Soberana Ziza – Foto: Reprodução/Instagzram/@soberanaziza
Premiada artista plástica, hoje multiartista brasileira, Soberana Ziza comemora seu último prêmio “Histórico de Realização em Artes Visuais – Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo” lançando duas exposições na cidade intituladas “Mulheres-Raízes da Conexão”.
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A ideia do projeto da artista e sua primeira exposição individual em galeria trazem obras inéditas em novos formatos e técnicas. Os temas da ancestralidade, do feminino, da terra, o apagamento da história negra e a reconexão com o passado são fruto de pesquisa histórica da autora e voltam com força nessas exposições.
“Eu resgato no projeto os monumentos da cidade que sofreram apagamento. E conecto cada território de São Paulo com a história de mulheres negras que tiveram grande valor no desenvolvimento do município”, explica. “Todas essas mulheres negras e empoderadas sofreram apagamento embora tenham sido de fundamental importância na formação cultural da cidade. Então eu decidi resgatá-las do apagamento por meio da minha arte.”
“O amadurecimento da minha arte me fez buscar outros suportes e materiais. Farei a minha primeira performance, o meu primeiro lambe, a minha primeira exposição em galeria”, complementa Soberana.
A história das mulheres negras na cidade recontada em arte
Com a exposição individual “Mulheres-Raízes da Conexão”, Soberana explora outras linguagens para além da pintura mural e em tela, experimentando novas técnicas e pesquisando a história das mulheres negras na capital paulistana.
Ao longo de meses a artista gestou e ativou trabalhos que desenvolveu em performance, pintura sobre diversos suportes, lambe-lambe, objetos e filme realizando uma cartografia artística sobre as contribuições das nossas antepassadas para a edificação da história de São Paulo.
“Comecei pela arte do grafite e agora me tornei uma multiartista trabalhando também com pincel em látex e usando novas técnicas como a sublimação em tecido”, relata.
Soberana Ziza – Foto: Divulgação
Da periferia para o mundo
Nascida e crescida na Zona Norte de SP, lugar conhecido por ser um importante aquilombamento formado no pós-abolição, com uma marcante presença sociocultural do povo preto, a artista apresenta suas obras pelas ruas e espaços culturais de São Paulo há mais de uma década. Ganhou muitos prêmios e ultrapassou as fronteiras do país, mostrando sua arte em Berlim e Washington.
Neste projeto investigou espaços históricos de protagonismo negro na capital paulistana cujos acontecimentos são pouco conhecidos por parte das gerações mais jovens. Dentre esses locais, investigou o Largo da Memória, fundado em 1814 e ladeado pelo chafariz que era ponto de parada e de abastecimento de água de tropeiros e local de trabalho de lavadeiras.
No logradouro onde também eram comercializadas pessoas escravizadas, havia intensa circulação de informações e de indivíduos o que eleva o mesmo a um marco da memória social afro-paulistana. Soberana pesquisou essa narrativa bem como incorporou em seus trabalhos elementos gráficos presentes nos azulejos que revestem a parede do chafariz.
Para Renata Felinto, curadora das exposições, “na Casa Pretahub, fixada literalmente ao lado do Largo da Memória, estão as obras cuja temática está circunscrita aos acontecimentos da região do entorno, como os lambe lambes e o filme que tratam da memória de Madrinha Eunice, fundadora da mais antiga escola de samba em atividade na cidade: a Lavapés, de 1937. Assim como Madrinha Eunice é uma mulher preta empreendedora cultural, a Casa Pretahub também é fruto do empenho de Adriana Barbosa, pioneira na articulação entre redes pretas de economia criativa”.
A curadora explica que é possível conhecer as obras que abordam as memórias históricas e experimentos criativos que tratam dessa presença feminina e negra na região do Centro Antigo, e que nos revelam a marca indelével das mulheres negras para a edificação da cidade de São Paulo.
A exposição “Mulheres-Raízes da Conexão” se estende à Galeria Choque Cultural situada no Jardim Paulistano, configurando-se como um convite à redescoberta da historicidade preta enraizada em terras paulistas, que se efetiva por meios das andanças que estão propostas no roteiro artístico percorrido por Soberana em seu processo de pesquisa e de elaboração de suas obras.
“Com sua exposição individual, que assim como as narrativas orais se disseminam e se aprofundam em múltiplas paragens, Soberana enlaça os frutos semeados pelas nossas mais velhas e os distribui por meio de narrações artísticas que saúdam as existências das que pisaram neste território antes, das que pisam no agora e das que pisarão em breve”, escreve a curadora definindo as exposições.
Casa Pretahub – Av. Nove de Julho, 50, Bela Vista, SP. De segunda a sexta, das 9h às 18h, de 9.11/a 30.11; gratuito.
Galeria Choque Cultural – Alameda Sarutaiá, 206, Jardins, SP. De terça a sábado, das 12h às 19h, de 5.11 a 30.11; gratuito.