Cena de “Gloria”- Foto: reprodução/YouTube
Há 60 anos, Cuba derrotou os Estados Unidos em investida contra Fidel Castro durante a invasão da Baía dos Porcos, conhecida como La Batalla de Girón. Foi uma tentativa frustrada de invasão à costa sudoeste da ilha por um grupo paramilitar de exilados cubanos treinado pela CIA, com o apoio das Forças Armadas norte-americanas.
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Na vida real ou na ficção, cubanos seguidores do regime de Fidel comemoram a vitória sobre os EUA. É o caso de Alfonso, personagem principal do curta-metragem “Gloria”, que narra a história de uma Cuba após o fim do embargo americano.
“Eu tenho uma relação longa com Cuba. Já fui sete vezes para lá e toda vez fico muito deslumbrado com aquele povo. E desde então fiquei com vontade de fazer uma obra audiovisual por lá. O curta surgiu durante uma conversa de bar com o Mauricio Bouzon, roteirista do filme. Na ocasião, relatei algumas de minhas experiências vividas na Ilha. A partir disso, fomos criando uma historia baseada em fatos reais, mas com uma pitada ficcional”, diz Vellas, diretor do filme. “O fim do embargo é uma hipótese, não tem base na realidade. Foi criada uma narrativa onde o embargou acabou e Cuba sofre com as transformações capitalistas, que também acabam transformando o subjetivo das pessoas que vivem nessa nova realidade”, acrescenta.
O enredo envolve três gerações de uma família disfuncional: Alfonso, Gloria e Paco, respectivamente avô, mãe e neto. Traz os dramas e os fantasmas enfrentados por cada um, agora ainda mais fortes devido à abertura econômica, que mexeu com o cotidiano deles, e com a ideologia, como a de Alfonso, militar comunista ferrenho. Ele sofre com o provável retorno de um algoz de seu passado – o marido de sua filha, Gloria -, exilado devido ao regime de Fidel e agora anistiado.
Gloria, por sua vez, se vê cada vez mais oprimida e apagada pelos homens que a rodeiam, tendo que conviver com a teimosia agressiva de seu pai, a infelicidade de seu filho, Paco, a ganância de seu atual marido, e o sumiço do único homem que amou na vida e a abandonou grávida. Já Paco luta intensamente por mais autonomia e liberdade em meio a uma família representada por um avô autoritário. O enredo se desenrola com cenas e diálogos marcantes diante de uma Cuba em ebulição.
A produção é da Saigon, com criação de Mauricio Bouzon e Vellas. A direção de cena é de Vellas e o roteiro é assinado por Mauricio Bouzon.
“Trata-se de uma história de ação composta de ritmo intenso e estética forte, mas também um coming of age com flertes dramáticos, trazendo todos os elementos que um bom western contemporâneo pede em sua receita”, define Vellas.
O filme foi rodado na ilha caribenha por meio de parcerias e equipes locais.
Carol Pessini, produtora-executiva da Saigon, lembra com carinho da aventura que foi filmar em outro país, em diárias intensas e divertidas, mas que não foram feitas só de bons momentos: “Chegamos a passar momentos de tensão em uma cadeia cubana. A polícia local achou que as balsas cênicas usadas para a filmagem na praia eram verdadeiras – usadas para fugir do país – e prendeu parte da equipe. Após uma noite tensa, o mal-entendido foi resolvido, nós fomos liberados e a cena de fuga na praia foi feita com êxito”.
Atualmente, “Gloria” percorre um intenso circuito de festivais ao redor do mundo, como Montreux Independent Film Festival, Miami Independent Film Festival, Prague Film Awards, San Francisco AHITH, New Jersey Film Festival, Barciff Barcelona, València Indie Film Festival, ARFF Paris e Asti International FIlm Festival.
“O filme foi inscrito nos principais festivais internacionais e também do Brasil, sendo selecionado pelo júri em 12 deles. O circuito de cinema ficou muito prejudicado com a pandemia. Muitos festivais foram cancelados e outros exibiram tudo online, o que tira um pouco da graça, a gente sabe. Mas mesmo assim valeu a pena fazer o filme girar por aí. Estamos conversando com alguns canais que se interessaram pelo curta, e possivelmente será exibido em breve por algum canal ou player”, conclui Vellas.