Cena de “Banana is my bussiness” – Foto: Divulgação
A mostra “Ecos de 1922 – Modernismo no Cinema Brasileiro” chega ao CCBB do Rio de Janeiro, entre os dias 10 de março e 11 de abril, para provocar o presente e projetar novos futuros. Com patrocínio do Banco do Brasil e incentivo da Lei Rouanet, a maior retrospectiva cinematográfica já feita sobre o tema conta com filmes raros em 35mm e 16mm, e aborda o centenário da Semana de Arte Moderna de forma atual, trazendo um pensamento crítico sobre seu legado na cultura e, especialmente, no cinema brasileiro.
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São aproximadamente 50 filmes, entre longas, médias e curtas-metragens, num vasto recorte geográfico, temporal e conceitual, que vai de 1922 a 2021, de Roraima ao Paraná.
Com curadoria de Aïcha Barat, Diogo Cavour e Feiga Fiszon, as obras escolhidas são atravessadas pelo pensamento dos intelectuais paulistas, como Oswald de Andrade e Mário de Andrade, mas também pensadores e artistas indígenas contemporâneos, como Jaider Esbell e Denilson Baniwa.
O evento também conta com a mesa online “Espectros de 22 (1822/1922/2022) na cultura e na arte brasileira”, com o artista Denilson Baniwa e a curadora Clarissa Diniz, sob mediação da pesquisadora Lorraine Mendes, e com o debate “Por onde anda 1922? O cinema brasileiro devorando e sendo devorado”, com os críticos Bernardo Oliveira, Fred Coelho e Juliano Gomes. As discussões acontecem nos dias 24 e 27 de março, respectivamente.
“O cinema modernista propriamente dito não existe. Não há um cinema contemporâneo a 1922 feito nos moldes modernistas ou que se reivindique como tal. Talvez o maior impasse de uma mostra de cinema que aborda os ecos de 1922 seja justamente que não houve modernismo per se no cinema. Longe de querer fechar um recorte numa única abordagem do tema, mas o mais importante é que a mostra chega para lançar questionamentos, abrir frentes, disparar provocações”, explica a curadora Aïcha Barat.
Cartaz de “Travessia” – Foto: Divulgação
Serão exibidos em película 35mm clássicos do cinema brasileiro, como os curtas da série “Brasilianas”, de Humberto Mauro, “Limite” *Mario Peixoto, 1931) em sessão musical ao vivo com Tomás Improta, “Terra em transe” (Glauber Rocha, 1967), “Como era gostoso meu francês” (Nelson Pereira dos Santos, 1971), “Ladrões de cinema” (Fernando Coni Campos, 1977) e “Tudo é Brasil” (Rogério Sganzerla, 1977).
Já em 16mm, alguns destaques são “Iracema, uma transa amazônica” (Jorge Bodanzky e Orlando Senna, 1974) e “Mato eles?” (Sergio Bianchi, 1983).
Filmes raros, em cópias digitais especiais, também merecem destaque, como é o caso dos longas “Orgia” ou “O homem que deu cria” (João Silvério Trevisan, 1970), “Mangue-bangue” (Neville de Almeida, 1971), “A$$untina das Amérikas” (Luiz Rosemberg, 1976) e “Um filme 100% brazileiro” (José Sette, 1985).
“Podemos reconhecer esses ecos cinematográficos em diversas adaptações literárias e em cinebiografias de artistas modernistas, mas acima de tudo há uma ligação conceitual e uma vontade de experimentar novas formas, de romper com a tradição conservadora e colonial, de achar outras chaves para pensar o Brasil”, afirma o curador Diogo Cavour.
“Ecos de 1922” conta ainda com uma seleção de filmes “oswaldianos” de Rogério Sganzerla e de Júlio Bressane, como “Sem essa, Aranha” (Rogério Sganzerla, 1978), “Tabu” (Júlio Bressane, 1982), “Miramar” (Júlio Bressane, 1997) e “Tudo é Brasil” (Rogério Sganzerla, 1997), além dos curtas “Perigo ne-gro” (Rogério Sganzerla, 1992), “Quem seria o feliz conviva de Isadora Duncan?” (Júlio Bressane, 1992) e “Uma noite com Oswald” (Inácio Zatz e Ricardo Dias, 1992) – este último com exibição de 35mm.
Figura central na relação entre o modernismo e o cinema brasileiro, Joaquim Pedro de Andrade também terá destaque especial na mostra. Vale ressaltar que todos os seus filmes foram restaurados recentemente e que a Ecos contará com cópias 35mm realizadas após restauro.
Filmes contemporâneos sob vieses indígena, negro e periférico
A mostra também apresenta uma seleção de filmes contemporâneos que abordam temáticas anunciadas pela produção modernista a partir de outros vieses: indígena, negro e periférico. Entre os filmes que integram a programação, estão: “Branco sai, preto fica” (Adirley Queirós, 2012), “Grin” (Isael Ma- xakali Rolney Freitas e Sueli Maxakali, 2016), “Travessia” (Safira Moreira, 2017), “Por onde anda Makunaíma?” (Rodrigo Séllos, 2020) e “Nũhũ Yãg Mũ Yõg Hãm: essa terra é nossa!” (Carolina Canguçu, Isael Maxakali, Roberto Romero e Sueli Maxakali, 2020) serão acompanhados por uma seleção de “filmes de Internet”, disponíveis nas mídias sociais e no site do evento.
Seguindo o fluxo de desenhar novos futuros e atualizar o pensamento crítico a partir das construções culturais vivenciadas pós 1922, a identidade visual da mostra é baseada na obra “Ficções coloniais (ou finjam que não estou aqui)”, do artista indígena Denilson Baniwa.
Concebida em 2021, essa série de colagens pode ser vista em sua integralidade nas páginas do catálogo-livro da mostra, acompanhada também de um texto do autor. Com esta obra, Baniwa ensaia um direito de resposta ao imaginário indígena forjado por fotógrafos e cineastas brancos ao longo da história.
“De 1922 para cá, ao longo destes 100 anos, a Semana de Arte Moderna foi se estabelecendo no nosso imaginário como o ponto de virada e renovação das artes e do pensamento brasileiro. Mais do que o legado direto deixado pelos intelectuais e artistas ligados à Semana, a mostra ‘Ecos de 1922’ pretende sondar as mínimas e as máximas reverberações da atitude modernista naquele que talvez seja o maior símbolo da modernidade: o cinema. De que formas nós, brasileiros do século XXI, plurais e diversos como somos, deglutimos nossa apetitosa produção audiovisual?”, complementa a curadora Feiga Fiszon.
Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro.
Informações: (21) 3808-2020
Data: 10 de março a 11 de abril
Entrada: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)