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Em fase surpreendente, Duda Beat apresenta sofrência hipster e maturidade no álbum “Te Amo Lá Fora”

Foto: Gabriela Schmdt

Por Rafael Hysper

Eduarda Bittencourt, mais conhecida como Duda Beat, lançou o impactante “Te Amo Lá Fora” no finzinho de abril. Trata-se do segundo disco de inéditas da cantora pernambucana com um quê carioca e já ganhou o Brasil com hits como “Bixinho” e “Bolo de Rolo”. Com liberdade artística e mais reflexiva, a artista prova ao longo das 11 faixas que a melancolia pode ser exposta com alto astral. Falamos com ela sobre o processo criativo do novo álbum e os próximos passos.

Com 33 anos vividos, mas com uma curta e já sólida carreira, o novo trabalho é apenas a consolidação desta incrível mulher e de amigos que a cercaram nos últimos anos. Com lançamentos dos mais variados, participou de singles em parceria com Anavitória (“Não Passa Vontade”), Tiago Iorc (“Tangerina”), Gaby Amarantos (“Xanalá”), Mateus Carrilho e Jaloo (“Chega”). Sem contar o lindo EP que lançou no começo deste ano em parceria com Nando Reis. Além disso, já anunciou parceria com Pabllo Vittar para um futuro breve.

Mesmo ainda que Duda Beat já tivesse caído na boca do público, viralizado na internet e alcançado voos mais altos do que o esperado, Te Amo Lá Fora, prova que a experiência e o trabalho coletivo tem um poder bastante significativo, e que o sucesso só está começando para ela. Aqui se tem um álbum muito bem produzido. Criatividade, sonoridades versáteis e técnicas apuradas são vistas em todas as canções. Do house ao piseiro, das desilusões amorosas à superação engasgada. Ritmos e letras que de forma imaginativa, beira um produto final quase impecável.

A estética é um trunfo à parte, com trabalho visual que chama a atenção. Beleza e estilo sempre acompanharam Duda em sua jornada, mas o cuidado com a arte deste disco é a cereja do bolo. Uma capa que remete à cantora Debbie Harry? Talvez! Mas com um estilo obscuro, sombrio, poderoso e, sem dúvida, sexy. Leandro Porto, stylist da cantora, trouxe modelos mais justos, em tons mais sóbrios, com a predominância do preto tanto nas roupas quanto nas fotos e peças elaboradas para compor o visual dessa nova fase. “Te Amo Lá Fora” é sedutor, emotivo, cômico e potente. Em quatro meses de 2021, nada é mais sincero e dançante que ele! Ouça, pois já está disponível em todas as plataformas de streaming.


PING-PONG

Como foi o processo criativo do disco e como a pandemia afetou essa produção?
Fiz um show no primeiro fim de semana de março de 2020 e, de lá, fui direto para uma imersão (na Serra do Rio de Janeiro) com Lux, Tomás e parte da banda para começar a preparar o disco. Foi lá que a gente descobriu sobre a situação da pandemia no Brasil e o início do confinamento. Já estávamos confinados desde um tempinho antes. Então, o processo do disco foi todo atravessado pela pandemia. Antes dessa imersão, tinha só duas músicas prontas, uma delas sendo “Melô de Ilusão”, que quase entrou em “Sinto Muito”. Mas ela ainda não estava redonda e acabou ficando de fora. Agora, encontramos o ponto certo dela. As outras, escrevi na imersão e, nos meses seguintes, trabalhamos a gravação. A pandemia afetou muito. Ela impactou diretamente a atmosfera do álbum, essa coisa mais dark, melancólica e introspectiva é um reflexo desse momento que estamos vivendo. Percebo uma ligação muito direta.

Outra coisa foi a decisão de lançar um disco sem poder fazer show. Sou uma artista de palco, de show. Lançar álbum sem poder fazer o show, para mim, é muito difícil. Mas precisamos nos adaptar, não tem jeito. Adiamos o lançamento que seria ano passado até pensando um pouco nisso. Continuamos sem poder fazer shows, mas “Te Amo Lá Fora” já estava redondo, do jeito que sonhei, e senti que era hora de colocá-lo no mundo.

Você tem uma dupla muito talentosa, que são os produtores e que também compuseram o disco contigo… Fale desse trio incrível!
Ah, que lindo! Olha, eu sou muito feliz por trabalhar em família, com amigos. Digo que realizei o sonho de ter uma banda com os amigos. Lux e Tomás têm uma sensibilidade muito grande e uma escuta aberta, então, trabalhar com eles é um sonho. Sou muito grata aos dois. Quando estamos no processo das músicas, eles me perguntam sempre como quero dançar aquela canção e a partir daí chegamos na versão final. É um trabalho de confiança e muita parceria que temos.

Ainda na criação, como rolaram as participações especiais e a dinâmica de gravações?
Essas participações foram muito especiais. Dona Cila do Coco é um patrimônio na cultura pernambucana. Abrir o disco com ela foi uma escolha intencional, uma reverência ao lugar de onde vim. Para “Tu e Eu”, usamos dois samples dela, “Lá Vem Ela Chorando” e “Coração de Papel”. Então, não gravamos juntas. Quando pensamos em fazer “Nem Um Pouquinho” como um pagodão baiano com trap, na hora me veio na cabeça convidar o Trevo. Ele é um artista muito potente, que conheci quando ainda era da banda Underismo. Depois, ele lançou carreira solo com o ótimo disco “Nada de Novo Sob o Sol” e, esse ano, um EP de pagode baiano. Tinha que ser ele. Convidei, topou e a gravação aconteceu aqui no Rio, com todos os cuidados e protocolos que o momento exige.

Foto: Gabriela Schmdt

Esse álbum mostra uma Duda Beat mais eclética, solta e complexa, mas ao mesmo tempo tem uma Eduarda mais madura e segura. Você e seu lado artístico são um só, ou você se divide em pessoa e personagem?
Acho que tem uma personagem que eu encarno, mas ela é muito íntima de mim porque é uma personagem que nasce das minhas experiências. Uso muito minha vida como material para as composições. Então, elas meio que se misturam, mas também se distanciam. Por exemplo, essa postura agridoce, debochada, cínica em relação ao amor fica mais pra personagem (risos). Eu estou mais na vibe de “Decisão de Te Amar” (risos). Mas é inegável que tudo se mistura um pouco. Sobre essas dicotomias que você citou, acho que isso faz parte do exercício da nossa humanidade mesmo. Todos somos poços de contradição e acho que isso é fascinante demais. A gente nunca está do mesmo jeito, eu nunca estou. Minha música mostra isso. Tanto “Sinto Muito” quanto “Te Amo Lá Fora” falam de amor, mas de maneiras muito diferentes, de perspectivas muito diferentes. E essas duas maneiras me representam.

Sem shows presenciais, exaustão das lives e falta de iniciativas de apoio ao setor artístico, o que significa lançar o “Te Amo Lá Fora” do ponto de vista estratégico? E qual o maior obstáculo neste momento?
O maior obstáculo é justamente esse: não poder estar na estrada, apresentando um show, divulgando um álbum. Mas entendo que o momento pede isso e respeito completamente. O mais importante é todo mundo ficar em segurança. Enquanto isso, vamos trabalhar o show para ele estar perfeito na hora de colocá-lo na estrada. A escolha pelo lançamento foi porque senti que era hora desse projeto nascer, ele estava maduro para isso. Tive dúvidas durante o processo, claro, Não só porque lançaria um CD sem poder fazer show, mas também porque sentia que qualquer coisa que eu dissesse era pouco diante de tudo que estamos passando. Ao mesmo tempo, acredito que a arte une, acolhe e encontra os espaços para inspirar a gente, para fazer sorrir, refletir, ter esperança em dias melhores. Por isso, não desisti. Além disso, o momento que estamos vivendo também está ali, naquela atmosfera mais sombria, melancólica e introspectiva. “Te Amo Lá Fora” tinha que ir para o mundo agora mesmo. A escolha da data foi simbólica, pelo aniversário de três anos de lançamento de “Sinto Muito”.

O que inspirou vocês no disco? O que mais tá bombando na playlist da Duda? Indicações de novos artistas Brasil afora?
Tenho essa playlist, acredita?! (risos). E lá tem desde Cila do Coco, passando por George Michael e chegando a Rosalía. Ou seja, uma grande mistura também. Enquanto estou fazendo o álbum, não gosto de ouvir nada. Fico muito focada nele. Mas esses artistas todos são grandes fontes de inspiração para mim. Novos artistas Brasil afora? Trevo sem dúvida é um artista para as pessoas ficarem de olho e ouvirem.

O disco todo é muito bom e diversificado, dengoso e divertido na mesma proporção. Quais músicas mais te impressionaram?
O disco todo quando ficou pronto eu pensei: ‘Está lindo! Bem como eu imaginava’. Mas acho que as canções que mais me impressionam são “Tu e Eu” e “Mais Ninguém”.

O que define o projeto Duda Beat e o que mais mudou do início da ideia até esse lançamento?
O que me define é o amor, canto o amor. Seja a sofrência, a volta por cima, o amor que deu certo… O amor para mim é um material inesgotável. Muda a maneira como abordo. Por exemplo, em “Te Amo Lá Fora”, tem sofrência, mas não só. Mas o material continua o mesmo: o amor!

Quais os próximos passos e objetivos a serem conquistados?
Vacinação para todo mundo e poder sair em turnê, podendo curtir seguro e protegido. Antes disso, todo mundo ouvindo muito “Te Amo Lá Fora” para cantar junto no show (risos). Vai ter clipe novo em breve. E, no segundo semestre, devem vir mais alguns singles. Aguardem porque tem bastante trabalho pela frente!

Foto: Gabriela Schmdt

 

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