Cultura

Pianista brasileiro Jonathan Ferr lança álbum “Cura” e websérie afrofuturista

Share

Jonathan Ferr – Foto: Renan Oliveira

Se ao ouvir falar em jazz e piano você automaticamente pensa em músicos de figurinos clássicos e cores sóbrias, pode esquecer essa persona. E ninguém melhor para acabar com essa imagem do que o pianista brasileiro – e carioca – Jonathan Ferr. Ele, aliás, é a personificação da quebra de paradigmas: estética, essencial e, claro, musicalmente falando. E é com essa proposta disruptiva que o precursor do gênero urban jazz no Brasil lança seu álbum “Cura”, o primeiro a ser lançado pelo slap, selo da Som Livre. Ouça aqui.

SIGA O RG NO INSTAGRAM

O projeto chega ainda com uma websérie no YouTube envelopada em estética afrofuturista, outra marcante assinatura do multifacetado artista, que também está sempre à frente da direção das suas produções audiovisuais – e nas quais eventualmente atua. Composta por oito music visualizers – um para cada faixa inédita e com o número 8 representando o infinito, simbolizando a cura infinita de cada um -, a série chega ao canal do artista e retrata o encontro de um casal que se apaixona e vive um drama da vida cotidiana, em um processo contínuo de busca pela referida cura do título do disco. 

Com nove faixas no total, o álbum alcança o feito de simultaneamente ser uma obra essencialmente pessoal do artista, enquanto transmite uma mensagem universal a quem escuta. A universalidade, aliás – para além da experiência sensorial intensificada pelo caráter instrumental do projeto – fica evidente também no título das canções, apresentando elementos comuns à trajetória humana: “Nascimento”, “Choro”, “Sensível”, “Chuva”, “Amor”, “Felicidade”, “Caminho” e “Esperança” – sendo essa última o único single já lançado, com a participação de Serjão Loroza. A única faixa que foge a essa regra, e não à toa, é “Sino da Igrejinha”. Canção de domínio público e familiar aos cultos de matrizes africanas, ela foi a escolhida para ser a primeira da tracklist. “Dentro dos terreiros, essa é uma música cantada para a entidade responsável por abrir os caminhos para todas as coisas”, explica Ferr, evidenciando mais uma faceta de sua personalidade plural.

Além da brilhante musicalidade, “Cura” encanta também pela proposta democrática – sem perder o apuro técnico -, tendo como um de seus objetivos principais a desmistificação da música instrumental como um gênero erudito. O caráter contemporâneo do urban jazz – estilo assumido pelo músico para denominar a mistura de elementos do jazz, hip hop, R&B e outros estilos de música urbana, promovendo um verdadeiro mix pop – contribui para o alcance mais popular que Ferr almeja.

“Busquei um certo minimalismo para a produção de ‘Cura’, no sentido de apostar em poucos elementos e muita clareza nas informações musicais. É um disco fácil de ouvir e sentir”, diz Ferr. O cuidado fica evidente na audição do álbum, que traz sempre o piano no centro de cada composição, acompanhado de um quinteto de cordas e alguns convidados especiais, como o violoncelista Jaques Morelenbaum, a filósofa Viviane Mosé e o cantor Serjão Loroza. “Penso nesse projeto como uma espécie de ‘Jonathan Ferr Unplugged’, porque eu me dispo muito de toda essa essa coisa de banda, cantores etc.”, completa.

Foto: Divulgação

Outro importante pilar de “Cura” é o conceito de música-medicina, com intenção clara desde o título do álbum, uma vez que Ferr acredita na música como um elemento para acalentar a alma em busca do ‘curamento’. “O conceito (de música-medicina) normalmente está ligado à música espiritualista, e eu acho muito bonito pensar nele dentro da proposta instrumental também, porque acredito que a música por si só é medicinal. O que seria de nós na pandemia se não fosse a música, por exemplo? Então eu intencionalmente quis trazer o disco pra esse lugar, onde você pode dar o play, meditar etc., usando esse disco para um movimento de autocura mesmo”, declara o artista. “Na última faixa, ‘Caminho’, a Vivi Mosé declama um texto lindo e poderoso no qual ela diz ‘o que cura é a vida’, que resume muito bem a proposta do disco. Ela usa ainda um mantra indígena que eu gosto muito, que é ‘a cura está acontecendo agora, nesse momento’. E é isso o que quero dizer: a cura é a vida, a água pura, é estar com quem você ama, é o bom dia para o quem acorda do seu lado, é olhar para o seu filho e se reconhecer nele, é comer uma comida gostosa, é beber uma cerveja com os amigos”, exemplifica.

Assim como o próprio artista, “Cura” é um disco repleto de nuances, que conversam de maneira muito orgânica e de fácil absorção ao ouvinte. Ao mesmo tempo em que o álbum apresenta uma essência sentimental, a busca pela espiritualidade e um caráter curativo – evidentes em “Sino da Igrejinha” e “Caminho”, respectivamente -, ele não deixa de apresentar também seu viés político-social alinhado com a identidade do seu criador, como na track “Esperança”, que traz um poema de autoria Ferr declamado por Loroza e um clipe repleto de simbolismos. Mas há também espaço para faixas como a love song “Amor”, um blues sensual para dançar a dois; “Choro”, que imprime uma conexão com nossos sentimentos mais profundos; “Felicidade” e sua vibe rock’n roll’ com um solo de guitarra; o resgate a um local seguro da infância em “Chuva”; uma reflexão sobre a deusa egípcia Maat e a energia do feminino em “Sensível”, com participação de Morelenbaum; e uma homenagem ao ícone da MPB Milton Nascimento em “Nascimento”. 

Tornar sua obra e mensagem acessíveis é tão importante para Ferr que, segundo o artista – e ao contrário da maioria dos álbuns musicais -, a ordem de consumo das faixas proposta na tracklist não é essencial para a compreensão do disco.  

“Com esse trabalho estou buscando conexão com todo mundo – desde uma senhorinha humilde que mora no interior e nem sabe o que é jazz, até um colecionador que tenha milhares de vinis em casa. Quero que todos que deem play nesse álbum sintam e estabeleçam uma conexão, porque vão entender. Não quero mostrar que consigo fazer 30 notas por segundo, porque acho que isso não conecta ninguém. Então esse é um álbum que fiz para alcançar esse lugar e que vai trazer muitas possibilidades”, conclui. 

Link pra websérie.

últimas notícias

  • Cultura

Natiruts anuncia despedida da banda com turnê pelo Brasil

Após 28 anos, Natiruts anunciou o encerramento da banda com turnê de despedida, nomeada como "Leve com Você". O grupo,…

26.02.2024
  • Cultura

“O Diabo Veste Prada”: Anne Hathaway, Meryl Streep e Emily Blunt se reúnem no SAG Awards 2024

Para matar a saudade, o SAG Awards 2024 uniu novamente Meryl Streep, Emily Blunt e Anne Hathaway após 18 anos…

24.02.2024
  • Moda

Seis looks icônicos de Sofia Richie durante a gestação

Sofia Richie Grainge anunciou que está grávida de seu primeiro filho com o marido, Elliot Grainge. A notícia foi divulgada…

22.02.2024
  • Cultura

Roger Federer ganhará documentário dirigido por Asif Kapadia

A Amazon Prime Video fará a produção de um documentário sobre um dos maiores tenistas da história: Roger Federer. De…

19.02.2024
  • Cultura

BAFTA 2024: “Oppenheimer” é o grande ganhador; veja todos os premiados

Uma noite de glória no BAFTA, premiação de cinema britânica conhecida como um "termômetro" para o Oscar. O filme “Oppenheimer”…

18.02.2024
  • Gossip

Bruno Mars inaugura “The Pinky Ring”, seu bar em Las Vegas

Bruno Mars acaba de abrir um novo lounge de coquetéis, nomeado como "The Pinky Ring", no prestigiado Bellagio Resort &…

16.02.2024