Foto: Manoela Lainetti
Um tema de extrema relevância ressurge na cena artística e cultural paulista em um momento em que as questões relacionadas às causas indígenas pedem uma ampla discussão na sociedade. Em um cenário em que o assunto é deliberadamente negligenciado por aqueles que deveriam estar à frente na defesa dos interesses dos povos originários e das etnias ancestrais do País, o artista Lumumba Afroindígena retoma sua exposição “Imersão”, quatro anos depois de sua primeira montagem, que ocorreu em 2018 na Matilha Cultural, na capital paulista, levando-a para a Casa de Cultura Tainã, em Campinas (SP), onde poderá ser vista pelo público entre 18 de março e 3 de abril.
SIGA O RG NO INSTAGRAM
De acordo com o artista, retomar essa mostra tem um significado especial. “Para mim, é de grande importância revisitar a temática indígena neste momento, ainda mais quando se sabe que nesses últimos anos o assunto vem sendo tratado na esfera federal com total desrespeito”, afirma.
Foto: Manoela Lainetti
Sobre esse hiato entre a primeira exibição das obras produzidas e agora, diz achar lamentável que tenha ficado engavetada por tanto tempo. “Por abordar uma questão tão relevante, a exposição deveria ter circulado nesse período por escolas e espaços culturais, a exemplo do que estamos fazendo, levando ‘Imersão” para essa instituição de Campinas que, desde 1989, atua em parceria com comunidades quilombolas e territórios tradicionais promovendo cultura, tecnologia e mantendo uma permanente rede de comunicação entre quilombos e comunidades indígenas de todo o País”, afirma.
A ida para a Casa de Cultura Tainã ocorre, de acordo com a produtora Rita Teles, do Núcleo Coletivo de Artes, pelo fato de “Imersão” ter sido contemplada por um edital do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo, o Proac, promovido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, que acolheu a proposta de fomentar a instalação da exposição em Campinas e Ilhabela, com permanência de duas semanas em cada cidade.
Além da mostra em si, estão previstos workshops sobre grafismo indígena e palestras que pretendem traçar um paralelo entre a linguagem estética do artista norte-americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988) e as expressões culturais do Xingu. Também serão promovidas rodas de conversa com convidados e público para discussão de questões relacionadas às temáticas indígena, quilombola e preta.
Foto: Manoela Lainetti
Em relação à escolha da Casa de Cultura Tainã, Rita afirma que se trata de um local de resistência negra localizado na Vila Padre Manoel da Nóbrega, uma área de concentração populacional de aproximadamente 50 mil habitantes, abrigando grande parte da população negra do município.
Para Lumumba, levar suas obras para Campinas ainda tem outro significado: “Foi a última cidade brasileira a abolir o comércio de braços humanos, a escravatura”. Quanto à instituição que acolherá a mostra, afirma, em sintonia com Rita, que é composta por pessoas que acreditam que, por variadas ações, é possível contribuir para mudar o mundo. Uma postura, segundo ele, que se alinha ao propósito de seu trabalho: curar o planeta por meio da arte.
Foto: Manoela Lainetti
Sobre a importância de acolher “Imersão” e o quanto esta exposição poderá agregar à Casa de Cultura Tainã, seu coordenador, TC Silva, diz: “Sem dúvida, é uma honra muito grande para nós receber Lumumba e sua obra, que, além da beleza estética e realista, traduz e comunica valores e símbolos das culturas, tradições e identidades afro-indígenas”. Ainda segundo Silva, ecoar essas identidades em todo o país sempre fez parte da missão desse espaço de luta e militância e tratar dessa temática étnica e racial na periferia de uma cidade como Campinas agrega, de acordo com ele, um sentido ainda maior.