Negra Li é conhecida por sua carreira sólida e cheia de sucessos. Depois de sua separação, ela viu uma nova mulher, mais preocupada consigo mesma e disposta a fazer descobertas. Uma delas foi a sexualidade, com a qual se dispôs a experimentar novas sensações até com ajuda de brinquedinhos sexuais, assunto que ela fala com total liberdade. Disse que teve que quebrar tabus, e soube fazê-lo com tranquilidade.
Nesta quinta-feira (27.05), ela lança “Comando”, música que compôs com parcerias e que fala sobre o empoderamento das mulheres pretas, enaltecendo suas raízes. A música chega acompanhando de um videoclipe, que está disponibilizado nas plataformas digitais e que conta com a participação de sua filha, Sofia, de 11 anos. Ouça aqui!
Aos 41 anos, Negra Li se assume no comando de sua vida e da carreira, com muita calma e serenidade, mas sem perder o gás, com diz. “É como se eu tivesse o comando da minha vida, da minha própria carreira. Porque eu tive uma consciência muito forte do que eu sou e do que eu represento, de como foi a minha trajetória. Então eu falo com orgulho do que eu sou, de onde eu vim e o que pretendo.”
Mãe também do pequeno Noah, 3 anos, ela se sente empoderada e levando com autoridade sua vida, como mãe preta e solo, além da carreira. Diz que agora se faz entender melhor e consegue se colocar exatamente como deseja.
O novo álbum tem previsão de lançamento no final deste ano, mas, até lá, novas músicas serão lançadas a cada dois meses, com muito romantismo e rap misturado com R&B.
Leia a seguir entrevista que RG fez via Zoom coma artista.
A música “Comando” é só sua ou tem parceria?
Todas as músicas desse meu novo disco eu estou compondo com uma galera, que são as mesmas pessoas, que é o Arthur Marques, a Cinthya Ribeiro, o Thin de França. A música “Comando” foi escrita por mim, o Arthur Marques, a Cinrthya e o Thin. E a produção é do Arthur. Muito gostoso compor assim.
E você gosta de fazer parcerias?
Eu gosto muito, e vai ter muitas. O que eu acho que as pessoas podem esperar é que foi uma escolha assertiva da nossa parte, elas vão entender toda a atmosfera do meu disco a partir dessa música.
Como foi gravar um rap com mistura de afrobeat?
Muito legal, eu gosto de misturar, porque o meu rap nunca foi só rap puro. Eu misturo o R&B com o rap, gosto de colocar a melodia, não só a parte rítmica do rap. O afrobeat traz essa atmosfera dançante, sobre tudo quando falamos de uma música que trata do empoderamento, não só o feminino, como o preto. Como mulher preta eu falo um pouco dessa minha experiência, o que é ser uma mulher preta dentro da sociedade. Então há muito de mim nessa música, eu saúdo o meu passador brindo o meu futuro, como se eu mostrasse como foi o meu desenvolvimento, a minha ascensão. Como eu me enxergo no futuro também.
Essa era minha próxima pergunta, do que se trata “Comando”?
Eu quero que com “Comando” cada um tome para si essa mensagem, porque eu me tornei uma mulher muito forte quando eu busquei meu autoconhecimento. No final de 2019 para 2020 teve uma mudança na minha vida porque eu completei 40 anos, me separei e mudei de escritório, fui para o empresariamento. Então toda essas coisas me fizeram buscar uma autoanálise, um autoconhecimento, que me fez aflorar e me transformar em uma mulher muito forte. É como se eu tivesse o comando da minha vida, da minha própria carreira. Porque eu tive uma consciência muito forte do que eu sou e do que eu represento, de como foi a minha trajetória. Então eu falo com orgulho do que eu sou, de onde eu vim e o que pretendo. Porque eu já sou vitoriosa. E não é porque eu esteja me sentindo, não é isso, é porque eu tenho certeza de que tenho ao meu lado há aliados, meus amigos, meus familiares. Principalmente nessa época agora que nós estamos vivendo essa pandemia, passou-se a se falar muito no coletivo. Então “Comando” me fez ver a referência que eu sou para tantas pessoas, paras as mulheres, para as mulheres pretas, para a minha família, para os meus filhos. Quando eu vi as primeira fotos da capa do single, eu chorei, e me perguntaram por que eu estava chorando e eu respondi que eu não imaginava que conseguira imprimir aquilo que eu estava sentindo. Porque eu estava me sentindo com poder, transformada, como quem tem orgulho do que é. Eu queria muito que todo mundo pudesse encontrar esse lugar, de ter o comando da sua própria vida, de ter força e de respeitar o seu tempo. De descobrir o seu propósito, porque foi isso o que eu descobri. E quando você descobre o seu propósito, você atrai pessoas que estão pensando a mesma coisa.
E como está sua expectativa com o lançamento desse single?
Eu estou muito ansiosa, muito feliz, a expectativa é das melhores porque eu fui surpreendida. A finalização da música, quando chegou, eu pensei “caramba”, o clipe ficou maravilhoso, disse “meu Deus”. Eu tenho certeza que as pessoas vão gostar muito.
Como surgiu a ideia de sua filha, Sofia, participar do clipe?
Porque quando a música fala do meu passado e do meu futuro, não tenho como não falar do meu legado, para quem eu vou deixar isso? Além de ela ser minha filha, ela é uma mulher, uma mulher preta, dentro dessa sociedade. Ela é uma revolucionária, Sofia é uma feminista, adora lutar pelas causas com 11 anos. Além de ela ser minha filha e de eu passar meu legado para ela, eu vejo essa potência nela. Fora que a equipe do clipe é majoritariamente preta, figurinista, maquiador, diretor de arte, as bailarinas, assistente de direção.
Aos 41 anos como você se sente à frente da sua carreira hoje em dia?
Hoje eu me sinto com uma independência maior, porque eu tenho total consciência daquilo que eu represento, do que sou, do que preciso fazer. E experiência também, porque eu tenho 23 anos de carreira. Teve um tempo em que eu me perdi, fiquei mais na minha casinha, não aflorava tanto na composição, mas depois eu me reencontrei. Então acho que estou na minha melhor fase, sei muito o que eu quero. Quando eu chego aqui no escritório com toda a minha equipe eu sei exatamente o que quero, consigo me explicar, me colocar. A calma também, que vem com a experiência, a gente fica mais tranquila, menos ansiosa, mas não com menos gás.
Quando deve ser lançado o seu álbum?
Deve ser lançado no final do ano, porque vamos lançar uma música a cada dois meses.
E como serão as outras músicas, muito rap também?
Olha, o fio condutor do disco é rap com R&B, porque é um rap melódico. Se eu disser que é só rap, as pessoas podem imaginar um disco dos Racionais, e não é. Ele tem o rap, mas tem muita melodia, tem canções românticas, fala muito da minha vida, dos meus sentimentos. Quem ouvir o disco vai entender um pouco de como eu penso, da minha sexualidade, porque depois da minha separação eu tive outros momentos, tive outras relações e eu abordo isso em música também. É uma coisa nova para mim, é diferente eu falar sobre isso, porque fui me conhecer, a minha sexualidade, depois dos 40 anos.
E o que você quer dizer com isso exatamente, que você descobre a sua sexualidade?
Os prazeres. Eu que vim de uma família evangélica, tive que quebrar muitos tabus referentes à minha sexualidade. Às vezes, a gente espera muito do outro para alcançar o seu prazer. Então eu quebrei alguns tabus conhecendo o meu próprio corpo. Comecei a fazer pompoarismo, passei a utilizar objetos que eu comprei no sex shop para me conhecer, para entender quando eu gozo, a parte que é mais sensível. E é tão gostoso falar disso com tanta naturalidade, porque eu acho que a mulher tem que se conhecer, ela não pode ficar dependente de ninguém para sentir prazer, porque assim a gente tem mais calma para pensar com a cabeça de cima (risos).
Queria que você falasse sobre a sua veia mais romântica nesse álbum.
Tem também, porque afinal de contas eu passei por uma separação. Então vocês vão saber em músicas como foi para mim, o que eu senti. Eu usei esse álbum para falar de todas as minhas experiências. Eu participei de todas as faixas, então quem compôs comigo fez questão de que eu falasse o que eu queria dizer. Eu adoro compor músicas românticas, na minha carreira eu tenho muito mais músicas românticas do que as que relatam coisas da sociedade, política.
Qual sua opinião sobre o feminismo, você é feminista?
Eu me considero feminista, mas não consigo falar em feminismo sem falar em feminismo negro. Hoje eu entendi que enquanto mulheres brancas estavam lutando para ter direito a voto, nós [as negras] queríamos a nossa liberdade. Nós queremos direitos iguais, queremos sair da base da pirâmide. Eu sou feminista, não tem como ser outra coisa. Acho que todo mundo tem que se dizer feminista, até os homens. Sabe aquela coisa que uma mulher não vai ligar se você não abrir a porta do carro, ou se você brochar? O feminista não vai ligar. O homem pode chorar, não tem que ser forte o tempo todo, pagar conta o tempo todo.
E de que forma você como artista, sua música, colaboram para a causa preta?
Nossa, muito, né? Desde que eu comecei a escrever, a cantar, no rap, eu empodero meninas, mulheres pretas. Só de não ter caído na estatística, ter sobrevivido. Eu nasci na periferia de São Paulo [Vila Brasilândia, zona Norte de SP], comecei no rap, um meio machista. Só meu exemplo de vida, de vitória, de sucesso faz muito pelas mulheres pretas. É por isso que eu nunca desisti dos meus sonhos, de cantar, de ser a Negra Li. Eu entendo o potencial que eu tenho para mudar vidas com as minhas letras. Muitas mulheres dizem que a minha música “Mina” mudou o dia delas. Depois que eu protagonizei “Antonia”, na Rede Globo, muitas mães vinham me dizer que as suas filhas passaram a aceitar o cabelo delas. Hoje como mãe solo, preta, depois dos 40, meu amor…
Você se sente responsável pelas pessoas que te seguem nas redes sociais?
Muito, é um peso que a gente carrega. Ser referência é bom, mas tem uma grande responsabilidade. Eu sei disso. Eu fico, sim, preocupada com o que eu vou postar, adio coisas, penso no momento em que estamos vivendo.
Por exemplo, o quê?
Por exemplo, eu tenho um IGTV que se chama “Só Uma Tacinha”, que é um bate-papo que eu faço para os meus seguidores. Um foi sobre amadurecimento e o segundo foi sobre sexo, e foi tão bom que nós lançamos a segunda parte. Nós não postamos ainda porque está acontecendo tanta coisa triste no Brasil, tantas mortes, que deixamos para depois. E no lugar posamos um texto para as pessoas pensarem no que estamos vivendo, falando do uso da máscara. Temos que usar os milhares de seguidores para conscientizar as pessoas.
Como você cuida da beleza?
Eu adoro fazer atividade física. Isso já ajuda, porque não é um sacrifício estar na academia, comer coisas saudáveis, isso já é um hábito. E eu adoro tudo o que é dica. Se tem uma coisa com que eu gasto é com o meu corpinho (risos). Eu gosto de cuidar de mim.
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