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Atriz Claudia Campolina se reinventa e apresenta peças-áudio no Clubhouse

Claudia Campolina – Foto: Divulgação

A magia do teatro parece ter se esvaído no cenário caótico pelo qual estamos vivendo atualmente, mas há quem saiba resgatá-la de forma perspicaz e contagiante. O período de quarentena faz com que a reinvenção seja necessária no campo artístico, para que projetos culturais continuem alcançando a população. 

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Com os teatros fechados, os atores de palco tiveram que achar meios para apresentar seus espetáculos através das plataformas digitais, sendo uma delas o app Clubhouse.

A mineira Claudia Campolina, 39 anos, atriz protagonista do filme “A Pedra da Serpente“, é uma das idealizadoras do “Teatro Pocket Club“, projeto que leva ensaios, peças e cenas teatrais adaptadas para o universo virtual e 100% sonoro do aplicativo Clubhouse. As apresentações ao vivo possuem um elenco predeterminado e sonoplastias que, junto com as falas e interpretações dos atores, fertilizam ainda mais a imaginação. No início do projeto, Claudia e os outros integrantes do projeto adaptaram cenas clássicas do teatro à experiência auditiva, e atualmente estão encenando textos autorais escritos pelos membros do coletivo. 

A nova adaptação pode ser uma boa opção para quem sente falta dos palcos, tanto como plateia quanto como ator. É muito bacana observar a versatilidade que se observa nas apresentações, o ao vivo deixa tudo mais real e se aproxima do espectador, mesmo que de longe. Há também a inclusão de pessoas com deficiência visual, uma vez que as peças teatrais utilizam recursos visuais para captar o telespectador, e a experiência acaba sendo incompleta para essas pessoas. As peças adaptadas ao Clubhouse permitem uma imersão sensorial completamente sonora e única. 

Leia a seguir entrevista que RG fez com Claudia.

– O que estudou? 

Estudei direito em BH, larguei para estudar teatro em São Paulo e depois fiz filosofia.

– Como nasce a atriz Claudia Campolina? 

Eu acho que a atriz sempre esteve em mim! Minha mãe costuma dizer, “Claudinha é dramática desde pequena. Ela não podia ver um púlpito que já fazia discurso”. Eu sempre tive esse lado aflorado. Clichê de tantos artistas. Queria era aparecer… Fosse para pendurar uma melancia no pescoço, pra chorar até soluçar por uma garoto qualquer, para fingir cenas em locais públicos só para envergonhar as pessoas, para imitar uma lagartixa nas paredes das festas ou para contar pelos botecos da cidade, como Cassimira, minha primeira personagem, tinha sido apresentada ao “sezoral” e perdido a virgindade. 

No entanto, aos 18 anos eu fiz vestibular para direito achando que a profissão era como os filmes de tribunal que eu via na televisão. Quando entendi que não, entrei na primeira crise existencial da minha recém-vida adulta. Comecei a me perguntar o que queria da vida até, repentinamente, ser convidada para participar de um programa de TV. O programa se chamava “Parada Oi” e era uma espécie de reality, na área de entretenimento. Enfim, vi que aquele universo fazia sentido para mim e me inscrevi em um curso de teatro amador. Pouco tempo depois me convidaram para ser do casting de uma agência de São Paulo. Fiz as malas e nunca mais voltei para casa. Não sabia direito o que estava fazendo, mas o meu coração me dizia que eu precisava estudar teatro. Isso já tem 15 anos e foi a melhor decisão da minha vida. O que era o sonho de uma menina, se revelou como a coisa mais importante da minha vida.

– Como surgiu a ideia de fazer teatro-áudio ou o “Teatro Pocket Club”? 

Eu estava vagando pelas salas do app [Clubhouse] quando encontrei a sala de um amigo, o ator Dudu de Oliveira. Era uma espécie de sala sarau/palco aberto. Depois de um tempo ele e a Carol Cardinale, também atriz, me convidaram para moderar a sala com eles. Eu havia escutado uma apresentação de “Rei Leão”, da Broadway, lá no Clubhouse, uns dias antes. Achei lindo e sugeri de a gente experimentar montar uns textos. Eles toparam e assim começou.

– Que espetáculos apresentam? 

Já apresentamos 5 espetáculos, cada um com um estilo! O nosso propósito é fazer peças sonoras muito sensoriais e inclusivas. Sempre escolhemos textos que comuniquem algo mais profundo e que provoquem muitas sensações físicas em quem ouve. Trabalhamos com muitas variações vocais, preparamos bastante a sonoplastia com músicas (às vezes incidental) e sons dos mais diversos. Já Passamos pela tragédia, pela comédia, pelo erotismo, pela dor de amor e agora estamos preparando um espetáculo de terror

– Quem, além de você, participa? 

No começo era eu, Dudu de Oliveira, Carol Cardinale e o músico e maestro Átila de Paula, mas o Átila precisou sair. A Frida Maurine, violinista e atriz também faz parte do grupo hoje. Além de outros convidados como a Antoniela Canto e o Fábio Acorsi. Acho que a Toti (Antoniela) já está fixa também, basta ela querer.

– Antes da plataforma Clubhouse como você vinha trabalhando? 

Eu tenho tentado me reinventar como artista. Desde o começo da pandemia me conscientizei que deveria ficar em casa o máximo possível, então precisei descobrir formas de continuar  atuando. Fiz muitos cursos online: direção, fotografia, montagem, voz original, dublagem etc. Aprendizados que me ajudaram a escrever e filmar uns curtas experimentais. Alguns foram para festivais. Também comecei a produzir muito conteúdo para as minhas redes sociais. Me apaixonei pelo TikTok que antes, para mim, era “coisa de criança”. A gente arruma uns preconceitos tolos, né? Aliás, que delícia que é coisa de criança. A história no Clubhouse também começou na tentativa de seguir levando a arte para as pessoas da maneira mais segura possível. Montamos um coletivo chamado “Palco Aberto” por lá e estamos descobrindo novas linguagens.

Claudia Campolina – Foto: Divulgação

– Como é o retorno das apresentações? 

Olha, a gente sabe que é difícil fazer teatro e ter público para teatro no Brasil. Não é tão diferente por lá. Tivemos apresentações mais cheias, outras nem tanto, mas o mais incrível é o retorno das pessoas e isso é o que nos faz seguir. Passaram pessoas tão lindas pela nossa sala. Já teve até gente chorando no final das apresentações. A gente convida as pessoas a falarem no final dos espetáculos. Isso é tão forte, né? Essa troca. A gente saber que consegue chegar no outro só com a voz, sem coxia, sem elenco junto, sem presença física. É para isso que a gente trabalha e faz o que faz.

– Quanto tempo dura a peça? 

Dura entre 40 minutos e 1 hora e são sempre cenas curtas costuradas por um tema que as une. Já trabalhamos com Tennessee Williams, Bertold Brecht, Plinio Marcos, Carolina Maria de Jesus e outros grandes nomes. Nosso último, espetáculo, “Você Me É familiar” foi todo autoral. Os argumentos de 3 dos 4 textos são da Carol Cardinale, e nós duas escrevemos os 4 textos que deram origem ao espetáculo.Uma comédia, aliás

– Como ouvir? Há dias específicos para as apresentações? 

Sim! Nós devemos ter espetáculo a partir do dia 27 de maio ou 3 de julho. Sempre às quintas-feiras, às 21 horas, na sala “Teatro Pocket Clube” que é hospedada pelo Clube Brazilians in Clubhouse, um clube maravilhoso que hoje é nosso parceiro e sempre abre as portas, ou melhor, as salas pra nos receber.

– Com o fim da pandemia pretende levar os espetáculos para os palcos? 

Pretendemos sim. Alguns deles são perfeitos para o palco, ou quem sabe para serem filmados. Inclusive, já queremos filmar um para a linguagem de internet e de redes sociais.

– Há alguma contribuição para vocês, se sim, como ela é feita? 

A gente não cobra ingresso, sugerimos que quem puder faça a sua contribuição via pix. No futuro, quem sabe, não conseguimos um patrocínio? Aliás, as marcas deviam estar de olho nisso! É uma ótima oportunidade de associar marcas a um produto inclusivo, sensorial e feito com mto amor

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