Acrílica sobre tela, escultura e colagens marcam a exposição “Memórias Resistentes”, do artista Gilberto Salvador, que estreia no dia 16 de outubro na Galeria Frente, em São Paulo. Os trabalhos emblemáticos do artista reúnem diferentes técnicas e representam bem as transformações que a década de 1960 provocou no cenário artístico brasileiro.
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“É uma exposição que traz um Gilberto que já não existe mais, é um Gilberto da década de 1960 e cujas obras que produzo hoje estão ancoradas naquele trabalho”, diz o artista em terceira pessoa revisitando as próprias composições.
As referências de Salvador passam por algumas novidades musicais e teatrais que marcaram a época. Como a peça de teatro “Eles não usam Black-Tie”, de Gianfrancesco Guarnieri, no Teatro Arena e a gravação de João Gilberto da canção “Chega de Saudade”, composta por Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes.
Também serviram de insumos para o trabalho criado pelo artista, a ebulição sociocultural da época. Desde a invenção do anticoncepcional, que ofereceu novas possibilidades às mulheres e fortaleceu o movimento feminista, até o famigerado slogan “sexo, drogas e rock & roll”, que fez a cabeça da juventude, incluindo o próprio Salvador.
E foi a criatividade, junto à rebeldia da juventude e ao engajamento com as mazelas da sociedade que guiaram o trabalho do artista. Assim nasceram algumas obras importantes, como “BLOFFT!” (1967) que representa o consumo se derramando sobre o poder e a violência e é uma obra característica do período da Nova Figuração – movimento artístico surgido nos anos 1960 no Brasil, com influências da Pop-Art estadunidense.
Outro destaque que poderá ser visto na exposição da Galeria Frente é “KOLYNOS” (1967), que pontua o início dos trabalhos no qual recortes de imagens, como nos cartazes de cinema, passam a fazer parte de suas criações. Em “RODANTES” (1969), outra obra que merece atenção, itens cinéticos em aço inox policromado e esferas coloridas de isopor e acrílico, exploram o potencial visual do objeto.
“Enfim Consegui Pular”, obra de Gilberto Salvador – Foto: Divulgação
“Embora silenciosos, os “RODANTES” sugerem sensações sonoras como se os planos metálicos e as esferas de cor, ao mover-se, nos oferecessem temas musicais”, afirma Fábio Magalhães, curador da mostra. Para ele, os trabalhos de Salvador, especialmente os da Nova Figuração, apresentam uma linguagem comprometida com o movimento e ao mesmo tempo inovadora. “O artista desenvolveu sua obra com autonomia, atento ao que ocorria, assimilando, a seu modo, a dinâmica das linguagens de seu tempo.”
A mostra “Memórias Resistentes”, de Gilberto Salvador, ficará em exibição até 16 de novembro na Galeria Frente. A classificação é livre e a entrada é gratuita.