Camila Queiroz em cena de “De Volta aos 15” – Foto: Divulgação
Por Maiara Tissi
Baseada no livro de Bruna Vieira, “De Volta aos 15” chegou à Netflix já roubando corações nostálgicos com um enredo leve e divertido para públicos de todas as idades. A série de apenas seis capítulos é uma produção nacional da plataforma de streaming que conta a história de Anita, uma mulher de 30 anos que quer dar um “Ctrl+Z” na sua vida.
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Quando retorna à sua cidade natal para o casamento de sua irmã, Anita se depara com um antigo confidente: Seu Floguinho. Sim, aquele blog de fotos que foi sucesso nos anos 2000. Como em um clique inesperado, Anita embarca, assim, em uma máquina do tempo que a leva a realidade de seus 15 anos.
A atriz Camila Queiroz interpreta a versão atual de Anita, ao lado de nomes como Bruno Montaleone, Mariana Rios, Gabriel Stauffer e Alice Marcone, enquanto o espaço-tempo de 2006 é habitado por um grupo de artistas carismáticos e talentosos que inclui Klara Castanho, João Guilherme Ávila, Pedro Vinícius e Caio Cabral.
Para compartilhar um pouco mais sobre a viagem no tempo que a nova série nacional da Netflix nos convida a fazer, conversamos com Camila. Ela fala sobre a experiência por trás da produção de “De Volta aos 15” e o que pode acontecer em uma segunda e, quem sabe, até terceira temporada.
Como você definiria a Anita?
Desde os 15 anos, a Anita não cabe ali naquele lugar. O que ela quer não cabe naquela casa, não cabe naquela cidade do interior, é muito maior. Ela precisa da cidade grande, ela precisa respirar e correr atrás de outras coisas. Eu acho que a cabeça dela é muito mais aberta do que o povo de Imperatriz [cidade fictícia da série]. Isso está no texto.
Quando você tem 15 anos, fica projetando seus 30. Também tem uma pressão da sociedade de que com 30 anos você tem que estar casada, com filho, bem-sucedida na profissão e realizada com casa própria. E não é muito bem o que acontece hoje em dia com a maioria dos jovens de 30 anos. Porque somos jovens. Vou defender essa galera. Somos cringe, mas somos jovens
A Anita descobre como voltar no tempo e com isso ela tenta modificar alguns aspectos do próprio presente. Toda vez que volta para o presente, ela tem uma surpresa. Só que a Anita é egoísta, impulsiva… ariana. Anita é ariana! Ela pensa nos próprios benefícios que voltar no tempo pode trazer.
Como você recebeu a informação de que dividiria a mesma personagem com a Maisa?
Na mesma hora eu mandei uma mensagem para ela. A gente surtou no telefone. E ficamos pensando em como unificar essa personagem. Porque uma coisa é você assistir a uma história que tem uma passagem de tempo e pronto, e aí você conhece a personagem jovem e a personagem adulta. Outra coisa é ficar voltando no tempo e no mesmo capítulo estamos ali, nós duas, representando a mesma personagem. Com certeza vai ter uma comparação.
Então, a gente começou a pesquisar coisas juntas e assistir as mesmas coisas, para a gente poder se identificar, se espelhar. Era muito importante que a gente se espelhasse, já que fisicamente a gente não é tão parecida. A primeira coisa foi o cabelo, os cachos, claro, com toda essa caracterização maravilhosa.
O cabelo é um fator primordial para esse espelhamento…
É a grande chave. Quando eu entrava nesse cabelo era quando eu virava a Anita. Eram duas horas para fazer esse cabelo acontecer. A gente ainda colocava umas faixas para deixar o cabelo mais comprido, mais cheio também.
Maisa e eu tivemos poucos encontros, pessoalmente, por causa da pandemia. Então, a gente aproveitava ao máximo essas horas juntas para descobrir como era o comportamento da Anita, tipo como ela se senta, como ela usa o computador, como ela come biscoito. Porque tem essa coisa do biscoito, que é um companheiro dela, está sempre na bolsa dela. Então, trabalhamos em como ela come esse biscoito, como ela amarra o cadarço do All Star, como ela dança.
E também tem uma coisa óbvia que é essa passagem de tempo, em que com 15 anos ela tem comportamentos de alguém de 30. A gente também permitiu que isso acontecesse, o amadurecimento dos comportamentos. Mas a essência dela a gente tenta manter muito parecida, com alguns tiques, os anéis continuam os mesmos, permanecer com a mesma linguagem no figurino. Isso não se alterou tanto com os anos. Algumas vezes, eu fazia a cena dela e ela fazia minha cena para a gente achar esse meio termo das duas. Lemos muito os textos juntas e ficamos trocando figurinhas.
A série expande a relação da Anita com a família. Como você enxerga esse aspecto, que é central na série?
Tem essa relação dela com a mãe, que é difícil, porque a Anita não é a filha perfeita que a mãe sempre sonhou. Essa é Luiza, não é? A Luiza vai seguindo o script da família feliz e a Anita, não. A Luiza se contenta com aquela vida ali e essa é a maior diferença das duas irmãs. A mãe tenta colocar a Anita dentro dessa caixinha, dessa bolha perfeita da família feliz. Esse é o grande conflito das duas. Isso fica muito claro principalmente na cena do casamento, quando elas já perderam o pai, e a mãe diz no microfone, na frente da família toda, de todos os amigos, que a Luiza sempre foi a filha preferida do pai. Isso doeria em qualquer pessoa. Por mais que você saiba disso – e eu acho que a Anita tem consciência -, é difícil ouvir.
Por outro lado, também tem uma coisa muito bonita nessa história de voltar ao passado, que é esse reencontro dela com o pai. Para se despedir dele direito ou para viver mais algumas experiências com ele. Ela tem essa chance de reconhecer a importância dos pequenos momentos, pequenas coisas, que eles ainda têm tempo de viver juntos. Então, ela aproveita isso para para curtir mais ele, para dizer o que ela sempre quis, e acaba escutando coisas que ela também nunca tinha ouvido do pai. Ela cria uma relação nova com ele a partir dessa volta, que é uma das voltas mais importantes no tempo.
Camila Queiroz em cena de “De Volta aos 15” – Foto: Reprodução/Instagram/@camilaqueiroz
Você já tinha lido o livro da Bruna Vieira quando entrou para o projeto?
Comecei a ler o livro incrível da Bruna quando a gente pegou o roteiro. Só que, ao mesmo tempo, também não podia ficar presa ao livro, porque a série traz muitas diferenças, inclusive Cesar/Camila, que é um brilho a mais que a gente tem na história [da série].
Outra mudança é que a série é mais focada nos 15 anos da Anita…
A gente precisava contar quem são essas pessoas, de onde vieram, para justificar, depois, essas pessoas aos 30 anos. Então, realmente, essa primeira temporada é bem focada nos 15 – e quem sabe numa possível segunda [temporada] a gente não fale um pouquinho mais dos 30 anos dessa galera? A gente até brinca, se tiver uma segunda temporada, que vamos mudar o nome da série para “De Volta aos Cringe”.
Eu quero ver quem esses personagens viraram, quem eles são agora, depois de tantas transformações. Estou curiosa para saber, porque a Bruna já está escrevendo o terceiro livro. Podemos ter história para a terceira temporada, inclusive.
Quais elementos de época te fizeram viajar de volta no tempo?
Tudo! Quando eu comecei a pesquisar com a Maisa, eu falava “Maisa, isso é a minha infância. Você tem que honrar a minha infância, Maisa! Olha o disquete!”. A gente tinha que fazer aula de informática para saber ligar um computador, para escrever um texto no Word. Hoje a criançada nasce mexendo no celular.
Também tinha o discman. E as músicas! Quando a gente começou a escutar as playlists, eu fui lembrando da minha infância na escola, dos meus primeiros acessos ao computador. Eu entrava [na internet] uma vez por semana aos domingos na casa da minha prima, uma hora por dia. E tinha os joguinhos na internet, o MSN, o Orkut, que a gente também foi aprendendo a mexer nisso, a tirar foto com câmera digital.
A Anita começa a ter essa paixão pela fotografia com uma câmera digital pequenininha que todo mundo tinha naquela época. Eu lembro que a nossa primeira câmera digital em casa foi da minha irmã. E era uma briga para ela deixar eu usar, porque ela achava que eu ia quebrar.
Camila Queiroz em cena de “De Volta aos 15” – Foto: Reprodução/Instagram/@camilaqueiroz
E o figurino?
Do figurino, eu me lembro da Klara [Castanho, intérprete da Carol] quando foi provar a calça cintura baixa, e eu dizia “Não me pergunte o porquê, mas a gente usou isso”. Calça de cintura baixa é um crime. Aquilo deformou tanto o corpo da gente. Por que as nossas mães deixavam a gente usar calças de cintura baixa, gente? Dá um medo disso voltar.
Tem também as camisetas de banda! Eu vendia! Fazia camisetas da Avril Lavigne para vender. Eu era louca pela Avril Lavigne. E eu pintava o cabelo para ficar parecida, fazia mechas coloridas meio César. Então, tem muita nostalgia em tudo, mas principalmente no figurino.
Eu ganhei meu primeiro All Star – rosa, coincidentemente, só que era cano baixo – quando eu tinha uns 13 ou 14 anos. E eu não o usava porque achava que meu pé ficava enorme. Porque eu sempre fui a mais alta da turma e já era zuada. E deixei ele guardado no armário por uns três, quatro anos. Quando eu redescobri o All Star, fiquei apaixonada e usei até perder a cor.
Se você pudesse voltar no tempo, o que faria de diferente?
Eu pediria calma para mim mesma quando era mais jovem. Todo mundo tem suas inseguranças, mas eu era muito insegura, tinha muito medo de dizer não e magoar os outros. Então, às vezes acabava fazendo o que não queria só para agradar o outro.
Eu voltaria um dia na minha infância, porque a minha infância foi perfeita, lúdica. Gostaria de voltar um dia para lá para não ter nenhum tipo de preocupação, não me importar com julgamentos.
Ou então voltaria para 2016, quando o meu pai começou a ficar doente. Eu teria insistido mais. Meu pai escondeu que estava doente. Se eu pudesse perceber isso antes… não sei. Encontraria com ele de novo para ficar mais tempo com ele e tentar fazer com que ele ficasse mais tempo com a gente aqui também.