“Os Amantes”, projeto de Jaloo (voz), Leo Chermont (guitarra) e Arthur Kunz (bateria e programações) – Foto: Maíra Henriques
Como seria se o Jaloo tivesse um filho com o Strobo? A resposta é o projeto “Os Amantes”, banda que lançou seu primeiro disco com patrocínio de Natura Musical. Jaloo saiu de Castanhal para se tornar um ícone da cultura pop do Brasil contemporâneo. O duo Strobo, de Belém, tem um trabalho de dez anos com música experimental e sólido reconhecimento no seu nicho. Carreiras diferentes que têm duas coisas em comum: autenticidade e música paraense no DNA.
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Esse é um projeto paralelo de artistas consolidados, mas não existe zona de conforto para “Os Amantes”. O amor em seus vários momentos e formatos domina a temática das letras. Enquanto isso, na parte musical, os músicos e produtores encantam com suas leituras de diferentes estilos e facetas da música pop. É apaixonante a combinação criativa entre Jaloo (voz), Leo Chermont (guitarra) e Arthur Kunz (bateria e programações).
E de onde vem essa viagem de tratar o projeto como um filho? De um dos responsáveis pela criança: Jaloo (que nas redes sociais tem se apresentado como Amado por causa do projeto).
“Quando começamos a criar, ficou evidente que a gente não soava como ‘Jaloo’ ou ‘Strobo’ (apesar de lembrar um pouco cada um de nós). Então eu falei: ‘gente, é um filho de nós 3!’, (risos)”, conta o artista. “Um filho feito com amor”, faz questão de acrescentar.
Leo concorda e observa que tudo no projeto tem caráter de novidade. “É uma dinâmica nova, que inspira uma busca por novos caminhos artísticos para a gente. Isso naturalmente embarcou nós três na ideia de desconstruir o som que cada um faz normalmente, com objetivo de buscar a construção de uma coisa nova”, diz o guitarrista.
O álbum tem dez faixas, todas com a cara dos “pais”. A obra também lembra outros “parentes” mais antigos, pois o disco carrega influências de nomes fortes da música brasileira de décadas passadas. Como seria se grupos como os Novos Baianos dos tempos áureos gravassem música em 2021? O som dos ?Amantes” responde essa pergunta bem do jeitinho deles.
“Colchão” traz na prática o que foi descrito nos dois parágrafos anteriores. “Linda” cai como uma luva no som de quem quer dançar e se divertir com música paraense e latinidades.
“Ninguém”, segundo Leo Chermont, é uma música para ouvir de mãos dadas. “Cotijuba” é a preferida do baterista Arthur Kunz e uma das deliciosas referências diretas ao Pará, estado de origem dos músicos. É muito amor, do início ao fim.
A faixa “Cotijuba”, cujo videoclipe já está nas plataformas, nasceu de uma coincidência curiosa. Enquanto falavam sobre a ilha paradisíaca que fica a cerca de 22 km da capital Belém, “Os Amantes” perceberam que nenhum dos três havia visitado o local ainda.
“O Pará é gigantesco. É como se fosse um país dentro de um estado. São muitos lugares pra visitar, parece até impossível conhecer tudo. A música foi surgindo a partir dessa conversa e fomos gravar o clipe lá. São imagens da nossa nossa 1ª vez em Cotijuba! (risos) Foi um prazer imenso documentar o caso de amor entre Jaloo e Strobo nesse lugar extraordinário que também é conhecido como ‘Ilha do Amor’”, lembra Jaloo. Ou seria Amado?
A parte musical do single tem um quê de lambada, música brasileira tropical e brega raiz. Jaloo conta que “Cotijuba” é um misto de referências musicais do Pará com a versatilidade dos três músicos. “É uma ‘salada’ musical que mistura várias das nossas performances”, diz.
E não foi só o vídeo de “Cotijuba” que Os Amantes gravaram perto de casa. Os clipes de “Linda”, “Bye!” e “Batismo”, outras músicas do disco, também foram gravados no estado de origem dos integrantes.
“Não tinha outro lugar pra gravar esses clipes: ‘Os Amantes’ bebe de muitas fontes da música paraense, mais do que Jaloo ou Strobo fazem em suas carreiras. Queremos mostrar o Pará”, comenta o cantor, que é natural de Castanhal.
Referências
Jaloo conta sobre alguns de seus discos favoritos que vêm à mente quando fala de “Os Amantes”: “Transa”, do Caetano, “A Todo Vapor”, da Gal Costa, tudo da Maria Bethânia, Os Mutantes… É uma viagem imaginar como esse pessoal que marcou uma época de ouro usaria hoje os samples, programações sonoras, sintetizadores virtuais”, especula o castanhalense. “É legal tirar o foco da gente”, emenda.
“Eu não trabalhava com ninguém antigamente. A gay era louca, só trabalhava sozinha, mas uma vontade gigante de tirar o foco de mim começou a bater. Mudei isso com o ‘FT’ (que é um disco de colaborações). ‘Os Amantes’ dá continuidade a isso de um jeito que eu amo e com certeza me orgulho muito de como saiu o projeto”, conta Jaloo.
O baterista Kunz aponta que a parceria tem ares de relacionamento amoroso em todos os níveis. “‘Os Amantes’ é como um namoro: às vezes vem alguém que consegue extrair o nosso melhor. Assim como o Strobo, Jaloo também vive uma busca constante de sonoridade. Essa união traz leveza para nossa vida e pro nosso som”, diz.
Para Leo Chermont, é muito sobre mudar o holofote de lugar. “Tirar da minha cabeça e colocar em um ideal, um propósito”, diz. “Sentimos que Os Amantes veio para oxigenar a nossa carreira e trazer uma sensação de férias do Strobo. Nos sentimos felizes por viver esse momento com uma pessoa incrível como o Jaloo”, pontua o guitarrista.
O disco de “Os Amantes” faz parte do projeto que foi selecionado pelo edital Natura Musical por meio da lei estadual de incentivo à cultura do Pará (Semear), Fundação Cultural do Pará e Governo do Estado do Pará. No Estado, a plataforma já ofereceu recursos para mais de 69 projetos até 2020, como Manoel Cordeiro, Dona Onete, Pinduca, Felipe Cordeiro e Thaís Badú.
“A música propõe debates pertinentes, que impactam positivamente na construção de um mundo melhor. Acreditamos que os projetos selecionados pelo edital Natura Musical podem contribuir para a construção de um futuro mais bonito, cada vez mais plural, inclusivo e sustentável”, afirma Fernanda Paiva, Head of Global Cultural Branding.