o luto e a culpa enquanto enfrentam o passado.
Na história, um ator que já atingiu o auge de sua carreira é convidado a dirigir a montagem de “Tio Vânia”, do dramaturgo e escritor russo Anton Tchécov, em um festival de teatro em Hiroshima. Acostumado a repassar suas falas no carro, Yusuke Kafuku pede para ficar a uma hora de distância do local dos ensaios, sem saber que durante sua estadia não poderá dirigir.
Still de “Drive My Car” – Foto: divulgação
O antigo carro em que se desloca é conduzido pela discreta jovem Misaki, e é lá que ambos enfrentam seus sentimentos reprimidos. Enquanto ele reflete sobre a morte inesperada de sua mulher e os segredos que ela guardava, a motorista tem seus pensamentos ocupados pela mãe, responsável por lhe ensinar a dirigir, e que também já se foi.
Em um processo lento de abertura e descoberta, o filme parece seguir o ritmo da vida real sem deixar com que o espectador perca o interesse. Com um roteiro bem construído, quem vê os primeiros 30 minutos pode achar que sabe tudo o que vai acontecer depois, mas continuar assistindo leva a uma deliciosa surpresa. Ou algumas delas, já que os momentos inesperados do filme são vários.
Para isso, também é preciso assistir à obra sob diferentes perspectivas, vasculhando suas camadas. No plano de fundo da história de dor e culpa dos protagonistas, “Drive My Car” fala sobre a diversidade de linguagens. No enredo, o diferencial de Kafuko como profissional é a técnica de atuação, que inclui diferentes idiomas em um mesmo espetáculo: os personagens falam japonês, inglês, mandarim, coreado e libras enquanto uma tela apresenta legendas em cada língua.
O longa japonês já ganhou diversos prêmios – Foto: divulgação
Nesse contexto, porém, a linguagem se sobressai ao idioma e independente das legendas, ou mesmo no silêncio, o foco do filme se torna como cada personagem lida e fala sobre sua bagagem emocional. E por mais que a peça se proponha a ser universal a partir da diversidade de línguas, a mensagem final do filme parece ser que a única linguagem verdadeiramente universal é o amor.
Um dos favoritos ao Oscar com quatro indicações, “Drive My Car” já vem sendo reconhecido desde sua premiére no festival de Cannes em 2021, onde ganhou como melhor roteiro adaptado e melhor filme da crítica internacional e júri ecuménico. No Critic’s Choice Awards, no BAFTA e no Globo de Ouro, o diretor levou a estatueta de melhor filme estrangeiro.
Embora o filme tenha poucas chances de repetir o feito de “Parasita” e levar o principal prêmio do Oscar, ele tem grandes chances em outras categorias e Ryusuke Hamaguchi não deve sair de mãos abanando do evento. No Brasil, o filme estreia nos cinemas nesta quinta-feira (17.03) e vale a pena assistir suas três horas de duração.