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Pronta para iniciar shows, Marcia Castro trará música inédita e três clipes

Foto: Pedrita Junckes

Formada em marketing e com duas faculdades não terminadas, de música e direito, a cantora e compositora baiana Marcia Castro é do tipo de pessoa que gosta de estudar. Atualmente, está no segundo ano de nutricionismo, mesmo com uma carreira sólida na música. Casada com Fernanda Lírios e mães de Maria Flor, de três meses, Marcia tem levado seu novo álbum, “Axé”, ao lado da maternidade, algo que mudou sua vida. “Mudou tudo, mudou meu sono, isso já é muito, eu não durmo mais com antigamente (risos). Os horário mudam, eu sou agora uma pessoa literalmente mais diurna. Noturna só para fazer show ou para eventos realmente muito especiais, senão você não aguenta, entendeu?”, conta.

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O novo trabalho, que ainda vai ganhar três clipes com as músicas “Holograma” [feat com Ivete Sangalo], “Namorar no Mar”, de sua autoria, e as “Paulinas dos Jardins”, música de Carlinhos Brown, feat com Daniela Mercury, são as próximas apostas da artista para o audiovisual.

Como ela própria diz, o álbum é uma homenagem aos grandes e novos nomes do axé, estilo musical que ela traz nas veias e que está em suas memórias musicais e afetivas. “Eu sempre gostei de Carnaval, e um tipo de música que faz parte das minhas memórias, das minhas referências musicais. Fiquei muito fascinada com a ideia de fazer esse disco”, relata.

A ideia do álbum surgiu de um papo com o jornalista, produtor e diretor de espetáculos Marcus Preto, que entendeu a necessidade da artista de fazer uma ponte com a Bahia após seu último trabalho, “Treta”, não ter sido muito bem recebido pelas pessoas por ela ter trabalhado as músicas de forma mais contemporânea e com pegada eletrônica, mas com baianidade.

Marcia, que já é dona de cinco álbuns, agora se prepara para começar a temporada de shows de “Axé”, dando o passo inicial em sua terra natal, Salvador, depois São Paulo e Rio de Janeiro. Ela também vai lançar um single, no primeiro semestre de 2022, que não está no álbum – mais um motivo para ficar de olho no trabalho da moça. “Axé”é um disco delicioso de se ouvir, traz músicas de nomes importantes da escola baiana, parcerias de peso e até inusitadas, como Nando Reis e Emicida, com os quais a artista já flertava.

Ante de ler a entrevista com Marcia feita por RG, dê um play no disco e escute simultaneamente à leitura, você vai ver como tudo fica ainda melhor.

Foto: Pedrita Junckes

Por quê você foi estudar nutricionismo?

Comecei a fazer a faculdade na pandemia, e sempre foi um assunto que gostei muito. E estou apaixonada pelo curso. Eu sempre gostei desses assuntos relativos a alimentos, saude. Tive refluxo quando era adolescente, quando comecei a cantar, e isso começou a atrapalhar a minha voz, comecei a ter vários edemas nas cordas musicais por conta do refluxo. Daí isso me levou a mudar muito meu estilo de vida. Cheguei a fazer uma cirurgia, mas não era definitiva, poderia voltar se eu não mudasse minha alimentação e o estresse. Então eu fui mudando e estudando sobre assunto, porque sou muito curiosa, e comecei a me apaixonar pelo assunto. Estudei muito informalmente durante muitos anos, e, agora na pandemia, vi um jeito de me aprofundar mais estudando nutricionismo.

Como nasce a artista Marcia Castro?

Quando eu tinha 14 anos. Já tocava violão desde os 11 anos, e fiz uma viagem e me pediram para cantar, e cantei, então descobri que era isso o que eu queria fazer da vida. Com 16 comecei a cantar profissionalmente na noite, em espaços culturais de Salvador.

Você compõe também?

Componho. Nesse disco novo tem duas faixas que são minhas.

Como surgiu a ideia do disco “Axé”?

O disco “Axé” surgiu de uma conversa que tive com Marcus Preto [jornalista, produtor e diretor de espetáculos]. Então conversando com ele sobre meu disco anterior, “Treta”, que foi um álbum que as pessoas não entenderam muito em termos de comunicação, e eu fique muito frustrada, porque era é um disco que flertava muito com a Bahia, mas uma Bahia contemporânea. Eu era uma cantora de MPB, sempre fui, e resolvi fazer um disco mostrando uma Bahia eletrônica. E o público não entendeu muito isso, eu não comuniquei direito também, e o disco “flopou”. Então eu disse a ele que queria fazer um disco novo que fizesse a ponte com a Bahia. Aí ele falou vamos fazer um disco de axé, e eu disse: “Nossa, é isso!”. Até porque eu sempre gostei de Carnaval, e um tipo de música que faz parte das minhas memórias, das minhas referências musicais. Fiquei muito fascinada com a ideia de fazer esse disco.

E como foi o processo da escolha das músicas?

A gente foi entendendo a atmosfera do disco que a gente queria. Quem eram os compositores que nós fazíamos questão que estivessem nesse projeto, como mais veteranos e mais jovens, pensando nos desenhos dos ritmos, fomos perguntando aos compositores quem tinha uma música assim ou assado, e fomos compondo o disco. Teve um lado que foi bem espontâneo e aleatório e outro que foi pensado. Por exemplo, a gente queria uma balada romântica, e pensamos em Nando Reis. A gente queria uma musica mais espiritual, profunda, pensamos em Emicida. Fomos compondo o disco nessa bases que nós entendemos serem fundamentais.

Foto: Pedrita Junckes

Fale sobre as parcerias de voz, pois você canta com outras mulheres.

Na verdade, a gente pensou muito nesse papel da mulher, na construção do gênero. As vozes femininas foram as que de fato construíram e amplificaram. E a gente pensou nesses três pilares, cada uma com sua importância: Margareth Menezes, que é uma voz negra de trio, por exemplo, que foi referência para tantas outras vozes negras conquistarem seus lugares; Daniela Mercury, que projetou a música baiana para fora dos limites da Bahia como dimensão nacional, com aquele show no Masp; e Ivete Sangalo, que é uma grande estrela pop nacional, que está além da música baiana, né? São três pilares muito fortes. E eu tive a sorte de fazer o convite para as três, que toparam. É um disco de homenagem ao gênero, aos artistas que construíram isso [o axé].

E tem alguma música que você se apegou mais?

Nossa, difícil isso, cada hora eu me apego a uma. Eu gosto muito de “As Paulinas dos Jardins” [feat com Daniel Mercury], que é composição de Carlinhos Brown, eu tenho um carinho especial por essa música, pela letra em si, e acho que pelo momento que a gente vive. É uma letra que parece profética desse momento da pandemia, esse enfrentamento que a gente tem. Então essa música é muito especial.

E você pretende fazer clipe de todas as músicas?

Gostaria muito, mas não temos verba para tanto (risos). Eu gostaria muito até porque são música muito imagéticas. Ouvindo o álbum eu crio muitas imagens, e as pessoas dizem isso também. Mas infelizmente a gente não vai conseguir fazer de todas. Queria tentar fazer ao menos de umas três músicas.

E quais seriam as músicas?

A gente queria fazer alguma coisa com “Holograma” [feat com Ivete Sangalo], com “Namorar no Mar”, que é uma música de minha autoria, e as “Paulinas dos Jardins” [feat com Daniela Mercury, e música de Carlinhos Brown].

Você pretende fazer shows, como está sua agenda?

A gente vai fazer o primeiro show em um evento fechado da Alzira Cachaça, agora no dia 4 de dezembro, em São Paulo, que foi um grande parceiro nesse projeto incrível. Depois a gente vai sair no Réveillon, na Bahia, e em janeiro a gente ainda está definindo algumas coisas. Em fevereiro a gente volta fazendo São Paulo, na Casa de Francisca, e possivelmente no Carnaval. Não saímos com uma agenda toda definida porque o momento ficou muito incerto por conta da pandemia. Estamos desenhando mais claramente e indo atrás das oportunidades. Perto do Carnaval também pretendemos fazer o lançamento de um novo single, que não está no álbum. Mas com certeza viremos com um projeto novo até o final do primeiro semestre do ano que vem.

Você é casada e tem uma filhinha linda chamada Maria Flor. Como é essa vida como mãe e artista?

Nossa, puxado, viu (risos)? Sempre falam para a gente sobre o trabalho que dá a maternidade, mas a gente só dimensiona quando é mãe. Foi um segundo semestre bem intenso, porque Maria Flor chegou logo no início de agosto, foi muito perto das coisas do disco. Então foi uma loucura, tem sido uma loucura, porque ela demanda muito da gente, sobretudo quando você quer ser presente, quer participar. Tem que ser bem organizada com o tempo para dar tempo de fazer tudo, porque quando você vê o dia já acabou e ainda tem uma mote de coisas na agenda para fazer (risos). Mas agora que ela já está com três meses, as coisas começam a ficar um pouco mais organizadas. Eu acho que essa primeira fase de adaptação, ainda mais para quem nunca foi mãe, é bem complicada.

Foto: Pedrita Junckes

Maternidade mudou tudo para você?

Mudou tudo, mudou meu sono, isso já é muito, eu não durmo mais com antigamente (risos). Os horário mudam, eu sou agora uma pessoa literalmente mais diurna. Noturna só para fazer show ou para eventos realmente muito especiais, senão você não aguenta, entendeu? As prioridades mudam, o seu círculo social, você se aproxima de outras mães. No nosso caso que somos duplas mães, a gente tem se aproximado de outras mulheres que são casadas com mulheres, para que nossa filha tenha também a referência de outras famílias como a nossa. Eu acho importante para que ela não se sinta uma estranha no mundo e que entenda que existe essa diversidade. Tem sido muito gostoso entender as relações homoafetivas, a maternidade, a paternidade, e até nos engajando nessas causas de modo político.

Você é uma mulher bonita, tem algum ritual de beleza? 

Olha, eu custei a ter, mas hoje tenho. Meu primeiro ritual de beleza é cuidar da minha alimentação rigorosamente. Eu sou acompanhada por nutricionista, por médico, faço tudo direitinho. Na pele, à noite, passo um acidozinho no rosto, de manhã tiro o ácido, passo um esfoliante que retira todas as impurezas, uso protetor solar. De seis em seis meses eu faço toxina botulínica, coisa que eu neguei tanto, dizendo “não vou fazer isso”. Aí você faz a primeira vez e diz: “Caramba, eu nunca mais deixo de fazer” (risos). E sou muito tranquila em relação a isso, não sou escrava, mas gosto de me ver com a pele boa, bonita.

E do corpo, você gosta de fazer exercício?

Todo dia. Está aí uma coisa que a maternidade não subtraiu. Porque isso é uma coisa que não posso abrir mão porque faz parte da minha saúde emocional.

E o que você gosta de fazer?

Eu faço tudo. Eu subo escada, faço bicicleta, corro, faço musculação. Eu sempre fui “crossfiteira”, mas com a pandemia eu parei e ainda não voltei, mas eu tenho muito essa filosofia do crossfit, fazer um pouquinho de várias coisas. Todo dia eu tenho que fazer alguma atividade física.

E o que você tem ouvido?

Muita coisa. Eu gosto muito de ouvir uma playlist que tem no Spotify chamada “Radar de Novidades”, onde fico escutando coisas que estão sendo lançadas e que possam vir a me interessar.  Fora os artistas que eu adoro de sempre, como Céu, que acabou de lançar um trabalho maravilhoso, Silva, que também lançou um trabalho lindo, Caetano Veloso, Gilberto Gil. Mas eu gosto muito de entender e escutar as coisas novas.

Foto: Pedrita Junckes

Como você lida com as redes sociais, acha que é uma forma de expressão importante?

Acho. Rede social é para quem tem maturidade emocional. Porque tem um aspecto positivo, principalmente para nós pessoas púbicas, artistas, influenciadores, que é divulgar aquilo que você faz, sem ter intermediação, é você e seu público diretamente. Mas a gente tem também um aspecto negativo que é essa ansiedade pelos likes, pelas visualizações, você perde um pouco a dimensão da construção. Se você não tiver cuidado acaba se comparando de uma forma muito cruel consigo mesmo, com as pessoas. É preciso se distanciar um pouco para que aquilo não atrapalhe seu processo criativo.

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