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Multifacetada, Paloma Bernardi produz sem parar e tem vício em redes sociais

Foto: Mafe Frasseto

Nem parece que aquela jovem linda e carismática teve tanto trabalho na pandemia, mas no bom sentido, atuando sem parar em diversas produções e projetos. Do teatro online a curtas-metragens, Paloma Bernardi, 36, tem se dedicado em tempo integral a trabalhos como atriz, sem se preocupar sobre quando a obra vai ser exibida. Para ela, o negócio é estar ativa e produzir. 

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Descoberta ainda criança durante um passeio não shopping ao lado da mãe quando tinha 4 anos, Paloma começou a carreira com desfiles para marcas infantis e comerciais, e sempre teve como companhia uma turma bacana, além da presença dos pais, o empresário Nestor Bernardi e a artista plástica e ex-bailarina do Balé Popular de Recife, Dil Bernardi.

Aos 11 anos, fez sua primeira novela, “Colégio Brasil”, exibida no SBT. Após o primeiro projeto para a televisão, Paloma passou por um período sabático, no qual aproveitou para estudar e concluir o curso superior de Rádio e TV.

A atriz voltou às novelas em “Os Mutantes – Caminhos do Coração”, da RecordTV, em que interpretou a personagem Luna. Mas foi no papel da doce Mia, em “Viver a Vida”, na Rede Globo, que ela se consagrou, ganhando a adesão e simpatia do público e sendo premiada com o Troféu Super Cap de Ouro 2010.

Dali em diante, foram vários trabalhos consecutivos na TV Globo, o que deixou Paloma ainda mais em evidência. Mas ela não parou por aí: fez mais TV, teatro, cinema, série. Fez mocinha, fez vilã. E continuou acontecendo. Com a chegada da pandemia, quando tudo indicava ficar paralisado e sem muita perspectiva, para Paloma, a arte deu nova chance e ela fez inúmeros trabalhos da casa dos pais, em São Paulo, onde decidiu ficar durante o processo de isolamento social. 

Atualmente, Paloma tem desenvolvido projetos artísticos. Ela lançou em setembro o podcast “#Tdvaificar…”, com direção de Jaqueline Vargas. O suspense tem como tema a pandemia em estágio avançado. Paloma também gravou um curta-metragem dirigido por seu cunhado, Bruno Montoro, chamado “Em Casa”, no qual retrata as confusões emocionais causadas pelo isolamento. E ainda tem o projeto “Mientras”, com o namorado, Eduardo Pelizzari, em que declamam poemas e músicas de forma poética e lúdica em formado para o Instagram. Falando em redes sociais, ela admite ser uma adicta, mas com saúde mental. Se preocupa com as críticas, mas não se deixa abater por elas, diz que recebe a bolada, faz uma oração e tudo passa. 

Em um papo bacana via Zoom com RG, Paloma contou sobre a carreira, projetos e mais projetos – sim, ela não para – e comentou sobre política, o status anticultura do governo Jair Bolsonaro (sem partido) e o fato de ele não a representar. Veja a seguir íntegra da entrevista.

Foto: Mafe Frasseto

RG – Você já fez tantas coisas que é difícil nos concentrarmos em um tema, vamos falar do seu começo, lá atrás, quando tudo começa. Você foi descoberta quando passeava em um shopping center, certo, como foi isso?

Paloma Bernardi – O meu começo começou há muito tempo, se eu for pensar, eu tenho 32 anos de carreira, porque eu comecei a trabalhar com quatro anos de idade. Então eu nem me vejo fora do mundo artístico, porque desde pequenininha era a minha brincadeira de criança. Eu comecei com publicidade, bem aquela história típica, estava no shopping, andando com a minha mãe e estava tendo um desfile em uma loja infantil e me perguntaram se eu não queria desfilar, eu disse que sim, aí nesse desfile havia uma dona de uma agência infantil, minha mãe se sentiu confortável, confiou, meus pais sempre me acompanhando em tudo. Minha vida infantil era ir para a escola e fazer teste, fazia, passava e estrelava um comercial. Eu sou da turma da Fernanda Sousa, Paulinho Vilhena, Fernanda Paes Leme, uma galera que fazia muita publicidade aqui em São Paulo. 

Com 11 anos eu fiz a minha primeira novela, no SBT, foi a primeira vez que eu tive contato com roteiro, com personagem, e a dar vida a uma história que não era minha. E essa coisa de estar dentro de um set, ter que decorar o texto, representar, era tudo para mim, e o que escolhi para a minha vida. Eu já fazia aula de teatro, de dança, eu cheguei a me forma em artes cênica, também, a minha prioridade sempre foi ser atriz. 

RG – Estudou Rádio e TV também, não?

Paloma Bernardi – Embora eu tivesse para mim que o que queria era seguir a carreira de atriz, eu via que era um meio muito instável, e decidi fazer uma faculdade de Rádio e TV pois era um curso que ia acrescentar na minha missão de ser atriz, na minha profissão, que envolvia cenário, figurino, produção etc. É tirar o projeto do papel e executar. Eu gosto de ajudar nesse processo criativo e isso no teatro é o que a gente mais faz. No audiovisual eu entendo o que os outros profissionais estão me pedindo em relação a luz, áudio, o que me deixa mais segura para trocar com meus produtores, diretores, com toda a equipe porque eu entendo sobre o que está sendo dito. A maratona de novelas que fiz na Globo me trouxe uma maturidade e uma independência para andar com as minhas próprias pernas.

RG – Você está em São Paulo?

Paloma Bernardi – Sim, por conta da pandemia eu vim para cá para ficar com os meus pais (Nestor e Dil Bernardi), porque no Rio eu fico sozinha. 

RG – E você tem irmãos?

Paloma Bernardi – Sim, dois, Diego, que tem 35 anos, e a Rayssa, que tem 30.

RG – Conte sobre sua personagem Monique, de “Monique e a TPM”.

Paloma Bernardi – Esse trabalho é muito especial na minha vida porque 11 anos atrás eu bati na porta dessa produtora, que é a Moonshot Pictures, e disse que queria trabalhar com eles. Na época eles estava começando o processo de “Sessão de Terapia”, com o Selton Mello, e um produtor virou para mim e disse: eu tenho esse filme! Eu disse, beleza, e comecei a estudar como se fosse gravar no mês seguinte, eu tomei posse da personagem. Mas passaram-se 11 anos e acabou que filmamos agora no início deste ano. Quando a gente planta uma sementinha acreditando, a gente colhe agradecendo, porque eu sabia que era para ser minha essa personagem. A Monique é uma mulher, como todas nós, com suas crises na TPM, a personagem foi lapidada. Acho que está acontecendo no momento certo. Antes era uma comédia romântica em que a personagem queria encontrar o seu amor. Hoje, o amor dessa personagem é uma comédia romântica consigo mesma, a TPM aflora a ira, a gula, a raiva, tudo. Todos esse sentimentos que nós mulheres conhecemos muito bem são trabalhados nessa série. Acho que o público vai se identificar muito, não só as mulheres, como os homens também, pois mostra uma mulher que começa a aprender a lidar com essa emoções. 

RG – E tem uma previsão de estreia?

Paloma Bernardi – Então, faltam ainda umas três diárias que foram adiadas por conta da pandemia, apesar de seguirmos todos os protocolos e tal, mas acredito que no ano que vem.

Foto: Mafe Frasseto

RG – E a série “Ameaça Invisível”, da RecordTV?

Paloma Bernardi – Eu posso dizer que sou uma atriz muito privilegiada nessa pandemia, porque eu não parei de trabalhar. Porque está tão difícil para todo mundo, sobretudo para a classe artística, mas o projetos foram vindo. A minha casa virou o meu estúdio, o meu cenário, virou o meu polo de criação. A princípio, essa série era só um projeto, um piloto, eu e meu namorado [Eduardo Pelizzari] em casa, o diretor juntou as pessoas do Brasil e do exterior, cada um em sua casa gravando do seu celular mesmo, e foi aprovado, vai ser exibido na RecordTV. Nós vimos que é possível fazer arte mesmo na dificuldade. Eu e Eduardo fazemos um casal na série, TomTom, que é uma digital influencer, bloguerinha, fitness, e ele, Chris, que vende produtos para musculação. A história conta ainda com um vírus, como se fosse Covid-19, mas não é. 

RG – E esse tem uma previsão de estreia?

Paloma Bernardi – Eu acredito que no segundo semestre deste ano.

RG – Você fez um curta-metragem chamado “Em Casa”, do que se trata?

Paloma Bernardi – O curta-metragem foi do meu cunhado, Bruno Montoro, que é diretor e que me convidou a participar. Criamos uma personagem que sou eu, sozinha, que está em fúria com toda essa situação [da pandemia], ela passa por altos e baixos, ela está uma pilha, mas, quando a mãe liga e pergunta como vão as coisas, ela diz que está tudo ótimo. É como quando a gente está diante das câmeras, dizemos que está tudo bem, mas como não ficar com a estrutura abalada nessa pandemia? Eu preciso sair de casa, respirar, brigar com mãe, com o namorado, enfim, muitas crises existenciais estão acontecendo. Esse curta mostra tudo isso, essa monotonia toda que tomou conta da gente, indo da sala para a cozinha, da cozinha para o quarto e de novo para sala. São três minutos de pura interpretação, porque nem texto tem, são mais as reações. O Bruno até inscreveu o curta em festivais no exterior para mostra essa realidade que todo mundo está vivendo. 

RG – Fale sobre a audiossérie “Tdvaificar…”, como surgiu a ideia e como funciona, como te ouvir?

Paloma Bernardi – É como se a gente trouxesse lá de trás as radionovelas. Antigamente todo mundo pegava um radio, colocava perto do ouvido e deixava a imaginação fluir. E eu tive essa oportunidade, com a Jaqueline Vargas, que é uma baita roteirista. Ela criou um suspense dentro de um prédio, e também está acontecendo algo no mundo como esse efeito global da pandemia, só que outro acontecimento. E toda a captação desse projeto foi através do áudio. É um podcast, que está disponível em todas as plataformas. Foi todo um trabalho de interpretação, o choro, o beijo, um cavalo passando, uma ventania. E eu acho que cada um vai criar sua própria história com esse elementos que a gente colocou no podcast. O projeto foi um convite da Jaqueline, tudo que apareceu eu fui abraçando.

RG – E sobre a declamação de poemas e músicas do projeto “Mientras”, com o seu namorado, Pelizzari? 

Paloma Bernardi – Esse é um projeto nosso, que a gente começou a desenvolver e a escrever. Pensamos, e agora? A arte é o que me alimenta, a arte é o que faz eu me sentir bem, vamos respirar arte, meu amor. Então começamos a pesquisar alguns poemas e letras de música que nos identificássemos de alguma maneira. “Mientras”, significa por enquanto, enquanto isso, enquanto aquilo, e eu comecei a estudar espanhol também na pandemia. Um dos nosso vídeos foi feito em espanhol, que se chama “La Cumplicidad”, que é uma música, e pensamos enquanto nós estamos aqui dentro, o que pode estar acontecendo lá fora? Ou enquanto tudo acontece lá fora, o que está acontecendo aqui dentro? Nós deixamos a poesia e a música nos conduzirem e queríamos dividir com os nossos seguidores – o projeto é para o Instagram – reflexões, mensagens positivas, e arte, que é o que a gente mais gosta de fazer. Nós fizemos uns quatro episódiose estamos preparando outros para alimentar o projeto, porque não queremos parar.  

RG – Você ainda fez uma peça online chamada “Novo e Normal”, certo, conte sobre ela e se pretende fazer novas apresentações

Paloma Bernardi – Verdade. Também fui convidada pelo nosso diretor, o Isser [Korik, diretor do Teatro Folha]. Ele propôs uma peça virtual em que os envolvidos não teriam contato e tal. Foi um frio na barriga como se eu estivesse de fato ao vivo e a cores, porque o nosso maior desafio desse projeto era a tecnologia. Eu acredito que o teatro online não vá substituir o teatro convencional jamais, mas acredito que ele veio para somar. Nós tivemos públicos de 300 pessoas, incluindo gente de fora do Brasil, com Argentina, México, Nova York. Pensei como vamos lotar uma plateia presencialmente se não for assim, de forma virtual? O problema é que, às vezes, a internet dá umas travadas, como aconteceu aqui, com a gente, mas o legal é que a peça foi pensada para isso, para o improviso. Porque de repente eu olhava a outra atriz e ela estava congelada, vinha o improviso até ela voltar. Esses eram os nosso desafios. Porque tinha um time no Rio, Samara Filipo, Juliana Alves; o Jairzinho e a Tânia Kahlil, em Nova York; o Sérgio Mamberti e Sueli Franco, esses dois que faziam o casal mais velho e mais distante da tecnologia, na peça. Foi muito legal. 

RG – E tem mais algum projeto depois desses tantos que falamos?

Paloma Bernardi – Eu vou começar a fazer um outra curta, neste mês, chamado “Senhora do Andador”, do Rogério Boo. Minha personagem é uma designer de sapatos que fica viciada em cola, porque com o dia dia, ela já nem sente mais o cheiro do produto, e se torna adicta. Eu estou muito feliz com a personagem porque ela é totalmente antagônica a mim, que nem nunca fumei, e acabou incorporando essa mulher viciada.

RG – Você é feminista, Paloma, como se coloca frente a isso?

Paloma Bernardi – Tudo o que envolve o universo feminino, que enalteça a mulher e a coloque no lugar onde ela deve estar, eu estou ali junto, levantando bandeira, então eu me considero, sim, uma feminista, no sentido de buscar igualdade. Antigamente, a mulher era vista para casa, procriar e cuidar da família. Hoje, a mulher já está em outro lugar e pode se realizar em todos os sentido, e ser aquilo que ela quer, potente, latente, independente profissionalmente, e ela quer alcançar novos voos. Eu levanto, sim, muitas bandeiras neste sentido.

RG – E a questão de equidade de gênero? Como você se coloca?

Paloma Bernardi – É quase uma continuidade da pergunta anterior. Tem que haver igualdade em todos os sentidos. Eu acho que o meio artístico está conquistando um espaço maior, onde os projetos estão sendo desenvolvidos para trazer essa representatividade, para que esse público possa ser representado na publicidade, na teledramaturgia, nos filmes, nas série, no dia a dia para que se torne cada vez mais comum. 

RG – Você acha que ainda há muito preconceito?

Paloma Bernardi – Sim, muito, tem muito preconceito. Mas eu acredito que as coisas devem ser feitas com calma, tem que ter respeito de todos os lados. Quando vem agressividade… você agredir o outro que é igual a você é inadmissível. O que é legal e importante trazer hoje é que a nossa conduta, as nossas atitudes, o ser humano que nós somos, a nossa igualdade, isso é o que vale, independentemente se você é homem, mulher, independentemente de sua orientação sexual. O respeito que é bom, e que eu pratico, deve estar acima de tudo. 

RG – Qual sua opinião sobre o governo Bolsonaro e sua prática anticultura? 

Paloma Bernardi – Partindo desse ponto, a cultura é o que me move profissionalmente. A cultura faz parte do eu ofício, do meu respirar, então ele [Jair Bolsonaro, sem partido] não me representa, já não tem o meu apoio. Também acho que por conta de todas as crises que a gente vem passando em todos os setores, existe, sim, a responsabilidade desse governo equivocado, desse governo que realmente não me representa. Se estamos tendo crise no setor da saúde, da economia, da cultura, da edução é reflexo dessa gestão.

Foto: Mafe Frasseto

RG – Como cuida da beleza, tem algum ritual?

Paloma Bernardi – Eu sou muito tranquila nesse sentido de me cuidar, acho que os extremos nunca são o ideal. Quando você não se ama, você acaba deixando tudo para lá, a vaidade fica lá no pé, você não consegue nem se olhar no espelho. Mas ao mesmo tempo, tem gente que exagera um pouco nos cuidados, né? Então eu busco o equilíbrio. Para mim, nem 8 nem 80, é o equilíbrio de corpo, mente e alma. Mas eu mantenho cuidados básicos, eu tenho uma dermatologista, a quem eu sou fiel, não fiz nada invasivo no meu rosto, mas estou sempre fazendo um peeling, uma máscara, uma limpeza de pele. Minhas olheiras, por exemplo, é algo que me incomoda um pouquinho, então eu vou passar um produtinho para amenizar e hidratar mais a região dos olhos. Meu cabelo é o meu xodó, ele me representa em todos os sentidos, esse cachos, são muito Paloma Bernardi, então estou sempre fazendo hidratação. Uma dica para quem tem cabelos cacheados é lavar, hidratar, passar um leave-in para cabelos cacheados e usar um difusor, fica natural, selvagem, que é assim que eu gosto. E para o corpo eu gosto de dançar, que emagrece e trabalha a criatividade, a coordenação motora, é alegre, descontraído, a dança para mim é algo completo, mas que eu não tenho feito tanto. Então parto para a musculação, mas prefiro um funcional a ficar carregando peso, por exemplo. Eu sou preguiçosa para academia, mas eu me obrigo, porque eu sou gulosa, eu gosto de comer.

RG – Como lida com as redes sociais?

Paloma Bernardi – As redes sociais para mim são um vício, posso dizer que, às vezes, eu uso muito. Às vezes, eu me desconecto do mundo para ficar nas redes, então tenho feito o caminho oposto. Pera aí, Paloma, você está vivendo só virtualmente e tem uma vida ali fora para viver! Então cuido disso também, mas eu adoro Instagram, TikTok também, eu gosto de ter essa relação com o público. O meu Instagram é uma televisão, então, às vezes, eu abro uma live para conversar com as pessoas, é muito legal falar com gente de locais diferentes. As pessoas esperam que a gente mostre mais para saber da nossa vida, e ali eu vou expor aquilo que eu quero, com limite, privacidade e sempre aquilo que eu acredito. Isso é positivo. Porém, o Instagram é a terra de ninguém, às vezes, eu posto alguma coisa e vem um bombardeio de crítica, eu acho isso péssimo, isso de fato me machuca um pouco. Deixa eu mostrar isso, ou pensar aquilo. Se você não gosta de mim, tudo bem, não me siga.  Mas eu prefiro absorver só as coisas boas, o que é negativo, bate aqui, eu faço uma oração e sai. 


Créditos

Foto: Mafe Frassetto @mafefrassetto
Make: Rafael Guapiano @rafaelguapiano
Styling: Rafael Menezes @menezesrafael
Texto: Ligia Kas @ligiakas

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