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Com seis filmes na manga, uma série e uma novela para estrear, Gabriel Leone está mais em voga do que nunca

Foto: Jeff Segenreich

Gabriel Leone é conhecido por inúmeros papéis que já interpretou, a começar pela série global “Verdades Secretas”, quando representou um jovem rico sustentado pelos pais. O sucesso foi tanto que, após sua aparição, logo os olhos saltaram para o jovem ator. A série, de Walcyr Carrasco, será reapresentada agora no mês de agosto, e a segunda temporada – que está sendo gravada – vem na sequência, quando Leone fará uma participação especial com o mesmo personagem da primeira fase, Guilherme Lovatelli, o Gui. 

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De lá para cá, o ator fez vários trabalhos importantes, como a segunda fase de “Velho Chico”, além de “Os Dias Eram Assim” e “Onde Nascem os Fortes”, todos da Globo. Mas foi em uma série da Amazon Prime Video, “Dom”, em que interpreta o traficante Pedro Dom, que o moço ficou conhecido internacionalmente. “Eu acho que é um privilégio o que o streaming proporciona para a gente hoje em dia. Se você for pensar, uma das únicas entradas que teria no mercado internacional seria um filme que rodasse em um festival também internacional, e se seu nome entrasse no radar de elencos de fora ou coisas do tipo. Agora, com o streaming de “Dom”, nós estreamos em 240 territórios, são mais territórios que países que têm no mundo, e simultaneamente”, conta.

O sucesso de “Dom” foi tanto que a segunda temporada já está garantida. Mas não é só esse papel que Leone vai representar. Com seis filmes na manga para serem lançados, cujos trabalhos vêm desde 2017, sendo que um deles é “Eduardo e Mônica”, título homônimo da música de Renato Russo, da Legião Urbana, e que conta justamente a história da letra da canção – e onde ele faz um adolescente de 16 anos [quando gravou tinha 25] -, o ator ainda está terminando de gravar a nova trama global do horário nobre, o das 21h, “Um Lugar ao Sol”, em que faz o papel de um jovem chamado Felipe, que contracena basicamente com mulheres: Regina Braga, Denise Fraga e Andréa Beltrão [sua avó, mãe e parceira romântica, respectivamente].

Nascido e criado no Rio de Janeiro, Leone, que completa 28 anos nesta quarta-feira (21.07), namora há cinco anos com a também atriz e bailarina Carla Salle, e se orgulha de ter na parede de casa uma foto dos dois feita por Bob Wolfenson. Além dos trabalhos em teatro, TV e cinema, Leone também é músico, estuda e pesquisa o assunto, mas diz que, neste momento, não tem planos para se lançar na carreira de cantor. “ A música é minha vida, além de ouvinte, pesquisador, eu coleciono disco de vinil, enfim, nessa pandemia mais do que nunca eu me conectei, estudei um pouco de piano, fiz um curso online de teoria musical, é algo que eu amo e que se transformou também em um instrumento de trabalho. Vários personagens que eu fiz estiveram ligados à música, não só musicais, no teatro, mas no cinema e na TV, em que eu utilizei ou canto ou instrumento, mas, como eu disse, nenhum projeto nesse sentido.”

Foto: Jeff Segenreich

Leia seguir íntegra da entrevista feita por RG com Leone via Zoom.

Como foi gravar “Dom”, da Amazon Prime?

Foi um processo dos mais desafiadores da minha vida, porque é um personagem muito intenso. As circunstâncias são muito fortes, tem toda a questão da dependência química também, foi um processo bem intenso, e a gente terminou na risca, diante do lockdown, foi no tempo certinho antes de começar a pandemia.  Como eu falei, ao mesmo temo em que foi um processo muito intenso, físico e psicologicamente falando, também foi muito divertido e gostoso de fazer. Primeira vez que eu trabalhei com o Breno [Silveira, diretor da série] e viramos muito parceiros, nos relacionamos maravilhosamente bem. O Breno tem uma coisa legal que é sempre filmar na ordem cronológica da história, que é uma coisa muito específica, muito rara de acontecer. Uma coisa curiosa de contar a vida do personagem dia após dia, e eu não podia estar mais feliz com o feedback e com tudo o que está acontecendo. 

Como surgiu o convite para a série?

Do próprio Breno. A série é um projeto que chegou a ele pelo pai do Pedro Dom, há mais de dez anos, e ele decidiu, há dois anos, tocar o projeto. Aí ele me chamou para conversar, para me contar a história de vida do Pedro. Quando ele [Pedro Dom] estava em atividade ainda, eu era muito pequeno. E eu não me lembrava, então quando o Breno me contou foi tão impactante, tão real, que é difícil de acreditar, às vezes. Eu aceitei na mesma hora, porque sempre admirei o Breno, sempre tive vontade de trabalhar com ele. E eu vi nessa história uma possibilidade, uma coisa muito peculiar, de um menino, dos pais dele, do combate ao tráfico de drogas, um menino que foi dependente de drogas e depois se tornou um dos criminosos mais procurados do Rio, e contar a história dele para além disso, porque isso é o que está registrado. Procurar entender o ser humano por trás de tudo aquilo ali. Sem querer justificar nenhuma atitude errada, mas de entender como aquilo chegou até onde chegou. Me interessou muito construir esse personagem. E o Breno é um especialista em história de pai e filho. Eu sabia que ia estar muito bem acompanhado e amparado para contar essa história. 

Seu personagem tem inúmeras cenas com cocaína – até aquela lendária no sexto episódio, em que Dom praticamente lambe o chão depois da a droga cair e ele chega a ter uma overdose depois disso. Como foi gravar essas cenas? 

Foi o que eu te falei. Essa cena é muito importante e foi fundamental termos feito na ordem cronológica dos fatos porque poucos dias antes eu tinha gravado a cena do Lico, que é o melhor amigo do Pedro, que morre de overdose, nos braços dele. E a overdose que o Pedro causa a ele mesmo é de uma certa forma a culpa que ele está levando por conta do amigo. Então, era uma situação extrema por si só, por isso eu te falo da importância da ordem cronológica, acho que para mim, enquanto intérprete, trouxe um peso maior ainda. E essa cena foi uma das que eu me lembro como uma das mais bonitas, com simbiose com a equipe, ele nos meus braços, porque passamos o dia todo fazendo as cenas do capítulo cinco e no final do dia iríamos fazer a cena da overdose na rua. Só que eu já estava tão desgastado das cenas do dia, que o Breno falou que podíamos jantar, tomar um banho e me recompor ou gravar direto, e decidimos gravar direto, aproveitando o estado físico que eu já estava ali. Para você ter uma ideia, a equipe desceu toda pelas escadas para nos pegar lá embaixo. Então foi um momento em que eu senti que a equipe estava comigo para contar a história.

Você mesmo falou que vocês gravaram antes da pandemia, certo? Sua preparação contemplou um estudo de campo em morros do Rio com traficantes ou ex-traficantes?

Não. A minha preparação foi sempre como Breno e a Maria Silva, ensaiando as cenas, construindo as relações entre os personagens. Eu me lembro que eu fui uma vez ao Morro Azul, onde a gente filmou, e para fazer um teste de lente, na verdade. Foi mais um teste de fotografia e me chamaram para ir porque eu ia passar muitas vezes por lá. 

As diversas cenas de fuga, roubo, invasão de apartamentos e tudo mais envolveram muita adrenalina. Como foi gravar essas em especial?

Essa parte da série, por mais assalto e roubo que tenha, é uma parte divertida entre eles. Tem uma adrenalina, como você mesma falou, que movia o Pedro. A gente se divertiu muito gravando essas sequências.

Você pode dar um spoiler de como será a continuação, porque a primeira temporada acaba na emboscada dentro do túnel e o Pedro Dom lançando a granada?

Eu não posso dar spoiler, mas assim, o que eu posso dizer é que há um livro publicado que contempla a vida do Pedro. É engraçado que eu vejo muita gente que fala que terminou a primeira temporada e não quer saber de nada mais, quer esperar a segunda temporada, e há gente que vai buscar informação para ver o que acontece na sequência. 

Foto: Jeff Segenreich

Como você se sente como protagonista de uma série que repercutiu internacionalmente?

Eu acho que é um privilégio que o streaming proporciona para a gente hoje em dia. Se você for pensar, uma das únicas entradas que teria no mercado internacional seria um filme que rodasse em um festival também internacional, e se seu nome entrasse no radar de elencos de fora ou coisas do tipo. Agora, com o streaming, o “Dom” nós estreamos em 240 territórios, são mais territórios que países que têm no mundo, e simultaneamente. Eu fique muito feliz em saber como o “Dom” teve um sucesso mundo afora. Acho oque a própria Amazon apostou na nossa séria como a primeira deles original. Quando você fala da relação pai e filho e da questão da dependência química, do contexto que é Brasil, Rio de Janeiro, favelas, a temática da história é muito universal. Nós já tínhamos uma expectativa de que isso [o sucesso] fosse acontecer, mas foi superada em muito. Ou seja, é a série da Amazon, de língua não inglesa, mais vista do mundo.

E o filme “Eduardo e Mônica”, deve estrear neste animo ainda, é essa a previsão?

Não, não tem previsão. A ideia era apresentar em junho do ano passado, eu fui para o Festival de Miami, onde a película foi super bem, mas não conseguimos estrear por aqui por conta da pandemia. E por enquanto ainda não tem previsão porque a gente ainda vive um momento bem delicado, estamos longe de ter a população toda vacinada. Tem toda a possibilidade de novas cepas chegarem. Esse filme a gente fez com tanto carinho, com tanto amor, que a gente queria que o máximo de pessoas pudesse assistir no cinema. 

E como foi fazer um adolescente, tão diferente do homem que você é hoje?

É curioso isso, tomara que no ano que vem a gente consiga lançar o filme. Vamos pensar que o filme estreie em 2022, eu fiz o filme em 2018, ou seja, seria lançado quatro anos depois. Tem grande chance por conta da caracterização, do personagem, de as pessoas acharem que eu fiz dez anos atrás (risos). Na época das filmagens eu estava com 25 anos, fazendo um personagem de 16. Eu acho tudo muito interessante, primeiramente porque a Legião Urbana é a minha banda favorita, desde moleque, por influência dos meus pais, obviamente, eu sempre fui “legionário”, conheço tudo. Frequento os show que eles fazem hoje em dia com o André Frateschi nos vocais, que é um grande amigo meu, infelizmente eu não pude ver o Renato [Russo, vocalista e compositor da Legião Urbana que morreu em 1996], que morreu quando eu tinha três anos de idade. Eu nunca imaginei que poderia interpretar um personagem criado pelo Renato, que é uma música que todo mundo já ouviu [“Eduardo e Mônica”]. E a respeito do personagem foi uma delícia  fazer, de fazer essa pesquisa e resgatar memórias corporais e energéticas minhas de quando eu tinha a idade do Eduardo. Foi muito gostoso, e principalmente o jogo com a Alice [Braga], nós nos tornamos grande amigos. É um filme sobre um casal que tem a sua diferença de idade e que vai lidar com os problemas do dia a dia. Não existiria o Eduardo se não fosse Mônica dela. Foi uma parceria muito completa  e um dos processos mais gostosos que eu fiz de construção de personagem, esse resgate do Gabriel mais novo foi muito legal.

E sobre seu papel em “Um Lugar ao Sol”, que a é a próxima novela das 21h da Rede globo.

Eu estou voltando, depois desse ano de pandemia que não deixou as coisas acontecerem. Desde 2018 que eu não fazia nada na Globo, então estou voltando para uma novela super bonita da Lícia Manzo, que é uma autora com quem eu sempre quis trabalhar, dirigida pelo Maurício Farias, que também é um cara que eu admiro muito. E é um personagem muito específico, eu sempre tenho falado sobre isso, eu contraceno e ele se relaciona basicamente com mulheres, quase que exclusivamente. Eu ouso dizer que 80 e poucos por cento da novela eu estou contracenando com mulheres. Que é a minha mãe [Denise Fraga], minha avó [Regina Braga], meu par romântico [Andréa Beltrão]. Curiosamente, são três atrizes que já estão longe das novelas há um tempo também. A Denise e a Regina fazem muito teatro, a Andréa também, mas já vinha há muito tempo fazendo “A Grande Família” e “Entre Tapas e Beijos”, e são atrizes maravilhosas, que eu admiro, eu sempre sonhei em trabalhar com a Andréa Beltrão, desde que eu comecei a fazer teatro, sempre acompanhei os trabalhos dela na TV e no teatro. O personagem [Felipe] foi criado pela avó, que é psicóloga, e ele estuda psicologia, mas ele tem um lado musical muito forte por causa da mãe, que é cantora e compositora, e que lida com o problema do alcoolismo. Então tem essa questão familiar, de ele ter sido criado e seguir a mesma profissão da avó, ter dentro dele o lado musical por conta da mãe, e ter essa relação dele com a Andréa, que e uma mulher muito mais velha do que ele, e essa história se isso é ou não tabu. Como disse, eu estou terminando de gravar a novela, e eu e a Andréa nos propusermos a nos divertir com o trabalho, e foi tão gostoso, de curtir essa relação deles. Claro, eles vão ter altos e baixos, então o que a gente mais faz é dar risada um com o outro. Está sendo uma delícia, ela é uma parceirona, como dizemos, a bola rola redonda entre mim e ela. Foi como que eu te falei, está sendo um privilégio poder estar trabalhando em um momento como esses [de pandemia] – muitas pessoas da nossa área ainda passando dificuldades porque não estão trabalhando -, quanto mais num projeto tão bonito como esse com atrizes maravilhosas. 

Tirando a novela e a próxima temporada do “Dom”, quais são seus próximos projetos?

Eu tenho alguns filmes para lançar. É curioso porque o cinema nacional, às vezes, demora para lançar os projetos, então tem filme de 2017 que eu fiz que não lançou no cinema ainda. Se não me engano, ao todo são seis filmes que eu tenho para lançar. Fora a estreia da novela, a segunda temporada do “Dom”, que começo a gravar no mês que vem. 

E com essas guitarras e esse violão que estou vendo atrás de você, vem música por aí também?

A princípio, projeto de música especificamente, não. A música é minha vida, além de ouvinte, pesquisador, eu coleciono disco de vinil, enfim, nessa pandemia mais do que nunca eu me conectei, estudei um pouco de piano, fiz um curso online de teoria musical, é algo que eu amo e que se transformou também em um instrumento de trabalho. Vários personagens que eu fiz estiveram ligados à música, não só musicais, no teatro, mas no cinema e na TV, em que eu utilizei ou canto ou instrumento, mas, como eu disse, nenhum projeto nesse sentido. Eu estou vivendo um momento tão bacana de emendar trabalhos, que eu me dedico, que eu foco 100%, que eu não quero fazer uma outra coisa só por fazer. Quando chegar a hora eu quero tirar um tempo para me dedicar a isso. 

Você é um homem bonito, como cuida da beleza, do cabelo, do corpo?

Não tenho nenhum ritual de beleza não, meus cuidados são básicos, de higiene, normal. E o que eu faço é que sempre pratiquei esportes desde moleque, pratiquei diversos esportes, eu gostaria até de ter uma rotina esportiva mais intensa, mas por conta da profissão eu não tenho muitos horários, tipo marcar um horário para uma atividade sendo que no dia anterior eu posso ter uma [filmagem] noturna que entra madrugada adentro. Mas o que eu procuro sempre fazer e gosto, é correr, me faz muito bem, na pandemia me fez muito bem, comprei uma esteira e passei meses correndo dentro de casa. E academia, fiz mais por conta de personagens, quando fiz “Onde Nascem os Fortes”, por exemplo, porque era um personagem que tinha que estar mais forte e tal. Mas fora isso prefiro dar minha corridinha, só. 

 

Foto: Jeff Segenreich

E como você vê o feminismo?

Ah, eu acho que é fundamental e necessário, eu fico feliz que as questões feministas tenham ficado cada vez mais em foco nos últimos anos e ganhando cada vez mais força. Porque desde que o mundo é mundo o que impera é o machismo. Já passou da hora e muito de a gente ter direitos iguais, um mundo mais igual.

E como você vê o governo federal e seus boicotes à área da cultura?

É uma tristeza sem fim. Eu não me surpreendo, porque isso tudo foi anunciado que seria feito. É muito simbólico que uma das primeiras atitudes tenha sido destituir o Ministério da Cultura. Então, de cara, quando esse governo começa, ele já diz que um dos pilares dele será um combate à cultura. É muito triste, muito retrógrada essa situação. Eu há pouco tempo estava lendo sobre a Cinemateca Brasileira, abandonada há meses já, tantos filmes que já se perderam, a principal Cinemateca da América Latina é nossa. Porque as pessoas pensam em Cinemateca como só coisas de artistas, mas há registros esportivos, da Segunda Guerra Mundial, registros de shows, é o acervo da cultura em todos os aspectos, e aquilo ali está abandonado, porque o governo quer que a nossa memória se esvaia, para que aquilo tudo se perca no tempo. Mas eu estou esperançoso, se Deus quiser, que no ano que vem a gente mude esse panorama, pois a continuar assim é uma perspectiva muito triste. 

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