Foto: Sérgio Baia
Ela é jovem, talentosa, gosta de atividade física e é autodidata quando se trata de preparação e estudo. Debora Ozório, a Dora de “Filhas de Eva”, da Globoplay, tem só 24 anos, mas se dedica a fundo e luta pelo que quer. Mora com os pais, no Recreio, no Rio de Janeiro, e tem dois irmãos que já saíram de casa casados, Priscila, que mora em Foz do Iguaçu, e Tiago, que vive no Rio.
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Extremamente articulada, a atriz fala de tudo com a precisão de quem lê muito, sabe muito, vê muito. Começou no teatro ao 10 anos de idade, de onde não saiu mais. “Mas, enfim, acabou de eu ir para uma primeira aula de teatro e eu, por contra própria, disse: ‘nunca mais me tirem daqui’. E as coisas foram acontecendo, fui fazendo outros cursos, e comecei com essa coisa de fazer teste”, conta.
Estreante na família na cena da arte, Debora está se formando no curso de artes cênicas da CAL (Casa das Artes de Laranjeiras). Sim, para ela não bastava ter os cursos de teatro, era preciso uma formação, e ela fez questão disso. Estudiosa que é, se dedica a outras iniciativas, como estudar Libras (Língua Brasileira de Sinais). “Acho importante, primeiro por uma questão de inclusão, acho que cada vez mais a gente precisa dar voz às minorias. Inclusive é uma coisa que eu quero muito levar para as redes sociais, porque a gente faz Stories, postagens e muita gente não está participando. Então, além do diferencial, é um questão de inclusão mesmo”, explica.
Na política, Debora também tem sua opinião. Não concorda com o governo federal atual, e sabe que precisamos de mudança e consciência, sobretudo quando falamos de cultura. “Está difícil, mais do que antes, acho que em vez de estarmos evoluindo, estamos regredindo. Eu não sou de acordo com esse governo. É bem desesperador, às vezes, principalmente neste momento de pandemia, a gente precisa participar de todas as informações e de tudo o que está acontecendo, porque você se sente impotente, vulnerável. Mas é necessário a gente estar presente porque eu, particularmente, fico indignada, e eu acho que nossa indignação nos leva a algum lugar, nos leva a questionar. E eu acho que agora o que a gente tem a fazer diante deste governo e de tudo o que está acontecendo é questionar e se indignar.”
Leia entrevista que a atriz deu ao RG via Zoom.
Como você tem passado a pandemia, foi um período produtivo para você?
Oscila, né? É uma momento difícil, mas eu consegui trabalhar, aproveitei muito esse tempo para estudar, aprendi Libras, consegui acrescentar muitas atividades nova, que eu acho importante, e estreou “Filhas de Eva”, concluí uma gravação na novela “Gênesis” [da RecordTV], mas ainda não foi ao ar a minha participação.
E o que você estudou especificamente?
Estou concluindo meu último período na faculdade de arte cênicas, na CAL, e aproveitei para retornar muitas atividades físicas, que eu sempre fiz, na verdade, mas que agora eu consegui fazer com uma constância maior, por conta de tempo disponível. Faço balé, tecido acrobático, estou sempre buscando alguma coisa nova para fazer.
Foto: Sérgio Baia
E por que essa curiosidade em estudar Libras?
Acho importante, primeiro por uma questão de inclusão, acho que cada vez mais a gente precisa dar voz às minorias. Inclusive é uma coisa que eu quero muito levar para as redes sociais, porque a gente faz Stories, postagens e muita gente não está participando. Então, além do diferencial, é um questão de inclusão mesmo.
É difícil?
É difícil, mas com dedicação a gente chega lá.
Como acontece a Debora atriz?
Eu sempre fui uma criança muito expressiva, muito levada, e minha mãe tentou algumas atividades para me fazer gastar energia. Nas escolas sempre sugeriam que me colocassem no teatro. Eu morava na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio, e era um lugar que não tinha muito acesso para isso, minha mãe teria que sair para me levar, porque eu era muito jovem. Mas, enfim, acabou de eu ir para uma primeira aula de teatro e eu, por contra própria, disse: “nunca mais me tirem daqui”. E as coisas foram acontecendo, fui fazendo outros cursos, e comecei com essa coisa de fazer teste.
E como foi isso?
Foi muito especial, porque eu fiz muitos anos de teatro com Andrea Bacellar, com quem contracenei depois na novela “Espelho da Vida” [Rede Globo], que me deu toda a minha bagagem inicial, e a gente se reencontrou em um trabalho profissional. Foi muito incrível, continuamos trocando, temos contato até hoje.
E como acontece Dora, sua personagem de “Filhas de Eva”?
Eu fiz teste e foi um texto muito gostoso. Eu gosto de fazer teste e entregar para o universo, porque a gente recebe muito “não”, pelo menos na minha trajetória sempre foi assim, e os “nãos” sempre foram tão importante quanto os “sims”. Foi um texto que eu fiquei muito apegada, sabe, então foi muito prazeroso fazer o teste, que eu fiz com a Gabi Medeiros. Logo após me chamaram para uma call back, quando já era eu e a galera que fazia os meus amigos. E aí já estava meio que tudo encaminhado.
E como que você se identifica com essa personagem?
Em muitos aspectos. Eu acho que é muito importante quando você pega um personagem ter coisas que você se identifica. Bem, a Dora é feminista, e eu estou neste processo, que acho ser contínuo, me encontro com isso já há algum tempo, e por ela ser jovem e ter conflitos padrões de sua geração, conflitos dentro de casa, acho que todo mundo passa um pouco por isso, pela desconstrução, do que você é. Então esses encontros e desencontros me identificam muito com ela. A personalidade também, acho que ela é bem firme. E tem a força da união feminina que relata muito isso na série.
E como é o feminismo na sua via hoje?
É todo dia. Eu saber que eu posso, saber que eu sou capaz, livre. Eu costumo dizer que o feminismo para mim é me sentir livre e corajosa. Saber que eu posso fazer e realizar. Eu tive a sorte de ter mulheres muito fortes e independentes na minha vida, minha mãe, minha avó, minhas tias e primas. Mas foi de forma muito natural. Eu acredito que é um processo de todos os dias mesmo, sem fim e de construção e de desconstrução.
E como foi para você ter sua primeira protagonista?
Foi muito especial. É uma personagem que é muito importante para a história, e eu contracenando com pessoas incríveis…
Essa era a minha próxima pergunta, como foi contracenar com grandes nomes, gera aprendizado?
Sem dúvida um aprendizado enorme, eu procurei observar ao máximo porque é uma aula ao vivo que você tem em cada gravação. São só pessoas gigantes que foram muito generosas comigo. Fui muito acolhida, isso dá mais conforto, mais segurança para se jogar e se entregar. Eu observei e perguntei tudo o que podia. Foi uma experiência que eu vou carregar para sempre.
E foi difícil, Debora?
Ah, difícil sempre é, né? Você se cobra e tal. Mas eu sou uma pessoa muito dedicada, então isso me dá uma segurança. E eu vou junto, eu procuro correr junto para chegar lá e fazer o meu melhor. Difícil sempre é, há receios, medos, cobranças, mas acho que o positivo foi muito maior.
E como você se preparou para o papel?
Bom, a gente fez uma preparação [com a equipe da Globo] que foi muito importante, porque a gente acaba criando essas relações, enfim, a gente cria uma intimidade. Eu em casa demando de muita leitura, eu faço pesquisa sozinha, tenho um caderno para cada personagem, coisas que acrescentam só para mim mesma, pensar no “mapa astral dessa personagem.
Você é meio autodidata?
Sou. Mas eu pego de tudo, assim, eu gosto de saber de todas as técnicas, gosto de saber de tudo para ir usando na hora em que for necessário.
E você se interessa por política também?
Acho que não temos a opção de não nos interessarmos.
E o que você acha do atual governo federal frente a arte?
Está difícil, mais do que antes, acho que em vez de estarmos evoluindo, estamos regredindo. Eu não sou de acordo com esse governo. É bem desesperador, às vezes, principalmente neste momento de pandemia, a gente precisa participar de todas as informações e de tudo o que está acontecendo, porque você se sente impotente, vulnerável. Mas é necessário a gente estar presente porque eu, particularmente, fico indignada, e eu acho que nossa indignação nos leva a algum lugar, nos leva a questionar. Acho que agora o que a gente tem a fazer diante deste governo e de tudo o que está acontecendo é questionar e se indignar.
Foto: Sérgio Baia
Tirando política e feminismo, que outras causas você defende?
A gente procura de tudo que seja positivo e nos faça evoluir. Eu gosto muito de participar das causas do meio ambiente, que é uma questão que está muito em alta agora e precisa ser falada; tivemos o dia do povo indígena, e temos que falar também. Acho importante a gente ir dando voz e fala. Nós começamos a entrevista falando de Libras, que é uma causa que acho bom a gente levantar, é isso.
E como você lida com as redes sociais, Debora?
Eu busco um equilíbrio. Eu confesso que para mim não é tão fácil, eu não sou tão ativa, não participo tanto, mas tento botar ali a minha identidade, botar o meu posicionamento e participar porque, sim, é um meio de comunicação que hoje é muito presente e é importante. Mas eu busco um equilíbrio, porque essa vida perfeita, o corpo perfeito, o trabalho perfeito que todo mundo tem na internet é um pouco esquisito para mim. Mesmo que eu saiba que é internet, eu acho que a gente tinha de desmistificar um pouco isso. Eu fico procurando fórmulas, mas há uma grande massa que participa desse projeto de vida perfeito, e eu não concordo muito com isso. Então busco o equilíbrio como atriz, como artista, para poder fazer o meu movimento. Mas eu como pessoa tento, às vezes, dar uma respirada, não me atravessar, não me invadir, não me atropelar diante desse movimento que, se a gente não percebeu, pode ser maior, sabe?
E o que você pode contar sobre Tamires, sua personagem em “Gênesis”?
Está perto, ela já nasceu, mas eu ainda não apareci. Eu não sei exatamente a data, só sei que está próximo, e ela foi uma personagem bem legal também porque é importante na história da Bíblia, porque ela é filha de Ló e a mãe vira uma pedra de sal. É uma passagem da Bíblia importante. A gente teve bastante cuidado até porque é uma personagem que vem a ter relações com o pai.
Como você se preparou para este papel que é completamente diferente de Dora?
Completamente diferente, é outra proposta outro lugar. Na preparação na RecordTV tratamos disso, foi tudo muito rápido, por conta da pandemia, fizemos muitos encontros online, foi um pouco diferente desta vez, mas acrescentou muito também. O que foi muito legal foi que a gente gravou em uma caverna, quando a gente chega naquele lugar tem toda uma magia que acontece a favor, que acrescenta. E isso foi muito incrível. Nós começamos a grava pelas nossas últimas cenas, isso para mim, nessa personagem, foi muito importante. Teve a Polliana Aleixo, que fez a minha irmã, que foi mais um encontro. Acho que todos esses encontros positivos que a gente se identifica, que a gente troca, acrescentam muito.
E cinema, teatro, você tem algum projeto?
Então, em 2021, a gente tem encontrado algumas travas. No teatro, no meio do ano, eu vou fazer minha apresentação de formação, e nós gostaríamos que fosse uma peça mesmo, porque a minha turma é composta de pessoas que já estão inseridas nesse mercado. Mas a gente não sabe se isso será viável agora. Então para a gente não perder o tempo, talvez façamos uma proposta que seja virtual, mas não sabemos ainda. E tenho outros projetos para 2021, mas que é preciso ter paciência por conta da pandemia.
Você já fez série também, gosta de fazer?
Eu adoro. Acho que o tempo que a gente grava, que as coisas se desenvolvem, é muito bom. Eu amo fazer série.
E como foi gravar o “D.P. A. 3”, que é um infantil?
Ah, foi muito legal, foi rápido, eu fiz com a Alinne Moraes, com a qual eu também fiz “Espelho da Vida”, então a gente também se reencontrou. Foi muito divertido. Eu nem tinha gravado ainda e nas redes sociais já estava rolando o que seria, se eu ia ser boa, má. Então tem esse frisson que é muito gostoso.
E como você cuida da beleza, você é ligada em rituais?
Eu sou muito desencanada, eu faço um make por questões de trabalho, mas é esse que você está vendo [bastante natural]. Mas eu amo cheiros, então tudo o que é óleo de corpo, com cheiros, coco, amêndoas, essas coisas, eu estou sempre usando.
Os meus meus rituais de beleza, quanto a cabelo, por exemplo, eu não sou muito adepta a isso não, mas eu me cuido. Mas tem uma coisa interessante para dizer, quando eu quero muito estar bonita, eu gosto muito de dar um mergulho em uma cachoeira, sou apaixonada por elas, coleciono cachoeiras. É até uma coisa que eu falo muito nas minhas redes sociais. Faço terapia também, que é um jeito de me encontrar com minha autoestima.
Foto: Sérgio Baia
E o físico?
Eu amo atividade física, estou sempre fazendo algum coisa, e não só pela coisa da beleza, eu libero endorfina, fico animada, eu fico bem. Eu desde muito nova fazia atividade, e já fiz um pouco de tudo, dança, luta, handebol, hoje faço tecido acrobático. Estou sempre fazendo uma atividade física, e minha meta neste ano é andar de skate. É tudo pelo acrescentar, pelo ser versátil.
E sonhos?
São muitos, eu acho que a gente tem sempre que sonhar alto, sonhar grande. Neste momento, meu sonho é que estejamos todos vacinados. E trabalhar muito, viver de arte.