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Agnes Nunes prepara álbum e vai fazer uma série

Foto: Reprodução/Instagram/@agnesnunes

Ela tem só 19 anos, 2,6 milhões de seguidores no Instagram e mais de 200 milhões de streamings nas plataformas de música. Com muitos, na rede social, fala apenas no privado, quando discutem temas como racismo e preconceito. Agnes Nunes, a jovem cantora e compositora baiana, que atualmente mora no Jardins, em São Paulo, é um tipo de assistente social quando esses assuntos são o tema. “Acredita que eu converso mais com as pessoas no particular [no Instagram] que no público? Elas me mandam situações esquisitíssimas, horríveis de racismo que elas passaram. Eu não compartilho essas coisas. Eu sou uma pessoa que sempre está falando do assunto. Aproveitar que eu tenho influência, e saber o que aconteceu comigo, para passar força para meninas e meninos, é ótimo para os que passaram pela mesma coisa.”

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Sim, a jovem passou por muito bullying na adolescência por ser negra, como conta, sobretudo por causa de seu cabelo black. Agnes parece muito mais adulta do que realmente é. Canta e encanta multidões. Acabou de lançar mais um single, “Vish”, no qual ela aparece no clipe com uma roupa de gueixa, mas com a linguagem do nordeste. Segundo ela, que escolheu a roupa, o look foi uma ironia. “Mas foi um conjunto de pessoas, porque eu ainda não tinha stylist, então foi um conjunto de pessoas e foi uma ironia, porque é uma roupa oriental e na música eu uso muitas expressões nordestinas. Foi pensado.”

Diz que aprendeu muito quando dividiu palcos com artistas experientes, como Elza Soares, Elba Ramalho, Seu Jorge e Chico César. “Todas essa pessoas me ensinaram alguma coisa que eu levo para minha vida até hoje. São lendas da música brasileira, e quando a gente está com artistas que a gente admira, é um reconhecimento que você ganha”, explica.

O sotaque de vogais abertas atravessou fronteiras e chegou em artistas que se encantaram com a voz doce de Agnes. Caetano Veloso, Bruno Gagliasso, Gisele Bündchen, Lázaro Ramos, Selton Mello e muitas outras personalidades compartilharam os seus covers nas redes sociais. Em 2019, ela já estava dividindo palco com uma das suas principais influências na música popular brasileira.

Com seu novo trabalho ela tem expectativas altas, pode até virar trilha de novela, e ela está concentrada em seu álbum, o primeiro da carreira. Sobre novos trabalhos, Agnes está alegre por participar de uma série. Conta que já foi escalada, mas não pode dar mais detalhes sobre o trabalho como atriz. É esperar para ver. Se ela for com as câmeras como é com o microfone, temos aí mais uma artista que se divide entre música e TV. 

Leia a seguir entrevista que RG fez com Agnes via Zoom. 

Você é baiana de Feira de Santana e cresceu na Paraíba com sua avó, como foi esse período? 

Olha, eu precisei morar [em Jericó, na Paraíba] com a minha avó porque minha mãe tinha que estudar para poder me dar uma vida boa. Depois eu me mudei para Sousa (PB) e ela já havia terminado os estudos. E tudo estava melhor para todos nós. Em Sousa, eu passei por vários processos, estava no início da minha adolescência, e aí foi um período um pouco difícil, porque Sousa é uma cidade muito pequena, fica no sertão da Paraíba. Foi quando eu assumi o meu cabelo black, e eu escutava coisas terríveis no caminho da escola, coisas péssimas, coisas que para uma criança negra dilacera o coração. E quando eu chegava na escola eu ainda sofria mais bullying e mais racismo pelo fato de o meu cabelo ser cacheado e por eu sou negra. Ouvia coisas como: o que eu tinha escondido dentro do meu cabelo que ele estava tão grande, que as pessoas iam raspar o meu cabelo, para ver se nascia um bom, que iam atacar fogo no meu cabelo.

Mas se eu não tivesse passado pelo que eu passei, eu não teria a força que eu tenho hoje para passar para meninas e meninos. 

Quais são as principais referências na sua vida?

Minhas principais referências são minha mãe, Cida, e minha avó, Teresinha, porque elas são pessoas muito fortes. E foram elas e são elas que me apoiam em tudo o que eu faço. Óbvio que hoje eu também tenho outras mulheres maravilhosas que me apoiam também. 

Como nasce a cantora e compositora Agnes Nunes? 

A música sempre foi uma coisa muito forte na minha vida por conta da minha mãe. E nessa fase que eu sofria muito bullying, tinha coisas que eu falava para a minha mãe, mas tinha coisas que eu não falava, até hoje eu não falo porque eu sei que ela ia ficar mais triste do que eu. Eu queria ser como as outras crianças, e o que foi que eu vi? Que todas as crianças tinha mum celular, e eu pedi um celular para a minha mãe, porque achava que se eu tivesse um, eu automaticamente ia me encaixar e ia parar de sofrer bullying. Mas acabou que eu ganhei um teclado. E acho que se não tivesse sido esse teclado que minha mãe me deu, não existiria a cantora e compositora Agnes Nunes hoje, talvez mais para frente. Aí, quando eu chegava em casa, eu ficava horas no meu teclado, aprendi a tocar sozinha. E arranho um pouquinho de violão.

Quantos anos você tinha quando compôs sua primeira música?

Tinha uns 14 anos.

Quais são suas principais influências musicais?

Eu tenho muitas influências porque sou uma pessoa muito eclética. Vou te falar algumas, eu gosto muito de Elza Soares, Nina Simone, Etta James, Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso, Demi Lovato, e por aí vai. 

Foto: Reprodução/Instagram/@agnesnunes

Como surge “Vish”, de onde veio sua inspiração?

Vish”nasceu do meu primeiro relacionamento. Quando eu comecei a me relacionar com uma pessoa, e vi que eu estava escrevendo várias música para a mesma pessoa. Era uma relacionamento bem complicado, porque eu tinha que ficar mudando para me encaixar na vida de outra pessoa. Aí, acabou, né? E quando eu vi que eu estava escrevendo mais uma música para aquela pessoa, pensei, quer saber, agora vou ser eu, vou usar as minhas expressões, e usei, vish, lasquei, e nasceu assim.

A música é uma graça e tem tudo para virar um hit ou trilha de novela, qual sua expectativa?

Eu sempre coloco expectativas muito altas, acredito que se eu acreditar, vai acontecer. Na verdade já está rolando repercussão, que está me deixando muito, muito feliz. Eu espero que vire trilha de novela, trilha sonora da vida das pessoas. 

Conte como foi gravar o clipe? Você lida bem com as câmeras?

Foi uma das primeiras vezes que eu gravei um clipe. Eu estava muito feliz, e eu sempre gostei de câmeras. Cada vez mais minha familiaridade com as câmeras aumenta. E eu gosto de palpitar, não gosto de chegar e só ser dirigida, quero participar, e participei.

E o look do clipe, você que escolheu?

Foi também. Mas foi um conjunto de pessoas, porque eu ainda não tinha stylist, então foi um conjunto de pessoas e foi uma ironia, porque é uma roupa oriental e na música eu uso muitas expressões nordestinas. Foi pensado.

Como é com tão pouca idade já ter cantado ao lado de nomes como Elza Soares, Elba Ramalho, Chico César, Seu Jorge.

Para mim foi uma honra. Porque são pessoas que eu admiro desde que me entendo por gente. Então, estar com essas pessoas que me fizeram crescer muito no quesito artístico, intelectual, porque eu aprendi muito, é uma honra. Todas essa pessoas me ensinaram alguma coisa que eu levo para minha vida até hoje. São lendas da música brasileira, e quando a gente está com artistas que a gente admira, é um reconhecimento que você ganha. 

E como foi cantar em Angola?

Foi muito bom. Eu não sabia que eu era tão querida em Angola. Precisa ver o quanto eles consomem a cultura brasileira, eles conhecem muitos artistas aqui do Brasil. E eu não sabia que tinha toda essa repercussão. Quando eu cheguei lá, todo mundo sabia cantar as minhas músicas, as mais recentes, até.  Foi um carinho enorme que eu recebi, um povo muito querido, muito receptivo também. 

Já conhece outros países?

Fora o Brasil e Angola, eu conheci Portugal, que gostei muito. Eu amei Portugal, moraria lá facinho. 

Quais são seus próximos projetos?

Meu próximo projeto é meu álbum. Estamos finalizando ele, mas ainda não tem um nome. É meu primeiro álbum, então estou pensando em tudo com muito carinho. Eu espero que todo mundo goste, porque todas as minhas fases estão nele, desde adolescente até agora, menina-mulher, fase que estou vivenciando agora. Todas as música do álbum são minhas. É um álbum que tem 10 músicas.

Foto: Reprodução/Instagram/@agnesnunes

O que pensa sobre feminismo?

O feminismo é uma das coisas mais necessárias do mundo, principalmente agora. Eu acho que nós, mulheres, temos sempre que estar de mãos dadas. Como eu não me encaixava muito no grupo das crianças que eram da minha idade [ainda na Paraíba], do lado da minha casa tinha um centro cultural, onde sempre havia rodas feministas. E eu com 12 anos ia a essa rodas feministas com a minha mãe, as pessoas discutindo e eu fazendo parte. Eu cresci com feministas do meu lado, com mulheres incríveis, fortes. Eu acho que toda mulher deveria ser feminista. É muito lindo você estender a sua mão para a sua irmã e mostrar que você está ali com ela. É muito mais que necessário passar força a outras mulheres, juntas, conquistando os nossos direitos. Principalmente nesse tempos tão difíceis que a gente está vivendo.

E a causa preta, como você se coloca frente a isso?

Eu sempre busco, a partir dos trabalhos que eu faço, falar sobre isso. É muito necessário, muito importante, falar. Acredita que eu converso mais com as pessoas no particular [no Instagram] que no público? Elas me mandam situações esquisitíssimas, horríveis de racismo que elas passaram. Eu não compartilho essas coisas. Eu sou uma pessoa que sempre está falando do assunto. Aproveitar que eu tenho influência, e saber o que aconteceu comigo, para passar força para meninas e meninos, é ótimo para os que passaram pela mesma coisa.” Como é uma coisa que está no Brasil há muito tempo, é mais difícil tirar de forma rápida. As pessoas têm muita curiosidade de saber o que eu faria em determinada situação, quando alguém fala que seu cabelo é ruim ou se é fácil de lavar, por exemplo. Eu tenho muitas pessoas brancas ao meu redor, então sempre que eu posso ensinar a elas palavras que não devem ser usadas, coisas que não devem ser feitas etc. eu ensino. Eu estou sempre aqui do meu lado buscando enaltecer a causa preta.

Foto: Reprodução/Instagram/@agnesnunes

Como cuida de sua beleza? Tem algum ritual?

Tenho vários. Eu sou muito vaidosa, tenho muitos cremes de cabelo, agora que sou embaixadora L’Oréal, então, nossa senhora, eu tenho muitos cremes, sou viciada. Todo dia, de manhã, quando eu acordo, gosto de fazer meu skincare básico, que é lavar o rosto, tonalizar, passar sérum, hidratante e protetor solar. E à noite eu faço a mesma rotina. E ao menos duas vezes por semana eu lavo meu cabelo e hidrato porque ele é um pouco seco. Eu também procuro correr, malhar, comer saudável. 

Tem vontade de fazer um filme, entrar para área de atriz também?

Tenho super vontade. Na verdade, eu consigo vivenciar um pouco disso quando vou gravar clipe.  Vivencio a história que a música conta. Inclusive vou fazer uma série, estou escada, mas não posso falar sobre isso. 

Foto: Divulgação

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