Alice Caymmi retoma shows e vai comemorar 10 anos de carreira
Alice Caymmi – Foto: Fernando Tomaz
Cantora, compositora e gateira [sim, ela tem quatro gatos – Augusto, Sônia, Sasha e Quincas]. Alice Caymmi vem de uma família que provavelmente já daria abertura a sua carreira como artista. Neta do mestre Dorival Caymmi, filha de Danilo e Simone Caymmi e sobrinha de Nana e Dori Caymmi, o peso do nome não influenciou sua escolha, mas, com certeza, deu base a sua arte.
Apesar de cantar desde muito pequena – ela conta que cantava de tudo, de música de propaganda a temas de novelas, de música de videogame a coisas que via na televisão -, ela demorou para optar pela arte, isso aconteceu apenas na vida adulta. Sua primeira escolha no vestibular foi direito, que cursou dois anos e partiu para a faculdade de teatro. Na época da universidade, já começou a produzir seu primeiro disco “Alice Caymmi”, de 2012.
A pisciana de 31 anos tem cinco discos [“Alice Caymmi”, “Rainha dos Raios”, “Alice”, “Electra” e “Imaculada”] e se prepara agora para retomar os shows interrompidos pela pandemia de Covid-19. No dia 17 de março ela se apresenta no Studio SP, em show de seu mais recente álbum, “Imaculada” (2021), além de revisitar suas músicas mais pedidas. Se você nunca foi a um show de Alice, esta é uma ótima oportunidade para ver o que ela faz com a voz no palco.
Feminista, diz que prefere provocação a letras pedagógicas quando o assunto é política. Aposta no deboche e na interpretação bem-humorada. Sobre a atual situação da Rússia, que invadiu a Ucrânia, avalia como um absurdo total. “Eu achei que a gente já estava além disso, desse tipo de conflito. E agora eu fico com medo, né, por causa desse presidente presepeiro que a gente tem e dessa conjunção.”
Leia a seguir o papo que RG levou com Alice.
Como você se descobre cantora, o que não deve ter sido tarefa difícil vindo da família que vem?
Desde pequena eu cantava de tudo, propaganda, música do videogame, abertura de novela, cantava um monte coisas que eu gostava de ver na TV. Aí comecei a aprender umas coisas sozinha, tipo ópera, entendendo minha voz, e vi que eu tinha uma voz muito peculiar, muito diferente, que eu podia usar para várias coisas, e vi que eu fazia isso muito bem. Mas decidir que isso seria a minha profissão é uma segunda parte, quando eu fiquei adulta. Eu tinha que decidir o vestibular e tal e acabei indo fazer direito porque fiquei com medo de ser artista, de não ter uma perspectiva, e também de me sentir obrigada por conta da família.
Alice Caymmi – Foto: Fernando Tomaz
Quando eu estava no segundo ano de direito, meu avô morreu. E eu me lembrei dele falando assim: “O que você está estudando, minha filha?” E eu falei, direito. Aí ele riu e disse que também tinha estudado direito. Eu saí da faculdade, tranquei, e ninguém ficou chocado, todo mundo entendeu, eu tinha 19 anos. Depois disso eu fui cursar teatro e paralelamente começo a produzir meu primeiro disco [“Alice Caymmi]. Mais para frente, quando eu estava mais madura nos meus estudos, produzi o “Rainha dos Raios”, ainda na faculdade de teatro.
Quem mais influenciou sua carreira?
Durante muito tempo eu tive referência só da MPB, sobretudo na minha infância. Também Michel Legrand, meu pai ouvia muito musicais franceses, salsa também, muita música meu pai me mostrava, mas eram coisas específicas. E eu gostava muito de ouvir ópera. Depois, na minha adolescência eu ouvia muito Nirvana, comecei a escutar Björk, e fui mais para esse caminho da música experimental, estranha, tanto que o meu primeiro disco é mais experimental, mais “cabeção”. Aí, mais velha, eu fui ficando vidrada no Caetano [Veloso], entendendo as transformações dele, e David Bowie também, essa coisa do Bowie ter um personagem em cada disco me atrai muito.
Como é o seu processo de composição? Vem letra primeiro, melodia, como acontece?
Eu gosto de fazer parcerias, e aí acontece de tudo. Há pouco tempo eu aprendi a compor em cima de bases eletrônicas. Mas eu sozinha, com o violão, é voz e letra, essa é a ordem.
Dia 17 de março você canta em no Studio SP, o que podemos esperar? Vai cantar músicas do “Imaculada”?
Sim, é o show do “Imaculada”, mas eu revisto também todos as minhas música mais ouvidas, mais pedidas.
Pretende começar a fazer shows agora que a pandemia deu uma amenizada?
Sim, com certeza, graças a Deus agora deu uma amenizada e a gente vai poder voltar a trabalhar. E eu sou workaholic, então eu vou fazer show o máximo que eu puder.
Quais são os próximos projetos, vem disco pela frente ou vai trabalhar o “Imaculada”?
Eu vou trabalhar o Imaculada”, por conta da pandemia, mas este ano eu vou fazer dez anos de carreira. Então a gente está pensando em um projeto especial para comemorar. Revisitar algumas canções e fazer lançamentos legais ao longo do ano, de repetente, com participações especiais.
Como você se relaciona com moda, vê uma ligação com música?
Com certeza, eu acho que todo o movimento de uma época, o Zeitgeist, o contexto cultural de uma época leva moda, música e comportamento. Acho que fica muito claro o contexto de uma geração, como moda, música e comportamento, ao que ela veio. Acho a moda fundamental para a composição de tudo isso.
Alice Caymmi – Foto: Fernando Tomaz
Você pensa em moda para compor e para fazer shows, por exemplo?
Sim, eu tenho um stylist, o Victor Miranda, com quem tenho uma relação muito próxima, e a gente conversa muito sobre moda de hoje e de amanhã, e é tudo muito pesado, a roupa, o figurino.
Como lida com a beleza, tem algum ritual?
Eu tenho uma coisa com meu cabelo e com a pele. Eu gosto muito de skincare e de cuidar do meu cabelo, apesar de estar com ele sempre preso, porque eu morro de calor. A minha vaidade é essa, mais em cima da pele e do cabelo.
E do corpo? Como se mantém em forma?
Faço muita atividade física, adoro, malho três vezes por semana, caminha quilômetros, às vezes, eu corro um pouco também. Agora estou voltando a fazer dança.
Você se considera feminista? Acha importante inserir um discurso feministas nas suas músicas?
Sim, desde sempre. Eu coloco na música de forma bem-humorada, eu canto com deboche. Eu trabalho mais com a provocação do que com letras pedagógicas com relação à política.
Como você vê essa invasão da Rússia à Ucrânia?
Eu penso que é um absurdo isso, toda essa violência, eu achei que a gente já estava além disso, desse tipo de conflito. E agora eu fico com medo, né, por causa desse presidente presepeiro que a gente tem, e essa conjunção.
Como você avalia a posição de Jair Bolsonaro frente à arte e à cultura?
Eu acho que ele veio para acabar com a arte e a cultura, mesmo. A agenda dele era um desmonte da arte de uma forma geral. Ele veio com uma demonização dos artistas, a princípio, inventando uma coisa sobre a Lei Rouanet [ Lei Federal de Incentivo à Cultura], ele apontou a cultura como inimigo como qualquer líder fascista, como qualquer cultura mais autoritária. Então ele veio para desmontar mesmo, a gente já esperava isso.