Vai parecer uma reforma completa, mas é bem mais que isso: uma exposição. A partir de 5 de janeiro de 2022, um conjunto de obras de grandes proporções vai mexer com as formas do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro. Barco e elevador flutuantes, janelas para jardins imaginários e até uma piscina em que o visitante pode ficar submerso sem medo de se afogar fazem parte da mostra de um dos nomes mais provocativo e populares da arte contemporânea, o argentino Leandro Erlich.
SIGA O RG NO INSTAGRAM
A exposição que chega ao Rio tem um nome bastante explícito, “A Tensão” (e sonoramente ambíguo: quem não lê pode ouvir “atenção”), revelador de um dos prováveis sentimentos que os visitantes sentirão diante das instalações do artista. Isso porque Erlich trabalha com referências que são, literalmente, “lugares-comuns”, espaços que estamos acostumados a ver no dia a dia, mas deslocados da condição de normalidade. Como afirma o curador da exposição, Marcello Dantas, “a obra de Leandro Erlich é estruturada no mecanismo da dúvida. O que nossos olhos veem está em desacordo com o que nossa mente conhece”, sintetiza.
Erlich, nascido em 1973 e produzindo suas obras em seus ateliês em Buenos Aires e Montevidéu, está, assim, constantemente rompendo as fronteiras que normalmente acreditamos existir entre a realidade e a ilusão. Em entrevista ao jornal argentino “Clarín”, o artista explicou seu projeto: “Estou interessado principalmente em transformar elementos que as pessoas acreditam que não podem ser transformados, que não podem ser diferentes. Trata-se de uma utopia de apresentar a possibilidade de transformar o que existe em uma outra coisa, e essa ação nos convida a imaginar a realidade de uma maneira diferente”.
Uma das mais bem-sucedidas experiências nesse sentido – que se tornou uma de suas obras mais populares e desconcertantes – é “Swimming Pool” (piscina, em português), que será instalada na rotunda do CCBB Rio de Janeiro. Atração onde quer que seja exposta, a piscina de Erlich provoca sensações absurdas tanto por quem entra nela – sem se molhar – quanto para quem está do lado de fora: uma camada de água entre um lado e outro cria a ilusão de que as pessoas ao fundo estão de fato mergulhadas numa piscina.
Outra obra desconcertante e grande destaque entre as instalações de Erlich presente na exposição do Rio é “Classroom”. Nela, quando o público adentra à sala, sua imagem é refletida em um vidro, como se ele fizesse parte de uma cena diferente. Os visitantes ficam parecidos com fantasmas, como se estivessem numa sala de aula abandonada – as memórias de infância se projetam para um cenário de crise e de abandono.
Leandro Erlich – Foto: Guyot Orti
Em diferentes obras, Erlich recorre à ideia de recorte visual sugerida pelas janelas. Um desses trabalhos se chama, justamente, “Blind Window”. “O que guarda a memória? Nosso cérebro ou nossos olhos?”, perguntou o artista, de forma retórica, durante uma entrevista no Japão. “Gosto da ideia de pensar que o olho, ou o vidro, também são capazes de guardar histórias”. É justamente essa a proposta de Erlich ao fixar paisagens, situações imaginárias e inusitadas, em objetos arquitetônicos ou decorativos, como uma janela ou um falso espelho num elevador.
Ao deslocar o conhecimento prévio do espectador daquilo que poderíamos chamar, agora recorrendo a um lugar-comum da linguagem, de “zona de conforto”, Erlich coloca o expectador necessariamente em confronto com o que dizia sua experiência sobre dada situação, exigindo “um engajamento e uma atenção participativa para desvendar cada obra”, explica o curador Dantas: “Cada situação só se materializa com a presença do público, em que a obra abre um espaço de acontecimento. O título da exposição já conclama essa dúvida: pede-se atenção ao mesmo tempo em que carrega em si o mistério provocado pela tensão que existe no espaço vazio antes da participação”, completa.
As ilusões óticas e a subversão da realidade propostas por Erlich fazem dele um artista, simultaneamente, conceitual e tremendamente popular.