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Mostra: MAM SP exibe cenário mais amplo da Semana de 22

Mulata, 1927, Alfredo Volpi – Foto: Romulo Fialdini

A virada do século 19 para o 20 trouxe uma forte vontade de renovação em todo o Brasil. Os núcleos urbanos começavam vivamente a se alterar em regiões como Amazonas e Pará, o neoclassicismo e ecletismo emergia na arquitetura do Rio de Janeiro, a abertura de novas avenidas alterava a vida urbana e, em São Paulo, fábricas surgiam com a chegada de imigrantes europeus. Artistas e escritores de vários quadrantes do país também se atentavam às mudanças que ocorriam nas artes e cultura europeias. Esse cenário amplo e repleto de mudanças é apresentado em “Moderno onde? Moderno quando? A Semana de 22 como motivação”, exposição com curadoria de Aracy A. Amaral e Regina Teixeira de Barros, que estreia em 4 de setembro no Museu de Arte Moderna de São Paulo. A mostra tem patrocínio do Bradesco, do Credit Suisse e da KPMG.

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A proposta da exposição é trazer ao público uma reflexão sobre a Semana de 22, para além de uma apreciação assertiva, e fugir das respostas certas ou prontas. “Reza o senso comum que a Semana de 22 foi um divisor de águas entre o velho e o novo. Entretanto, se nos debruçarmos sobre a produção (artística, musical, arquitetônica, literária) que antecede a Semana – e nos permitirmos considerar outras localidades do País além de São Paulo – encontraremos incontáveis evidências de que a Semana faz parte de um amplo (e descontínuo) processo que a extrapola, tanto temporal quanto espacialmente”, explicam as curadoras.

Aracy e Regina contextualizaram a Semana de Arte Moderna em um cenário amplo, com obras de
artistas de distintas regiões do País, enfatizando a ideia de que a arte moderna não esteve restrita a São Paulo. A mostra será dividida em três núcleos: os pré-modernistas, as obras e os artistas participantes do evento no Theatro Municipal, e os desdobramentos do movimento até 1937.

Para demarcar o arco temporal da mostra, foi eleito o período da virada do século, em 1900, até a implementação do Estado Novo por Getúlio Vargas, em 1937. O ano de 1900 representa o espírito da Belle Époque, período entre o fim do século 19 e começo do 20 marcado por transformações culturais, artísticas e tecnológicas.

O violeiro, 1899, Almeida Júnior – Foto: Divulgação Almeida Júnior

Assuntos como as renovações urbanas estão exemplificados em diferentes linguagens artísticas,
seja na pintura de Eliseu Visconti, que retrata a reforma promovida por Pereira Passos no Rio de Janeiro, ou na fotografia de Valério Vieira, sobre a inauguração do Theatro Municipal de São Paulo.

Temas igualmente atraentes para o pintor da vida moderna – como o lazer e o trabalho – figuram
lado a lado com obras de temáticas próprias ao universo artístico: modelos, ateliês e autorretratos. Apocalíptica, crítica ou bem-humorada, a imaginação se faz presente na pintura do manauara Manoel Santiago, nas ilustrações de Alvim Corrêa e nas colagens fotográficas de Valério Vieira.

Para além desses artistas que precederam a Semana, uma série de personagens dela sucedentes
são igualmente significativos para a arte moderna no Brasil. A tentativa de traduzir a ideia de brasilidade em uma imagem, por exemplo, está estampada nas reminiscências de infância de Cícero Dias, nas paisagens pau-brasil de Tarsila do Amaral e nos tipos populares registrados por Di Cavalcanti (pós-Semana) e Lasar Segall.

À medida que a década de 1930 avança, os tipos brasileiros passam a ser espelhados sobretudo nos trabalhadores rurais e nos operários. A arte ganha uma tônica engajada nas telas de Candido Portinari e Raimundo Cela, bem como nas gravuras de Lívio Abramo. Por outro lado, os ventos surrealistas deixaram marcas na pintura antropofágica de Tarsila, no essencialismo de Ismael Nery,
bem como nos questionamentos teológicos de Flavio de Carvalho.

Segundo Cauê Alves, curador-chefe do MAM, “mais do que uma celebração do centenário da
Semana de 22, o MAM contribui para a pesquisa e reflexão sobre o que significou esse evento, seus antecedentes e desdobramentos. A exposição certamente irá contribuir para redefinir a
importância histórica da Semana de 22 e ampliar a compreensão do modernismo como um
acontecimento nacional”.

“Ao longo do ano de 2021, a programação do MAM e de seu setor educativo abordam a magnitude
do modernismo no Brasil. Esta mostra dá continuidade às reflexões acerca do tema e conta com a
colaboração de diversas instituições e coleções privadas, reforçando as parcerias do MAM”, comenta Elizabeth Machado, presidente do museu.

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