Foto: Divulgação
A Galeria Millan apresenta até o dia 6 de novembro “Ouroboros Sucuri”, primeira exposição de Thiago Martins de Melo (São Luís, MA, 1981). A mostra, com curadoria do islandês Gunnar B. Kvaran, reúne 19 trabalhos inéditos, incluindo pinturas e esculturas, e traz um olhar curatorial retrospectivo sobre a produção do artista, bem como suas distintas narrativas ao longo do tempo.
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A trajetória de Martins de Melo revela em si um projeto de múltiplos experimentos sobre o ato de narrar e suas possibilidades na ampliação da técnica pictórica. Tais características marcam o corpo de trabalhos apresentados na exposição ao integrar animações em stop-motion e peças escultóricas ao suporte tradicional. Na prática do artista, é o desenvolvimento do enredo de cada trabalho que distende e movimenta a técnica, elaborando, por meio de diferentes referências e signos, seu processo intuitivo.
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A organização curatorial de “Ouroboros Sucuri” é divida em duas partes, sendo a primeira centrada na simbologia da serpente. Sua aparição em narrativas culturais e religiosas ao longo da história é evocada de diferentes maneiras nos trabalhos de Martins de Melo, a exemplo da obra que empresta seu título à exposição. A imagem de representação do “Ouroboros” consiste numa serpente que morde a própria cauda, em formato circular. Este conceito milenar, tendo sido observado pela primeira vez no Egito antigo, alude à ideia de eterno retorno, da evolução e da reconstrução. No trabalho de Martins de Melo, tal signo é revisitado tanto como uma moldura quanto como protagonista das cenas – aqui a serpente é tanto narrada quanto enunciadora e antecessora da trama.
Já a segunda parte da mostra apresenta uma “constelação de novas obras” que, segundo Kvaran, refletem temáticas e soluções formais mais recentes na produção de Martins de Melo. Nesta seção, as poéticas perpassam o ocultismo, o espiritismo, elementos de culturas indígenas e afro-brasileiras, temas da política atual, entre outros temas, por meio de um viés pós-colonial. Para o curador, esses trabalhos “formam uma construção complexa, em que o espectador passa por diferentes zonas da ficção baseada na realidade. É essa fusão de signos e símbolos, religiosos e espirituais, e referências sociais e políticas da memória coletiva que carregam essas obras com a sua energia singular e que as inserem na grande tradição da pintura histórica”.
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Embebidas de significado, essas imagens povoadas de histórias se justapõem e inauguram camadas de representações simultâneas, como no trabalho Ascensão – Queda – Aliança – Redenção (2021), cujo título já antecipa uma sequência narrativa a desenrolar-se. Tais imagens desvelam, ainda, referências singulares, muito caras ao repertório construtivo do artista. Trabalhos como “Ogum Corisco no Útero da Terra – para Glauber Rocha e Naná Vasconcelos (2020) e “Ogum Xoroquê expulsa os demônios de Caspar Plautius” – para Tuíra Kayapó, Sebastião Salgado e Marighella (2019) convidam o espectador a identificar e interpretar esses referenciais, bem como seus agenciamentos nas tramas apresentadas.
A exposição é acompanhada ainda de uma brochura que traz imagens de obras e o texto curatorial – uma extensa e rica conversa entre curador e artista, fruto de uma troca e parceria que vêm construindo ao longo de anos.
Galeria Millan – Rua Fradique Coutinho, 1.416, São Paulo, SP.