Dedicada inicialmente ao resgate de artistas e práticas experimentais dos anos 1970/1980, a galeria paulistana Jaqueline Martins promoverá neste ano uma programação que reverbera e atualiza os principais eixos que guiaram a sua atuação na última década: exposições de artistas históricos em diálogo com jovens contemporâneos, projetos em parceria com outros agentes do setor e iniciativas online que ampliam a noção do que pode ser uma exposição de arte.
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Fundada em maio de 2011, a história da galeria começou a partir das pesquisas individuais de sua diretora, Jaqueline Martins, 44, nos catálogos e arquivos não digitalizados do MAC/USP. Dez anos depois, a Galeria Jaqueline Martins se orgulha de ter expandido e consolidado as pesquisas que nortearam o seu programa. Atualmente localizada em um prédio industrial de 600 metros quadrados na Vila Buarque, São Paulo, a galeria inaugurou no ano passado um espaço em Bruxelas, Bélgica, iniciativa que amplia o alcance internacional de seu programa e seleção de artistas.
O mergulho que Jaqueline realizou dentro da produção conceitual, política e processual brasileira dos anos 1970/1980 foi fundamental para os primeiros passos da galeria e a definição de um dos pilares de sua missão como galerista: reapresentar ao público, e aos agentes institucionais, artistas cuja produção experimental nunca mais foi vista desde sua primeira apresentação em Bienais e outras exposições. Artistas como Letícia Parente, Lydia Okumura, Rafael França, Hudinilson Jr., Genilson Soares, Regina Vater e Martha Araújo produziram instalações, vídeos, performances e obras sonoras que, se até os anos 2011 eram desconhecidas pelo público e instituições no Brasil e no exterior, conquistaram visibilidade e reconhecimento através de apresentações com ambiciosos projetos em feiras internacionais e exposições pelas mãos da galeria.
Obra de Erika Mayumi – Foto: Divulgação
Com a bagagem da pesquisa em torno de artistas históricos em diálogo com jovens artistas como Ana Mazzei, Daniel de Paula, Adriano Amaral, Charbel Boutros e Ícaro lira, o DNA da Galeria Jaqueline Martins foi rapidamente reconhecido. Em 2012, participou de sua primeira feira internacional, a Frieze Londres, onde ganhou elogios do renomado critico de arte e curador britânico Guy Brett ao expor o trabalho de Genilson Soares. Desde então, a galeria tem participado do circuito internacional de feiras, sempre levando para cidades como Madrid, Basel, Paris, Nova York e Bruxelas, apresentações com forte caráter experimental.
Se 2021 marca os dez anos dessa história, os eventos planejados buscam não apenas celebrar, mas também reafirmar e dar continuidade à visão que Jaqueline cultiva junto ao seu time de artistas. O espaço de São Paulo recebe no primeiro semestre do ano individuais de Lydia Okumura e Rafael França, enquanto a nova sede em Bruxelas leva pela primeira vez ao público europeu obras do veterano artista gaúcho Victor Gerhard, em exposição/diálogo com Adriano Amaral, artista paulista cuja carreira na Europa ganhou intenso destaque nos últimos cinco anos.
No no digital, dando continuidade às bem-sucedidas experiências testadas em 2020, o artista Ricardo Basbaum, em parceria com o curador Marcelo Rezende e a plataforma de arte virtual aarea, propõe uma ocupação dentro do site oficial da galeria. Utilizando-se de diagramas, linhas do tempo, eventos, dados e imagens, Basbaum pretende rever os dez anos de história da galeria a partir do próprio conteúdo gerado por todos os projetos realizados ao longo deste tempo.
Desenvolver um programa cada vez mais multidisciplinar e multirracial, como é o mundo, é um dos objetivos de Jaqueline para os próximos anos. Fortalecer a arte brasileira e a filial na Bélgica, dialogando com artistas locais, estabelecendo intercâmbios, valorizando também seus artistas internacionais, como Charbel-joseph H. Boutros, do Oriente Médio, e grandes nomes da arte conceitual, como Robert Barry, fazem parte da visão da galeria.
“Temos o desafio de sobreviver a mais um ano de pandemia sem perder a criatividade e o desejo genuíno de ser uma galeria que apoia o desenvolvimento dos artistas, compartilhando com nosso público e colaboradores um programa marcado pelo rigor conceitual, inclusivo e plural”, diz Jaqueline.