Cultura

CCBB SP abre a mostra “Brasilidade Pós-Modernismo”

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“A Visita dos Ancestrais”, 2021, de Jaider Esbell – Foto: Divulgação

Celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e lançar luz aos traços, remanescências e conquistas que o movimento trouxe, no decorrer dos últimos 100 anos, às artes plásticas do Brasil e refletir, a partir da atualidade, sobre um processo de rever e reparar este contexto. Este é o objetivo de “Brasilidade Pós-Modernismo“, mostra que será apresentada entre 15 de dezembro e 7 de março de 2022 no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo (CCBB SP).

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Com curadoria de Tereza de Arruda, a mostra chama atenção para as diversas características da arte contemporânea brasileira da atualidade cuja existência se deve, em parte, ao legado da ousadia artística cultural proposta pelo Modernismo. Nuances que o público poderá ver nas obras dos 51 artistas de diversas gerações que compõem o corpo da exposição, entre os quais Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Arnaldo Antunes, Cildo Meireles, Daniel Lie, Ernesto Neto, Ge Viana, Jaider Esbell, Rosana Paulino e Tunga.

“Esta exposição não é idealizada com o olhar histórico, mas sim focada na atualidade com obras produzidas a partir de meados da década de 1960 até o dia de hoje, sendo algumas inéditas, ou seja, já com um distanciamento histórico dos primórdios da modernidade brasileira”, explica Tereza. “Não é uma mostra elaborada como um ponto final, mas sim como um ponto de partida, assim como foi a Semana de Arte Moderna de 1922 para uma discussão inovadora a atender a demanda de nosso tempo conscientes do percurso futuro guiados por protagonistas criadores”, completa a curadora.

Organizada em seis núcleos temáticos: Liberdade; Futuro; Identidade; Natureza; Estética e Poesia, a mostra apresenta pinturas, fotografias, desenhos, esculturas, instalações e novas mídias. Segundo Tereza, por meio deste conjunto plural de obras, “a brasilidade se mostra diversificada e miscigenada, regional e cosmopolita, popular e erudita, folclórica e urbana”.

Para aproximar ainda mais o público da Semana de 22, serão desenvolvidas, ao longo do período expositivo, uma série de atividades gratuitas no Espaço de Convivência do Programa CCBB Educativo – Arte e Educação conduzidas por educadores do centro de arte e tecnologia JA.CA. Também haverá um webapp com um conjunto compreensivo de conteúdos da mostra, garantindo a acessibilidade de todos.

“Praga”, 2003, de Beatriz Milhazes – Foto: Manuel Águas & Pepe Schettino

Liberdade

Abrindo a exposição, o núcleo Liberdade reflete sobre as inquietações e questionamentos remanescentes do colonialismo brasileiro do período de 1530 a 1822, além de suas consequências e legado histórico. São fatores decisivos para a formação das características do contexto sociopolítico-cultural nacional, que se tornaram temas recorrentes em grande parcela da produção cultural brasileira.

Em 1922, os modernistas buscavam a ruptura dos padrões eurocentristas na cultura brasileira e hoje, os contemporâneos que integram esse núcleo – Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, José Rufino, Rosana Paulino, Farnese de Andrade, Tunga, Ge Viana e José De Quadros – buscam a revisão da história como ponto de partida de um diálogo horizontal, enfatizando a diversidade, a visibilidade e inclusão.

Futuro

O grupo da vanguarda modernista brasileiro buscava o novo, o inovador, desconhecido, de ordem construtiva e não destrutiva.  E um exemplo de futuro construtor é Brasília, a capital concebida com uma ideia utópica e considerada um dos maiores êxitos do Modernismo do Brasil. “Sua concepção, idealização e realização são uma das provas maiores da concretização de uma ideia futurista”, comenta a curadora.

Com foco em Brasília como exemplo de utopia futurista, este núcleo reúne gravuras e desenhos dos arquitetos Lina Bo Bardi, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, obra da artista Márcia Xavier, e registros captados pelo fotógrafo Joaquim Paiva e o cineasta Jorge Bodanzky.

Identidade

A busca por um perfil, uma identidade permeia a história da nação brasileira. É a partir desta busca que se forma o conjunto exibido no núcleo Identidade. As obras de Alex Flemming, Berna Reale, Camila Soato, Daniel Lie, Fábio Baroli, Flávio Cerqueira, Glauco Rodrigues e Maxwell Alexandre apresentam uma brasilidade com diversas facetas da população brasileira.

“Falamos aqui do ‘Brasil profundo’, enfatizado já em obras literárias emblemáticas e pré-modernistas como o livro ‘Os sertões’, de Euclides da Cunha (1866-1909), publicada em 1902. Já neste período, o Brasil estava dividido em duas partes que prevalecem até hoje: o eixo Rio-São Paulo, das elites consequência de uma economia promissora proveniente do desenvolvimento financeiro e intelectual, e consequentemente berço da Semana de Arte Moderna realizada 20 anos após esta publicação, e o sertão, desconhecido, acometido pela precariedade e desprezo de seu potencial”, reflete Tereza de Arruda.

“Fala”, 2011, Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti – Foto: Divulgação

Natureza

O território brasileiro é demarcado por sua vastidão, pluralidade de biomas e importância de caráter global. Neste núcleo, as obras dos artistas Armarinhos Teixeira, Caetano Dias, Gisele Camargo, Luzia Simons, Marlene Almeida, Paulo Nazareth, Rosilene Luduvico e Rodrigo Braga norteiam questões de enaltação, sustentabilidade e alerta quanto à natureza e o relacionamento do ser humano como corpo imerso no legado da “terra brasilis”.

Estética

Reunindo trabalhos de Barrão, Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Daiara Tukano, Delson Uchôa, Emmanuel Nassar, Ernesto Neto, Francisco de Almeida, Jaider Esbell, Judith Lauand, Luiz Hermano, Mira Schendel e Nelson Leirner, este núcleo surge a partir da reflexão sobre movimentos como o antropofágico, ação fundamental para o entendimento da essência da Brasilidade e um marco na história da arte do Brasil. Foi através dele que a identidade cultural nacional brasileira foi revista e passou a ser reconhecida.

E, segundo explica a curadora, isso se deu em 1928 com a publicação do “Manifesto Antropófago” publicado por Oswald de Andrade na Revista de Antropofagia de São Paulo. No texto, o poeta fazia uma associação direta à palavra “antropofagia”, em referência aos rituais de canibalismo nos quais se pregava a crença de que após engolir a carne de uma pessoa seriam concedidos ao canibal todo o poder, conhecimentos e habilidades da pessoa devorada. “A ideia de Oswald de Andrade foi a de se alimentar de técnicas e influências de outros países – neste caso, principalmente a Europa colonizadora – e, a partir daí, fomentar o desenvolvimento de uma nova estética artística brasileira. Na atualidade, como aqui vemos, não está à sombra de uma herança e manifestações europeias, mas sim autônoma e autêntica miscigenada com elementos que compõem a Brasilidade dominada por cores, ritmos, formas e assimilação do díspar universo de linguagens e meios que a norteiam”, comenta Tereza de Arruda.

“Voluta e Cercadura”, 2013, de Adriana Varejão – Foto: Jaime Acioli

Poesia

A Semana de Arte Moderna e o movimento modernista em si pleitearam a independência linguística do português do Brasil do de Portugal. Os modernistas acreditavam que o português brasileiro haveria de ser cultuado e propagado como idioma nacional.

Neste núcleo, são exibidas obras de poesia concreta, poesia visual e apoderamento da arte escrita – a escrita como arte independente, a escrita como elemento visual autônomo, a escrita como abstração sonora – dos artistas André Azevedo, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Floriano Romano, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Rejane Cantoni e Shirley Paes Leme.

Lista completa de artistas

Adriana Varejão, Alex Flemming, André Azevedo, Anna Bella Geiger, Armarinhos Teixeira, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos/Júlio Plaza, Barrão, Berna Reale, Beatriz Milhazes, Camila Soato, Caetano Dias, Cildo Meireles, Daiara Tukano, Daniel Lie, Delson Uchôa, Ernesto Neto, Emmanuel Nassar, Fábio Baroli, Farnese de Andrade, Flávio Cerqueira, Floriano Romano, Francisco de Almeida, Ge Viana, Glauco Rodrigues, Gisele Camargo, Jaider Esbell, Joaquim Paiva, Jorge Bodanzky, José De Quadros, José Rufino, Judith Lauand, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Lina Bo Bardi, Lúcio Costa, Luiz Hermano, Luzia Simons, Márcia Xavier, Marlene Almeida, Maxwell Alexandre, Mira Schendel, Nelson Leirner, Oscar Niemeyer, Paulo Nazareth, Rejane Cantoni, Rodrigo Braga, Rosana Paulino, Rosilene Luduvico, Shirley Paes Leme e Tunga. 

CCBB SP – Rua Álvares Penteado, 112, Centro Histórico, Triângulo SP, São Paulo.

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