“Pauliceia Desvairada”, 2019 – Foto: divulgação
Neste sábado (15.01), a Caixa Cultural inaugura a exposição do artista e arquiteto Stênio Burgos, a partir da curadoria de Denise Mattar. A mostra individual “Barroco Sertanejo” foi elaborada para a Caixa Cultural de São Paulo, mas tem itinerância prevista para Salvador, Recife e Fortaleza.
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Serão expostas imagens, poemas e textos, tanto do caderno original, de 1984, quanto da retrospectiva homônima de 2020, criando uma visão caleidoscópica do pensamento e do percurso do artista, assim como a ressonância de seu trabalho junto ao circuito de arte.
As influências de Burgos passam pela efervescência cultural dos anos 1980, quando ele tinha 30 anos. Como arquiteto participou de um dos grupos de estudo prospectivos sobre futuros possíveis, organizado pelo Clube de Roma, onde debatia assuntos relacionados ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Ele havia sido convidado para o projeto pelo diplomata espanhol Jose Luis Pardos Perez, então Diretor Geral de Cooperação Técnica Internacional, ligado ao Ministério de Relações Exteriores. A proposta era ouvir pessoas de todo o mundo sobre tecnologias populares nas casas da América Latina.
“Ensaio sobre a cegueira”, 2020 – Foto: divulgação
Na contramão das formulações acadêmicas, o artista apresentou suas reflexões sob a forma de um caderno contendo desenhos, poemas e pensamentos, ao qual deu o nome de “Realtopia”. Não por acaso foi esse mesmo nome que o artista escolheu para intitular sua exposição retrospectiva, realizada na Fundação Edson Queiroz, em Fortaleza, com a curadoria de Olga Paiva. Prevista para inaugurar em março de 2020, a exposição, como tantas outras, no Brasil e no mundo, só pode abrir as portas, timidamente, em setembro do mesmo ano, sem direito a vernissage, comemorações ou catálogo.
O nome “Realtopia” é, por si, um convite à reflexão. Uma proposta de unir realidade e utopia, sem ocultar fatos ou criar fantasias. Nas páginas do caderno estão contidas observações afetivas, diagnósticos sensíveis e considerações sobre a sociedade de consumo, que é vista como um circo, e descrita com humor rascante.
Já os poemas, têm lampejos de síntese político-poética, em construções como asfalto/assalto, poder/miséria, tensão/domínio. Mas, curiosamente, o documento deixa entrever os caminhos do futuro trabalho artístico de Burgos, em anotações esparsas, que são quase premonições, como: impulso de cores, tintas holandesas e corante da Índia.