Cultura

Flávia Alessandra: “Eu e Otaviano encontramos a nossa maneira de fazer dar certo”

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Foto: Vinicius Mochizuki

A novela “Salve-se Quem Puder”, da Rede Globo, termina nesta sexta-feira (16.07) e tem como uma de suas protagonistas a atriz Flávia Alessandra, que em seu papel passou por um relacionamento abusivo com o marido e foi afastada de sua filha, com quem se reencontra no final da trama.

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O trabalho teve de ser interrompido por conta da pandemia e voltou a ser exibido neste ano, apesar de as cenas terem sido já gravadas no ano passado. Com muito talento, Flávia conseguiu despertar a emoção do público com sua representação e chegou ao trending topics do Twitter, tamanha a repercussão de sua personagem, Helena.

Em papo com RG, Flávia contou sobre a carreira, família, casamento e a vida como mãe. Leia a seguir a entrevista.

A novela acaba hoje e seu nome foi parar nos trendings do Twitter. Imaginava essa repercussão toda?

A gente está experimentando algo novo, que é ver a novela no ar muito tempo depois da gravação. As cenas gravadas depois da retomada em período de quarentena mexeram muito comigo. Eu me refiro à toda a sequência envolvendo o drama com a filha e a relação abusiva com o marido. Quando gravamos eu fiquei muito mexida, chegava em casa exausta, mas feliz e realizada. É muito gratificante sentir e ver esse retorno do público. Fazer novela é fazer parte de uma engrenagem imensa, profissionais que precisam estar unidos por um objetivo maior, que é a obra em si. Quando uma cena ganha destaque, quem sai ganhando é a história.

Como foi assistir às cenas depois de tanto tempo, já que gravaram no ano passado?

Foi uma novidade para mim, afinal tive a chance de acompanhar junto com o público o desenrolar da novela. E é uma delícia, poder ver na TV, interagir nas redes sociais. Eu tento marcar compromissos em horários que não batam com a exibição do capítulo. Assim posso sentir a emoção das cenas junto com todo mundo.

Como é a Flávia mãe? Muito diferente da Helena?

Ah, a gente tem em comum o amor incondicional. Mas, até em função do que ela já passou na vida, Helena é muito mais controladora do que eu. Aqui em casa temos muito diálogo entre todos nós e a liberdade é um grande estímulo à responsabilidade. Sou uma mãe mais segura. E a parceria com o Otaviano [Costa, marido] é algo que contribui muito para termos uma relação com as meninas baseada no amor e na confiança.

Qual é o seu maior medo em relação a suas filhas?

O meu maior medo é perder uma delas, porque eu já vivi isso na minha família. Acho que é um medo de uma tragédia se abater, uma doença, um acidente… Não que eu pense nisso no meu dia a dia, que isso me assombre, que eu conviva com esse temor. Mas, ao ser questionada sobre isso, é esse pensamento que vem à cabeça.

Foto: Vinicius Mochizuki

Teve medo de falhar na maternidade?

Eu faço de tudo para caminhar bem distante da culpa. Mas não tem um caderninho de receitas que nos ajude a dosar os sentimentos ou que tenha um modo de fazer que nos oriente sobre como devemos nos comportar diante dessa ou daquela situação. O que me acompanha não é um medo de falhar, mas é sempre um questionamento ou uma avaliação se estou certa nas minhas escolhas, se tinha como fazer melhor. Educar é muito difícil. Mas quando a gente está aberto para trocar, a gente acerta mais.

Qual conselho você daria hoje para Flavia que teve a Giulia?

Siga seus instintos. Vai dar certo, porque a sua menina tem um coração de ouro!

Você é uma mulher linda e muito elogiada. Sente ainda pressão do mercado para se manter em um certo perfil?

Sim. Há um caminho longo e árduo que estamos trilhando para que essa realidade faça menos reféns. Mas infelizmente estamos longe disso. Por vezes, há muita crítica, rivalidade e fiscalização por trás de um elogio. E a vaidade, quando acessada numa frequência que não é saudável, pode despertar questões que nos aprisionam. E isso em nada tem a ver com autocuidado e autoestima. Nesse caso, é um movimento mais potente, de dentro para fora, que fortalece a força feminina. E nos deixa menos vulneráveis a essas pressões.

O mais importante disso tudo é que as mulheres estão descobrindo que não existe esse padrão. A beleza está saindo desde lugar fútil e vazio para um aliado da nossa autoestima. A estética pela estética não está mais no foco do interesse para as mulheres. É um período de transformação e de descoberta, que passa pelo real papel da mulher e dos lugares que ela quer ocupar, sem essa pressão desnecessária e doentia.

E eu tenho sentido e percebido, até através de uma interação direta com o público essencialmente formado por mulheres, que faço parte deste novo olhar para essa questão feminina. Não estou dentro de nenhuma caixinha. Eu me manifesto e me coloco de acordo com o meu desejo. Não faço parte de nenhum estereótipo. Eu me recuso a entrar numa caixinha que queriam me colocar. “Isso não combina com você”, “Vai mexer de novo no cabelo?”, “Vai usar isso com essa idade?”, “Mas você é casada, com filhos, vai postar essa foto?”. É libertador ser quem a gente é. No dia em que a gente aprender que ninguém tira isso da gente e que isso tem a ver com o nosso autocuidado e amor próprio, será um avanço para sermos ainda mais respeitas seja qual for a nossa escolha. Uma mulher tem por obrigação fortalecer a outra. Umas têm mais potência do que a outra, e ok. Mas unidas essa força se equilibra.

Como surgiu a ideia do fa.forpeople?

Eu já queria colocar de pé o meu bazar, especialmente para colocar em prática algo que acredito muito: um modelo de consumo mais consciente. Com a chegada da pandemia, isso se tornou urgente. E entendi que conseguiria fazer isso no ambiente digital e que o bazar poderia ter um caráter mais abrangente, como plataforma de vendas de peças de segunda mão para qualquer pessoa que quisesse fazer parte. Desde o início o fa.forpeople nasceu para também ajudar, com o destino de parte das vendas a entidades como o IKMR, que recebe o meu apoio. O fa.forpeople é fruto da minha parceria com a evva.

Você completa 15 anos com Otaviano. Acredita em amor para a vida toda?

Acredito em parceria por anos e anos e anos. Pela vida toda? É possível. É claro que precisa ter amor nisso, mas não o conceito romântico. Não somente. Tem que ter admiração, carinho, respeito, cumplicidade, lealdade. E cada casal com o seu combinado. Eu e Otaviano encontramos a nossa maneira de fazer dar certo. Nós somos muito parecidos, sim, e talvez isso seja menos conflitante em uma relação. Embora cada um tenha a sua personalidade, uma forte personalidade, rs. Nem sempre as ideias batem e isso faz parte, está tudo certo. Por outro lado, temos interesses em comum e a maior deles está no nosso núcleo familiar. A família se tornou a nossa prioridade desde que ficamos juntos. Taí o nosso segredo.

Geralmente discutem por quê?

A gente discute pouco, bem pouco. Por exemplo, no período mais restrito da quarentena, a gente se estranhou, rs. Mas não foi nada grave. Bobagens do dia a dia. Ficamos confinados em família, tínhamos combinados para fazer a casa funcionar. Foi um período cansativo, o mundo passou por um esgotamento emocional.

Foto: Vinicius Mochizuki

Sexo melhora com o tempo?

Opa! No nosso caso, sim! Acho que isso tem a ver com admiração. E vai além da nossa forma física. É olhar para o outro e sentir orgulho de como a pessoa é, da forma como ela trata as pessoas, de suas realizações…

Você sente pressão do mercado?

Sim. Há um caminho longo e árduo que estamos trilhando para que essa realidade faça menos reféns. Mas infelizmente estamos longe disso. Por vezes, há muita crítica, rivalidade e fiscalização por trás de um elogio. E a vaidade, quando acessada numa frequência que não é saudável, pode despertar questões que nos aprisionam. E isso em nada tem a ver com autocuidado e autoestima. Nesse caso, é um movimento mais potente, de dentro para fora, que fortalece a força feminina. E nos deixa menos vulneráveis a essas pressões.

Qual conselho você daria para quem quer seguir essa carreira?

Assim como em qualquer outra profissão, a base é o estudo. E não é apenas estudar cinema, artes cênicas, teatro… É estudar sempre, estudar artes, consumir arte. E um processo que não tem fim. Precisa se renovar constantemente. E essa renovação também acontece no dia a dia. Mantenha a escuta aberta, troque com colegas mais velhos, ouça, absorva e observe. E não dispense o frescor e a riqueza que pode estar na relação com os colegas mais novos.

Já temos algum novo trabalho?

Sim. Tenho um documentário em andamento e algumas conversas sobre projetos futuros. Mas eu contarei em breve.

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