Cultura

CCBB SP traz a mostra “Encontros à Deriva: Retrospectiva Hong Sang-Soo”

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Hong Sang-Soo – Foto: Divulgação

Mesmo com o eventual crescimento das ferramentas de acesso a produções cinematográficas de todo o mundo – por meio das plataformas de streaming e também pela abertura do circuito comercial a linguagens mais distantes do “modo hollywoodiano” -, inúmeras obras de qualidade acabam por ficar de fora do circuito comercial convencional.

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A filmografia do sul-coreano Hong Sang-Soo encaixa-se neste contexto diante do público brasileiro, mesmo tendo ele sido premiado sucessivas vezes como diretor e roteirista em alguns dos principais festivais da indústria cinematográfica, como Cannes e Berlim. Com a mostra “Encontros à Deriva: Retrospectiva Hong Sang-Soo’, no CCBB-SP, pela primeira vez os cinéfilos brasileiros poderão conhecer todo o portfólio de longas do cineasta por meio de exibições entre os dias 11 de agosto e  06 de setembro. Complementarmente também está prevista a realização de um debate online no dia 18 de agosto com os especialistas Mariana Baltar e Pedro Maciel Guimarães.

Sang-Soo é reconhecido pela crítica mundial como um dos mais importantes e prolíficos realizadores em atividade. Neste aspecto, a curadora Isabel Veiga destaca internacionalização do seu trabalho, com a presença massiva de seus filmes nos principais festivais do mundo e na sua relação com a França. “Após rodar ‘Noite e Dia’ (2008) em Paris, quatro anos depois, em 2012, Hong Sang-soo convidou a consagrada atriz Isabelle Huppert para protagonizar ‘A Visitante Francesa’ em terras coreanas. Neste filme, ela dá vida a uma mesma personagem em três variações de histórias similares, porém independentes, estabelecendo uma forma do filme repartido, tão marcante no estilo de Hong.”

Outra característica de sua produção está na capacidade de amplificar os pequenos gestos do dia a dia em narrativas que apostam na ausência de uma grande missão ou jornada para os seus personagens, mesclando situações cotidianas ao eventual “absurdo” com um humor ácido e personagens em busca do preenchimento dos vazios de suas vidas. Vitor Medeiros, também curador da mostra, reflete sobre isso utilizando o filme “Portão de Regresso” (2002), ainda inédito no Brasil, como parâmetro: “A maioria dos filmes acompanha personagens artistas ou intelectuais que estão em deslocamento, viajando para lugares desconhecidos ou reencontrando antigas amizades”.

Este traço também surge na película “Na Praia à Noite Sozinha” (2017), mas de uma forma diferente. “Neste filme, Sang-soo propõe uma reflexão sobre acontecimentos que ocorreram na sua vida pessoal a partir do relacionamento com a atriz Kim Min-hee, deslocando-se do centro do evento principal. O título não é uma repetição da vida, mas um reposicionamento diante dos fatos noticiados sem simplificar as relações entre os personagens e o mundo”, aponta Samuel Brasileiro, que também integra a equipe curatorial.

Também se percebe, na obra do diretor, um diálogo sutil entre seus filmes, com histórias que se comunicam entre si através do retorno de temas comuns, e uma estética bastante própria, sendo extremamente econômica para os padrões da indústria cinematográfica. A valorização do diálogo também é uma constante, com aposta bastante evidente em falas densas e reveladoras de novos sentidos para o momento de seus personagens.

Sang-soo  é parte do novo cinema coreano (New Korean Cinema), ciclo iniciado nos anos 1990 após a redemocratização da Coreia do Sul e que revelou nomes como Kim Ki-Duk, Lee Chang-Dong, Bong Joon-ho e Park Chan-Wook. Seu método, lapidado no decorrer das duas últimas décadas, é bastante particular: contempla produções simples com cenas gravadas com equipe reduzida, mínima estrutura e baixíssimos orçamentos. Trata-se de um cinema minimalista, que flerta constantemente com formas alternativas de produção, mas que, geralmente, conta com atores de renome em seu país de origem. Alguns exemplos estão em participações de Yuh-Jung Youn (“Minari”, primeira sul-coreana a conquistar um Oscar na categoria Melhor Atriz Coadjuvante), Kwon Hae-hyo (“Invasão Zumbi 2”), Sun-Kyun Lee (“Parasita”), Jung Eun-chae (séries “O Rei: Monarca Eterno” e “The Guest) e Kim Min-hee (“A Criada”).

A oportunidade aberta pelo CCBB é marcada por intenso trabalho de busca e negociação para exibição das obras junto a produtoras brasileiras, europeias e coreanas, estas últimas determinantes para a liberação de filmes nunca exibidos no Brasil. Veja programação completa da mostra no site e no Instagram @ccbbsp.

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