Foto: Carmen Campos
Renata Gaspar, que atualmente aparece como a manicure Stephany em “Um Lugar ao Sol”, trama das 21h da TV Globo, fica séria ao contar como foi a experiência de gravar cenas de violência doméstica e abusos. Ela, que é divertida e bem-humorada, diz que foi difícil e que, às vezes, pensava em não entrar nas sensações da personagem. “Foi muito difícil, muito mesmo. Até mexe comigo”, conta.
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Em sua primeira novela, Renata, que entrou no papel às pressas no lugar de Maria Flor – que engravidou e teve de deixar a trama por conta dos protocolos da pandemia -, tem brilhado em sua atuação e promete muito mais com o desenrolar dos fatos. Ela teve que se preparar rapidamente após o convite do diretor Maurício Farias para encarar a personagem, e treinou o sotaque carioca tanto quanto sua interpretação para Stephany – que já tinha muitos capítulos gravados e que tiveram de ser refeitos.
Autêntica e divertida, a atriz não perde uma piada e brinca na internet tanto quanto em sua vida pessoal. Após a novela, decidiu que queria voltar a ser loira e, para isso, gravou um vídeo muito engraçado em que aparece com filtro raspando o próprio cabelo. “Eu já estava como cabelo curto, não tão curto, e ele estava com a cor da peruca da personagem, porque eu usava peruca na novela. E eu já estava querendo voltar a ser loira havia algum tempo, ter o cabelo mais claro. Aí eu fui a um cabeleireiro e ele disse que eu tinha que cortar e descolorir, e eu disse que não queria descolorir, mas olha só [aponta para o próprio cabelo descolorido, rindo]. Então eu pensei, vou raspar logo para já deixar ele mais claro.” E assim foi.
Renata, que mora em São Paulo com a mulher, a chocolateir Bebel Luz, dona da empresa Teu Chocolates, volta ao teatro neste ano, com a companhia Empório de Teatro Sortido, que completou dez anos e fará apresentações de peças de janeiro a meados de março. Também pretende retornar com a peça “Tio”, na qual contracena com Eduardo Sterblitch. E há projetos de cinema, além das séries que eles está escrevendo. Ou seja, além da novela, é bom ficar de olho no que a moça vai apresentar, pois vale muito a pena acompanhar e assistir tudo o que ela faz.
Leia a seguir entrevista via Zoom dada oa RG.
O que estudou?
Eu não fiz faculdade. Quando eu me formei, com 17 anos, já estava formada também na escola de atuação do Macunaíma, que fiz durante três anos, aqui em São Paulo. Depois fiz o curso da Fátima Toledo, de dois anos, acabei fazendo um ano só e fui trabalhar, eu não parei de trabalhar desde que tinha 17 anos.
Em que momento você se descobre atriz?
Quando eu tinha 16 anos estava em um exercício da escola de teatro que eu tinha que dirigir os atores, e ali senti um prazer muito grande. Pensei que eu levava a coisa toda muito a sério, que amava muito tudo aquilo, e era isso o que eu queria fazer. Então, com 17 anos eu já estava fazendo peças. Mas durante um tempo eu fiquei trabalhando como garçonete. Até que um cara, um produtor de elenco, o Diogo, da Mixer, que tinha visto uma peça minha, me chamou para fazer coisas na TV. Ele, há um tempo, já havia me falado que me chamaria para fazer TV. Me ligaram, eu estava trabalhando com garçonete, mas ele queria muito que eu fizesse um teste. Isso foi no final de 2007, era uma série que passaria na MTV. Fiz o teste, passei e em 2009 foi exibida, que foi o “Descolados”, aí eu não parei mais mesmo, voltei com tudo para o mercado de atuação.
Como o humor se insere na sua carreira?
O humor sempre esteve presente. Mas eu nunca tinha feito nada como humorista mesmo, as peças que eu fazia tinha humor, mas não eram baseadas nisso. Eu fui mesmo fazer humor no “Saturday Night Live”, na Rede TV, em 2012, com o Rafinha Bastos. E foi quando esse humor que já estava na minha vida foi mais bem explorado. De lá, eu fui fazer improvisos, fiz muitos espetáculos desse gênero, e em 2013 eu entrei no “Tá no Ar: a TV na TV”, na TV Globo, e aí sim foi uma carreira de comédia na emissora.
Quais foram seus principais papéis?
Eu sempre acho que todos foram muito importantes, mas Taís, que eu fiz no “Pais de Primeira”, foi um projeto que eu gostei muito, uma comédia romântica. Eu gostei muito de explorar a maternidade, embora não seja mãe, mas na época em que fiz foi uma personagem muito marcante para mim. Teva a Lud também, do “Descolados”, eu fazia uma personagem que na época fazia muito sucesso, e faz até hoje, ainda falam dela. Ela era muito parecia comigo, mesma idade, mudando de casa, me identifiquei muito com ela.
No cinema eu fiz a Micaela, de “Amores Urbanos”, um filme da Vera Egito. Era uma personagem que é um pouco próxima de mim também. Ela vive uma desilusão amorosa com a namorada, que não a assume. Foi uma personagem muito gostosa de fazer. E teve o próprio “Fora de Hora”, o personagem que eu fiz na bancada, eu gosto muito dela. Sou eu e não sou, foi uma mistura híbrida, foi legal encontrar essa comunicadora.
Foto: Carmen Campos
Como surgiu o convite para atuar em “Um Lugar ao Sol”?
Olha, foi bem loucura, porque a Maria Flor engravidou e por conta dos protocolos da pandemia teve que sair da novela e fui chamada às pressas. O Maurício Farias me ligou numa quinta-feira e no domingo eu já estava no Rio de Janeiro. Eu precisava gravar tudo o que a Maria Flor já havia gravado. Mas ele [Farias] disse que era muito legal, que eu ia gostar, e topei. Eu tive que ler tudo muito rápido, eu entrei no capítulo 20. Tentei ficar muito em paz, encontrar essa personagem. Foi um processo veloz e muito intenso (risos).
Conte sobre sua personagem, a manicure Stephany?
A Stephany trabalha de manicure no próprio bairro em que mora, porque o marido dela não a deixa trabalhar fora, então é tudo um pouco controlado ali no universo dela, mas ela é uma pessoa muito forte, que fala o que pensa, dá os conselhos para a irmã, ela é sem papas na língua. Mora com o marido, só que já no início da novela, a irmã e o filho tiveram que morar de favor na casa deles. E nisso, a irmã começa a presenciar toda essa relação abusiva. Já no início tem cenas agressivas do Roney, que é o meu marido na novela, o ator Danilo Grangheia. Como não mostra como era antes de a irmã morar lá com eles, eu sinto que para a Stephany é algo normal, viver esse relacionamento [abusivo] é como se a vida fosse assim. Eu me questionava pensando por que aquela mulher está ali ainda com esse cara? Por que ela volta? Mas eles são apaixonadíssimos. Primeiro tem um problema muito sério de autoestima da Stephany, é como se o ciúme que o marido sente por ela fosse uma prova de amor. Tem uma confusão muito louca nessa mente, é uma troca de valores que não é uma coisa simples de se dizer, a culpa não é dela, mas muitas vezes o agressor faz com que você se sinta culpada. Como a irmã diz muitas coisas para a Stephany, existe todo um questionamento, mas ela não consegue sair do relacionamento.
Como se preparou para o papel?
Como eu tive pouco tempo eu não fiz tudo o que eu gostaria, de conversar com mais pessoas, então eu tive que ver depoimentos, li muito sobre isso, violência doméstica, relacionamento abusivo, vi documentários, fui tentando entender a mentalidade dela. E teve a questão do sotaque carioca, porque eu não sou do Rio, e ela é bem do subúrbio, tive que treinar. Fiquei ouvindo muito pagode, samba, pensado: “Deixa eu entrar nessa mulher”.
Foto: Carmen Campos
Foi difícil representar essa personagem vítima de violência doméstica?
Ai, foi muito difícil, muito mesmo. Até mexe comigo. Não estamos ainda nesse momento da novela, mas tinha uma maquiagem que assustava muito, com cenas de agressão muito pesadas. E cenas dela voltando para a irmã pedindo ajuda. Tinha muitas vezes que eu pensava: “Cara, eu não quero entrar nessa sensação agora”. Mas vamos lá, porque estou aqui para isso, era o próximo pensamento. É como se eu fosse médico e tivesse medo de sangue, eu não podia ter medo das sensações que a Stephany estava sentindo, afinal eu era só uma ferramenta para apresentar a existência dela na novela. No fim das contas eu acho que mexe com toda mulher, pois a gente tem um histórico, que não é de hoje essa histórias no Brasil. Então mexeu muito comigo. Você vê ela tentando se resgatar, resgatar a autoestima. É uma dependência tão grande de uma homem, de um provedor, que é como se ela não se bastasse sozinha, entendeu? Ela se sente não importante. Mas ainda bem que atualmente existem muitas formas de ajuda para esses casos, a mídia também.
E como foi contracenar com Danilo Grangheia?
Nós já nos conhecíamos, mas foi a primeira vez que contracenamos juntos. Foi muito legal, ele me acolheu demais, muito gentil, muito amoroso, muito parceiro. Nós estávamos no mesmo hotel, então acordávamos e passávamos as cenas, ensaiávamos coisas, então ele me ajudou muito.
Quais são seus próximos projetos?
Boa pergunta, quais são? (Risos) Eu não sei mesmo. Aqui em São Paulo, sim, eu faço parte do Empório de Teatro Sortido, que é uma companhia de teatro do Rafael Gomes e do Vinicius Calderoni, e no início deste ano vamos apresentar peças pelos 10 anos da companhia, de janeiro até meados de março. Eu tenho uma peça com o Eduardo Sterblitch, “Tio”, que a gente espera voltar neste ano também. E estou escrevendo coisas, na pandemia eu comecei a escrever projetos de séries, mas vamos ver se as coisas acontecem.
Você tem algum ritual de beleza, como cuida da pelo e do corpo?
Ah, eu vou a uma nutróloga para me alimentar bem. E de pele eu faço todo o skincare todos os dias, então eu tenho esse cuidado, faço tudo direitinho. Tomo vitaminas, como a D, que eu nunca tenho o suficiente no organismo. E danço, faço treinos físicos e meditação ativa.
Como você lida com as redes sociais, porque você posta muita coisa engraçada.
Olha, eu não sou tão ativa como que gostaria. Estou bem pouco ativa ultimamente (risos). Eu estava mais ativa na pandemia, eu fiz lives de personagens com convidados e tal, mas eu gostaria de ser mais ativa.
Já teve algum perrengue com haters?
Teve um cara que pegou no meu pé, porque eu estava fazendo essas lives de personagens usando filtros, e gosto de brincar com isso, e ele ficava dizendo para eu não fazer isso porque ele achava feio (risos). Mas eu dizia, querido, mas você não precisa assistir, você pode parar de me seguir. E ele: “Olha, uma dica, não faça isso, isso denigre sua imagem”. Eu dizia, mas você conhece o que eu faço? Porque é isso o que eu faço, eu sou atriz (risos).
Foto: Carmen Campos
Você é feminista?
Sim, com certeza. E abraço a causa. Eu não fico postando coisas no meu Instagram sobre o tema, não é o que eu faço, só porque não é meu perfil. E eu fico distante de discursos muito agressivos. Então eu sou feminista, acho que estamos aqui para lutar por essa igualdade, estamos caminhando para isso, mas tomo muito cuidado com discursos de ódio. Acho que a gente tem que olhar as coisas sempre por uma via gentil e amorosa, dá para ter conversa, conscientização, porque todo mundo está aqui para aprender.