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Ana Paula Arósio volta ao cinema com filme premiado e produzido ao longo de 20 anos

Pôster de “Primavera” – Foto: divulgação

Estar vivo ainda que apenas em memória. Essa é a máxima de “Primavera”, filme dirigido e roteirizado por Carlos Porto de Andrade Jr., que já ganhou diversos prêmios em festivais nacionais e internacionais. Com um elenco de peso, incluindo Ana Paula Arósio, Marília Gabriela e Ruth de Souza, a produção chama a atenção pelo caráter experimental, tendo levado 20 anos para ficar pronta. O lançamento nos cinemas está marcado para a próxima quinta-feira, 17 de fevereiro, veja o trailer aqui.

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O enredo conta a embaralhada história de uma família da qual muito se sabe mas pouco se tem certeza. Por meio de documentos antigos, fotografias pela metade, um livro enviesado e fragmentos da memória de um pai em seu leito de morte, o espectador é convidado a conhecer mais da árvore genealógica desses parentes. 

O ponto de partida do filme é a morte desse pai e sua urgência em transmitir as memórias de seus antepassados para o filho, narrador e personagem interpretado por Caco Ciocler. No entanto, o rosto do filho nunca chega a aparecer, afinal é uma história sobre o passado, não o presente. Uma narrativa sobre os mortos, não os vivos.

Still Filme “Primavera” – Foto: divulgação

Um inglês de reputação duvidosa é o primeiro ancestral a entrar em cena. Os livros, as cartas e os retratos ganham vida no filme para relatar a chegada do homem ao Brasil, no final do século 18. Entre elogios e críticas é possível adivinhar a personalidade do estrangeiro que, depois de alguma farra, finalmente se casa com uma senhora portuguesa, dona de um grande pedaço de terra. 

A partir daí a história se desenrola com os herdeiros deste casal, seus conflitos, amores e loucuras diante do pedaço de terra que possuem. Para além das histórias de cada personagem, suas atitudes de alguma forma refletem no terreno, o que, assim como no Brasil da época, era mais importante do que dinheiro. Tanto que os parentes que de alguma forma fizeram a quinta da família prosperar são mais bem lembrados que os outros, responsáveis por perdas significativas.

Still Filme “Primavera” – Foto: divulgação

Mais que um filme experimental, “Primavera” é artesanal, costura as lendas e os fatos que envolvem essa família fictícia, mas na qual todos conseguem encontrar alguma verossimilhança. Projeto pessoal do diretor, a obra é como um mosaico em que as filmagens se mesclam com imagens de diferentes arquivos, como o Museu do Índio e o Acervo Humberto Mauro.

Ao longo dos 20 anos em que foi produzido, o filme passou por diversas mudanças e adaptações. Tanto financeiramente, com dinheiro de diferentes editais, passando por co-produções e tendo que utilizar recursos próprios, quanto em relação ao elenco. Foram mais de 40 atores e atrizes, sendo uma delas Ruth de Souza, falecida em julho de 2019. “Primavera” é uma obra sobre registro e memória, que em sua metalinguagem registra e guarda a memória da atriz.

Still Filme “Primavera” – Foto: divulgação

Produzido pela Notábile Filmes, o longa tem montagem de Emerson Brandt e trilha sonora original de Eduardo Queiroz. Além de contar com a interpretação da cantora portuguesa Eugênia Melo e Castro na canção de encerramento. A fotografia de Rinaldo Martinutti retrata primorosamente o contraponto entre os ambientes escuros da época e as filmagens externas quase em superexposição. A cenografia de Aby Cohen também tem papel importante em situar o filme em seu período.

Embora estreie oficialmente nos cinemas nesta quinta-feira, o filme participou de diversos festivais nos últimos anos, tendo saído com um prêmio em cinco deles: México International FF 2018, Los Angeles FF/April 2018, Only The Best FF (EUA) 2021, Aasha International FF (India) 2021, Mosaik Bridging The Borders Award 2021. Enquanto no Festival Brasil de Cinema Internacional, além de Melhor Filme, a produção ainda ganhou Melhor Roteiro, Melhor Atriz, dado a Marília Gabriela por sua interpretação de uma estátua que ganha vida, e Menção Honrosa para Ruth de Souza.

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