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Mostra inédita de Alex Flemming marca inauguração da Galeria Arte132

Obra da mostra “Alturas”, de Alex Flemming – Foto: Divulgação

Com foco na produção artística brasileira, a Arte132, galeria comandada por Telmo Porto, abre suas portas em Moema, Zona Sul de São Paulo, no dia 16 de agosto. Na inauguração, a galeria apresenta a mostra “Alturas”, individual inédita do artista multimídia Alex Flemming, com curadoria da crítica de artes visuais Angélica de Moraes.

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“Temos particular interesse na produção menos conhecida dos mais reconhecidos pelo circuito brasileiro das artes e, também, na produção dos consagrados pela história da arte brasileira, mas que demandam revisão. Contudo, a arte de um país e de um período não é constituída apenas por alguns nomes definidos pelo mercado, mas por todos os artistas que desenvolveram um entendimento do mundo e do homem num momento. Pretendemos reincluir nomes no cenário das galerias e instituições, sempre com orientação curatorial e escolhas motivadas”, explica Porto.

Engenheiro por formação, Porto lecionou na Poli-USP por 40 anos. Mas a paixão pelas artes começou cedo e em família. Aos 13 anos, pediu ao avô para visitar o ateliê de Iberê Camargo, que na época morava no Rio de Janeiro: “Lembro como se fosse ontem meu deslumbramento diante dos carretéis do artista”, afirma. “As artes plásticas entraram em minha vida bem antes da engenharia”, completa porto, que é também conselheiro e patrono dos mais importantes museus de São Paulo.

Instalada em uma casa do segundo modernismo paulista construída em 1972 e assinada pelo arquiteto Fernando Malheiros de Miranda, a Arte132 passou por reforma recente, realizada pelo Escritório Piratininga, que manteve as belas linhas arquitetônicas do imóvel, adaptando os espaços para receber exposições e outras atividades. “A ideia é ter um espaço múltiplo voltado à arte, com encontros para discussões e cursos com especialistas sobre arte, história, literatura, música e interface entre humanidades e produção científica. Haverá, ainda, recitais de música, especialmente para piano ou canto”, completa Porto.

Obra da mostra “Alturas”, de Alex Flemming – Foto: Divulgação

“Alturas”

Marcando a estreia da galeria, Flemming, paulistano radicado em Berlim, apresenta 15 obras da série “Alturas”, realizada por ele desde 1988 até os dias atuais. São pinturas de grande escala nas quais o artista registra a altura corpórea de personalidades que ele admira e que visitaram seu ateliê. Pessoas que representam os mais diversos campos da cultura, brasileira e internacional, como Paulo Mendes da Rocha na arquitetura, Eduardo GaleanoIgnacio de Loyola Brandão e Milton Hatoum na literatura, Gilberto Gil, Chico César e Michael Nyman na música, Marianne Sägebrecht, Fernanda Torres e José Wilker representando a arte cênica, os cineastas Rosa von Praunheim, Karim Ainouz, João Moreira Salles e José Mojica Marins, os fotógrafos German Lorca, Frank Thiel, Tuca Vieira, Nair Benedicto e Eustáquio Neves, nas artes plásticas Amélia Toledo, Cristina Canale, Ayrson Heráclito, dentre outros. Flemming convidou cada um deles a ir a seu ateliê – em São Paulo ou Berlim -, tirar os sapatos, ficar de costas para uma tela e assim registrar a altura do retratado em linhas verticais sob pinturas abstratas.

O artista padroniza o tamanho das telas para elas serem sempre iguais e constituírem uma espécie de “Código de Barras da Cultura de Nosso Tempo”, na medida em que em cada tela há quatro, cinco ou seis personalidades retratadas.

“O que muda, e muito, com o decorrer das décadas, é o fundo. No início os fundos eram feitos com estêncil e depois, conforme passavam épocas e ciclos, eles se tornaram monocromáticos com pinceladas fortes”, explica Flemming. As letras que formam os nomes das pessoas retratadas fazem parte integral da obra e são escritas criptograficamente, como o artista já fez na Estação Sumaré do Metrô de São Paulo, sua obra pública mais conhecida.

Segundo Angélica de Moraes, “Podemos afirmar até que é quase um resumo de todos os caminhos por onde andaram seus pincéis. O quase fica por conta da prudência necessária à análise de obra tão fértil em experimentações e hibridizações de meios, processos e linguagens ao longo de mais de quatro décadas”, afirma a curadora.

Para Flemming, o trabalho iniciado há mais de 30 anos sublinha a importância da diversidade. “Todos somos iguais e todos somos diferentes”, diz o artista. Autêntico cidadão do mundo, Flemming foi filho de piloto de aviação e graças à profissão do pai, pôde viajar muito, desde pequeno, e traz as contradições, conflitos e a diversidade dessa trajetória para sua produção artística. A diversidade cultural, inclusive, é o valor celebrado na obra. Tirar os sapatos também tem carga metafórica: é o retorno ao chão, “de onde viemos e para onde vamos”, observa Flemming.

Obra da mostra “Alturas”, de Alex Flemming – Foto: Divulgação

Ao medir as pessoas, o artista ainda chama atenção para uma questão central da História da Arte: no início da Renascença houve um caloroso debate para se saber qual era a altura de Cristo, a pessoa mais retratada na época. O caso foi “resolvido” pelo pintor italiano Rafael, ao medir a suposta coluna onde Jesus esteve preso e supliciado. “Em Alturas, retrato concretamente a altura das pessoas do nosso tempo, com toda a carga artística que uma obra requer. A série é abstrata, mas também absolutamente real e concreta”, comenta Alex.

Angélica, curadora da mostra, destaca o modo original com que Flemming trabalha uma outra proposta para o gênero retrato. “Coerente com o foco de sua obra, fortemente ancorada na figura humana, ele substitui a imagem do corpo pelo índice da presença: a régua que informa a altura do retratado”, finaliza.

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