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Sesc 24 de Maio estreia peça baseada na vida de Estamira Gomes de Sousa

Foto: Hernandes de Oliveira

Nos dias 14 e 15 de janeiro estreia o trabalho cênico “Tudo que é imaginário, existe e é e tem”, da E² Cia de Teatro e Dança. O projeto, traz em corpo e em gestos a força das palavras de Estamira Gomes de Sousa, mulher que trabalhava no aterro sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, e que teve a vida apresentada no filme-documentário “Estamira”, de Marcos Prado.

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A obra cinematográfica é carregada de falas e ensinamentos filosóficos profundos sobre o descaso público, a constante violência social e outros assuntos caros à Estamira. “Tudo que é imaginário existe e é e tem”, uma das frases ditas por Estamira no documentário, também nomeia o espetáculo da Cia, em um solo de dança dirigido e interpretado pela dançarina Eliana de Santana.

“Cada palavra de Estamira é um estupor. Fico até muito comovida em fazer esse trabalho, porque os ensinamentos dela são muito potentes, sobretudo neste momento que estamos vivendo no Brasil”, comenta Eliana.

Segundo Hernandes de Oliveira, diretor de arte, cenógrafo e iluminador, o espetáculo dá prosseguimento à pesquisa do grupo que traz a palavra e a visualidade como referências para diversas possibilidades de construção no corpo e na cena. “Existe uma trilha sonora, mas também muito silêncio, pois eles são importantes para a confecção deste trabalho, assim como uma luz discreta e poucos elementos cênicos, como um carrinho de mão carregado de flores.”

Foto: Hernandes de Oliveira

O documentário dirigido por Marcos Prado, base para a criação deste solo em dança, toca em várias feridas sociais, como a sedução pelo capital, o prestígio sem obra, a indiferença com o outro e o silêncio diante do horror nesses tempos de apagamento de toda singularidade. Seu testemunho não é apenas opinião, o documentário acompanha sua trajetória trágica e traz um nível maior de compreensão para a força de sua fala, nas palavras do próprio diretor.

A pesquisa artística realizada pelo grupo tem dois modos de operação: o anônimo como tema, ou seja, aquele que tende a ser invisibilizado e a ocupar papéis restritos e pré-determinados na sociedade contemporânea, e acasos na criação, pois o acaso propicia arranjos, composições e formas distintas do habitual

O sujeito anônimo, inclusive, é uma das bases estruturais da pesquisa da E² Cia de Teatro e Dança e se personifica com Estamira, profetisa dos nossos tempos que foi barbaramente abandonada pelo sistema vigente, deixando um legado por meio de palavras filmadas ou transcritas que revelam um testemunho maior de sua visão de mundo.

 

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