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Primeiro disco de Elis, “Viva a Brotolândia”, comemora 60 anos

Elis Regina, em 1968 – Foto: Getty Images

Por Fabiane Pereira

Muita gente acha que a carreira de Elis Regina começou quando ela saiu consagrada do 1º Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, em 1965, depois de cantar “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Mas antes de arrebatar o Brasil, a cantora gaúcha já havia lançado quatro álbuns. Seu disco de estreia é o “Viva a Brotolândia” que este ano completa seis décadas de lançamento. Nele Elis canta rock no estilo de Celly Campelo e mistura outros gêneros como samba e bolero, além de apresentar versões de músicas norte-americanas. Neste primeiro trabalho, Elis já dava sinais de que se tornaria uma das maiores cantoras do Brasil de todos os tempos. A influência das grandes cantoras do rádio, sobretudo de Ângela Maria, na formação musical de Elis é muito presente neste trabalho. Anos depois, Elis passou a influenciar gerações e até hoje é referência máxima para artistas em todo mundo.

No Brasil, há muitos artistas que honram o legado de Elis mesmo após quase 39 anos de sua partida. Uma das maiores intérpretes da Música Popular Brasileira foi comparada a Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Billie Holiday, as maiores estrelas do jazz americano, quando subia nos palcos. 

Seus filhos Pedro Mariano e Maria Rita são os principais guardiões desse legado. Em muitos de seus discos, Pedro homenageia a mãe regravando alguma música imortalizada por ela. Em seu lançamento mais recente, ele faz uma releitura belíssima de “Casa no Campo”. Já Maria Rita, herdeira da voz e dos trejeitos de Elis, gravou um DVD lindíssimo em 2012 em homenagem à mãe, “Redescobrir”. Na época, Maria estava grávida de sua filha caçula, o que tornou o projeto ainda mais emocionante. 

Foto: Getty Images

A cantora Sandy é outra que já revisitou músicas conhecidas originalmente na voz de Elis. Destaque para sua versão de “Como nossos pais”. Laila Garrin, cantora e atriz, se transformou em Elis para vivê-la nos palcos durante o espetáculo homônimo que foi sucesso absoluto de crítica e de público. A baiana Illy regravou, recentemente, um disco inteiro dedicado a releituras da pimentinha, como Elis era conhecida. Canções como “Alô, Alô, Marciano” e “Fascinação” fazem parte do álbum “Te adorando pelo avesso”. A cantora e atriz Samantha Schmütz é outra que não deixa ninguém se esquecer do legado de Elis. Ela reuniu canções como “Madalena”, “Maria Maria”, “Me deixas louca” e algumas outras para um show especial exibido no Canal Bis. O rapper e cantor Criolo participou deste episódio que faz parte do programa “Versões” e pode ser visto nas redes da emissora. A cantora Simone Mazzer fez uma live no início deste ano cantando apenas músicas de Elis. No repertório canções pouco conhecidas do grande público. Ekena, dona de voz potente e interpretação singular, foi outra que emocionou a todos ao reinterpretar algumas canções de Elis. Já Rê Adega, participante do “The Voice Brasil”, impressiona muitíssimo quando solta a voz cantando Elis. Sua interpretação para “Vou deitar e rolar” é perfeita. Por fim, Gilberto Gil. Ouvir Gil cantar “Ladeira da Preguiça”, música de sua autoria, sempre faz a gente revisitar Elis.

Já me perguntei muitas vezes como Elis analisaria hoje o atual mercado da música. Acho que ela estaria um pouco “perdida” neste mundo difuso da internet. Mas como ela sempre apontou caminhos e lançou muita gente, é bem possível que continuasse seguindo essa linha. Talvez mais reservada, porém jamais silenciada.

Fabiane Pereira é curadora, pesquisadora musical e apresentadora.

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