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Muito além da atuação: Atriz Jacqueline Sato faz ativismo em prol do meio ambiente e da população amarela

Atriz Jacqueline Sato – Foto: Pupin+Deleu/Divulgação

Por Diogo Rufino Machado (@dioguets)

A atriz Jacqueline Sato participou de um grupo seleto de artistas – entre nomes como Glória Pires, Lázaro Ramos e Maitê Proença – que assinaram uma carta de reivindicação de proteção das riquezas naturais e da saúde dos indígenas.

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Pessoalmente, a artista foi à Procuradoria da República entregar em mãos o documento. Mesmo com a denúncia, nada foi feito até agora. A atriz, que se mostra como uma opositora ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), disse que a atitude lhe custou muito caro, com a existência de ameaças e retaliações na internet. Entretanto, ela não pretende parar e acrescenta que quer lutar e representar milhares de brasileiros.

Além das pautas ambientais, Jacqueline, que é também membro do Greenpeace e possui uma associação de proteção animal chamada House of Cats, atua como defensora dos direitos da etnia amarela. Sua busca é para que as pessoas amarelas sofram menos preconceito e sejam cada vez mais vistas e representadas nas produções audiovisuais.

Atriz Jacqueline Sato – Foto: Pupin+Deleu/Divulgação

Leia íntegra da entrevista com a atriz Jacqueline Sato sobre sua carreira como atriz, vida pessoal e ativismo

RG – Quem é a Jacqueline fora de atuação?

Jacqueline Sato – Difícil se definir, né? Eu acho. Sempre achei. Sou tantas coisas, e me transformo tanto. Acho que quando criei meus primeiros perfis em redes sociais, e tive que preencher a lacuna “Quem sou eu”, eu escrevi “Pessoa em construção”. Por que é isso, a cada dia que vivo, a cada realização, a cada escolha, vou construindo quem sou. Mas, em linhas gerais, sou uma pessoa introspectiva, na maior parte do tempo. Amo a natureza, estar em contato com ela, e fazer o que posso para cuidar dela. Digo que quando estou em contato com ela, é onde me sinto mais próxima do Divino. Ela é a minha Igreja. É onde sinto essa conexão com algo maior. Ainda dentro desse amor pela natureza, tenho paixão por animais. Eles me transformam e trazem alegria de um jeito que só eles têm. Tanto é que sou Protetora desde os 9 anos de idade, quando resgatei a primeira ninhada de gatinhos, levei pra casa, cuidei, junto com minha família, e depois encaminhamos pra adoção.

Disse que sou introspectiva, pois aprecio o silêncio, o estar só, mas não quer dizer que não goste de estar com pessoas e que seja retraída. Adoro uma aglomeração, aliás, que falta que isso tem feito, né? Se estiver tocando música, serei a última a parar de dançar. Gosto demais.

E das coisas que faço, sem ser atuar, algumas delas são:

Cuidar da “House of Cats”, associação de Proteção Animal que fundei junto com minha família, depois de tanto resgatarmos, cuidarmos e encontrarmos lares para gatinhos abandonados. Hoje, contamos com a ajuda de trabalho voluntário de quem mais quiser ajudar, ou puder contribuir financeiramente. Pois, por muito tempo, o trabalho e a verba eram só nossos, mas para que possamos ajudar mais animais, precisamos de mais gente colaborando.

Ano passado, me tornei uma das Embaixadoras do Greenpeace Brasil, o que me encheu de orgulho e motivação para seguir em frente agindo e convidando mais gente a agir na preservação da Natureza. Fica o convite aqui também, pra quem quiser se inteirar do que anda acontecendo e, principalmente, fazer parte da solução de muitos problemas que existem e só estão aumentando, vem fazer parte da #BrigadaDigital! É só assinar a petição na página do Greenpeace que automaticamente você já recebe as atualizações, e as mobilizações da semana. Sim, toda semana tem algo que podemos fazer para ir contra a destruição. Vira e mexe tem projetos de Lei super perigosos para a saúde do planeta e para a nossa que podem ser aprovados. E quando a população se mostra contra, e quando somos muitos, várias vezes eles postergam ou cancelam a lei. Então, bora ficar atentos e fazer a nossa parte. É o que penso.

E também tenho feito reuniões, mesmo que por zoom, com outras atrizes amarelas, com o intuito de nos unirmos, discutirmos a pauta e estratégias de como levantar discussões saudáveis e, acima de tudo, gerar mudanças em relação à falta de representatividade e outras formas de preconceito já vividas por muita gente, sem que quase ninguém saiba. Por que é isso, quando se fala em preconceito contra asiáticos, as pessoas parecem se surpreender, como se não existisse. Mas existe, muita gente já sofreu, mas pouca gente falou ou fala. Queremos conscientizar as pessoas e abrir espaço para que, quem ainda sofre, encontre formas de superar, de nomear o que o incomoda e, principalmente, de verbalizar para que o outro entenda e pare de agir preconceituosamente.

Fora isso, sou uma pessoa curiosa, que ama estudar, conhecer e experimentar as possibilidades da vida.  Estudar os mais diversos assuntos. Realizar coisas pela primeira vez. Me aventurar. E me surpreender no meio de tudo isso é bem parte de quem sou também.

 RG – Como você começou a atuar? Foi fácil?

Jacqueline Sato – Desde criança já brincava de ser atriz e já era uma vontade. Mas foi se tornar uma escolha profissional aos 16 anos, quando eu tive que escolher qual seria minha resposta à tão perguntada questão: “O que você quer ser quando crescer?”. Desde então, tomei a decisão de que seria isto e não parei mais de estudar este ofício. Me formei como atriz em 2009. E fiz minha primeira novela em 2010, a “Corações Feridos” no SBT. Foram muitos “nãos” e alguns “sims” mas já somo ao longo destes anos mais 3 novelas “Além do Horizonte”, “Sol Nascente” e “Orgulho e Paixão”, 5 séries “Psi”, “Na Mira do Crime”, “Lili a ex”, “(Des)Encontros”, e a recém estrada “Os Ausentes”na HBO MAX, e 2 longas “Talvez uma História de Amor”, e o  “10 Horas para o Natal”. E quero fazer muito mais. Dizer que foi, ou que é fácil é mentira. Exige muita vontade, persistência e dedicação. É uma carreira bastante instável, mas apaixonante. A cada trabalho aprendo muito. E olhando para a minha carreira como um todo, tanto o que já experienciei, quanto o que ainda quero experienciar, considero que ainda estou no começo da minha carreira como atriz, pois pretendo envelhecer exercendo a profissão. Se Deus quiser, ainda muitas décadas estão por vir. Mas preciso dizer que sou uma das poucas as atrizes amarelas que conseguiram trabalhar e solidificar uma carreira, e isso se dá por serem muito poucas as oportunidades. Sei que sou uma das poucas, agradeço, valorizo e honro ocupar este lugar, mas desejo, cada vez mais, que tenhamos outros colegas atuando e se realizando profissionalmente. Será lindo verem quanta diversidade existe dentro deste grupo étnico racial que costumam botar numa única caixinha, e que é tão pouco visto nas obras audiovisuais, revistas, ou reconhecidos em sua individualidade e identidade como brasileiros perante a uma sociedade que insiste em se dirigir a nós como se tivéssemos outra nacionalidade. Todos sabem que a falta de representatividade é algo grave, antigo, e que precisa mudar urgentemente. Sinto que estamos num caminho, e espero que seja a passos largos e acelerados.

Atriz Jacqueline Sato – Foto: Pupin+Deleu/Divulgação

RG – Além de ativista, defensora dos animais, você tem atuado em programas com animais? Você tem preferência por esse tipo de programa?

Jacqueline Sato – Sim, amo a Natureza desde sempre. E, claro, sou apaixonada por animais. Tenho esse lado ativista desde pequena. E fico muito feliz quando consigo contribuir com causas que realmente tem a ver com o que acredito e espero ver acontecer no mundo. Então, ao apresentar programas que ajudem as pessoas a lidarem melhor, neste caso, com os seus próprios animais de estimação, e ajudar animais que estão pra adoção a serem adotados por conta do meu programa, é algo que traz uma satisfação e preenchimento indescritíveis. Como comunicadora, gosto de falar sobre temas que considero importantes, que podem levar o público à reflexão e, talvez, à mudança de atitude. Então, falar dos cuidados com a Natureza e com os Animais, se encaixa super bem nisso. Me faz bem, e vejo que faz bem a quem assiste. Poder compartilhar boas ideias, soluções, histórias e atitudes inspiradoras é bom demais.

RG – Como foi a entrega da carta de preservação aos direitos dos indígenas para o Ministério Público Federal? Conta para gente isso.

Jacqueline Sato – Fomos entregar esta carta de repúdio, todos com um super frio na barriga. Não sabíamos como seríamos recebidos lá. Mas fomos, com a cara e a coragem num grupo de pessoas muito queridas e hiper engajadas, levando a voz de muita gente que não poderia ir pessoalmente, mas estava igualmente indignada com o desmonte ambiental e desrespeito aos indígenas. Quando a gente se une com quem pensa e age parecido com a gente, a gente se fortalece. E isso é importante demais. Pois em lutas como essa, precisamos renovar as forças constantemente. São problemas graves, grandes e antigos.

A procuradora da república nos ouviu e disse que estava do nosso lado em relação à proteção dos povos originários e da Natureza. Mas existem muitas forças opostas lá dentro, e por enquanto, como podemos observar, há uma maioria com interesses voltados em outras áreas, ou então, com interesses que vão diretamente contra aquilo que defendemos e que fomos reivindicar. Do nosso lado, nos colocamos à disposição para ajudar a mudar o panorama atual, a divulgar as campanhas e ações que estivessem alinhadas com a proteção e preservação do meio ambiente e dos indígenas.

Apesar de unirmos nossos esforços para manifestar a nossa indignação, bem como a de muita gente que assinou esta carta conosco, até agora, não vi nenhuma mobilização deles que tenha ligação, ou seja resposta a esse nosso esforço. Fizemos nossa parte, indo até lá e deixando claro que estamos alertas e que somos contra muita coisa errada que anda acontecendo. E continuamos vigilantes, manifestando, e conscientizando as pessoas naquilo que podemos para preservar o meio ambiente e os povos originários.

Atriz Jacqueline Sato – Foto: Pupin+Deleu/Divulgação

 RG – Você sofreu retaliações após a entrega dessa carta ou até mesmo alguma ameaça?

Jacqueline Sato – De pessoas de dentro não, apenas na internet.

RG – Como é a sua relação com o governo federal, sabendo que você atua com os interesses do governo, ao defender indígenas e o meio ambiente?

Jacqueline Sato – Não tenho relação alguma com o governo, apenas fui comunicar a insatisfação e indignação, não só minha, como de milhares de pessoas. Acho que muitos cidadãos tem vontade de se expressar e serem ouvidos, E nesta ocasião específica, por sermos pessoas públicas, e por estarmos levando uma carta com muitas assinaturas, ou seja, sendo porta-vozes de várias pessoas, fomos recebidos lá. Não existe qualquer proximidade com o governo, pelo contrário, espero que tenhamos um novo presidente no próximo ano, mas destaco que serei oposição a qualquer governante que incentive o desmonte das políticas ambientais e desvalorize tantas outras pautas urgentes, o que, infelizmente, é o caso do governo atual. Em resumo, independente de quem estiver no poder, eu seguirei defendendo o que acredito, continuarei falando e agindo para que mais e mais pessoas se conscientizem e se mobilizem em direção àquilo que considero justo e vital. Neste caso, defender tudo o que já estava aqui antes de haver a invasão dos colonizadores e essa visão exploradora de tudo: da Natureza, das pessoas, da vida.

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