“Duas Amigas”, 1913, Lasar Segall – Foto: Divulgacão
Uma história do pensamento da arte, que visa abrir caminho para novos raciocínios e instigar o público à reflexão. Esse é o fio que conduz “50 Duetos – 50 anos da Fundação Edson Queiroz”, exposição que celebra os 50 anos da Fundação Edson Queiroz, instituição sediada na Universidade de Fortaleza – Unifor. Com curadoria de Denise Mattar, a mostra reúne mais de 100 obras de diferentes artistas, períodos e técnicas, trabalhos emblemáticos que perpassam o século 17 à arte contemporânea, organizados em pares e dispostos lado a lado a partir de conexões diversas, desde paralelismo visuais, afinidades temáticas e eletivas, até mesmo suas oposições.
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A mostra abre nesta terça-feira (23.03), de forma virtual, por meio de transmissão ao vivo, às 19h, nos canais da Unifor no Instagram (@UniforComunica ) e no Facebook (UniforOficial), e fica em cartaz no espaço físico da Fundação até 23 de dezembro.
“Vale comemorar com esta exposição, que aporta no Espaço Cultural Unifor em um ano desafiador, quando a arte se torna ainda mais essencial diante do ímpeto de afirmação da vida, apesar de tudo. Vem dela o poder terapêutico e o olhar sensível que devem se derramar sobre o mundo. E é esse espírito de união, entrelaçamentos e diálogo proposto em 50 Duetos com que irão se deparar os espectadores que se colocarem diante dos pares de obras expostos”, reflete Lenise Queiroz Rocha, presidente da Fundação Edson Queiroz.
“Em celebração a seus 50 anos, a Fundação Edson Queiroz apresenta a exposição ’50 Duetos’, que reforça sua filosofia de aliar as iniciativas culturais à missão de educar com excelência. A mostra apresenta conexões nunca antes feitas com obras da Coleção Fundação Edson Queiroz, suscitando debates que permeiam diversas áreas do conhecimento. Imperdível tanto para a comunidade acadêmica quanto para o público apreciador de arte”, destaca o vice-reitor de extensão da Universidade de Fortaleza, professor Randal Pompeu.
“Perfil V”, 1984, Ibere Camargo – Foto: Divulgação
A exposição
“50 Duetos” traz ao público uma disposição inédita de obras de importantes artistas da história da arte que integram o acervo da fundação, dentre os quais: Antonio Bandeira, Anita Malfatti, Almeida Júnior, Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Bonaventura Peeters, Candido Portinari, Cícero Dias, Cristiano Mascaro, De Fiori, Djanira da Motta e Silva, Di Cavalcanti, Fernando Botero, Félix-Émile Taunay, Iberê Camargo, Ismael Nery, Irmãos Campana, Frans Krajcberg, Geraldo de Barros, Leda Catunda, León Ferrari, Luiz Hermano, Mariana Palma, Maria Martins, Maciej Babinski, Mira Schendel, Pedro Alexandrino, Raoul Dufy ,Sebastião Salgado, Sérgio Helle, Tarsila do Amaral, Tomie Ohtake, Victor Brecheret, entre outros.
“Minha proposta curatorial tem muito a ver com os tempos de hoje, com o mundo atual onde as coisas vão se conectando de formas diferentes, onde as pessoas têm necessidade de uma visualização mais rápida. Vamos contar uma história da arte, só que, em vez de contar de forma cronológica, mostraremos uma história do pensamento da arte”, explica Denise.
Abrindo a exposição, um conjunto de litografias do icônico artista espanhol Salvador Dalí dialoga com escultura do austríaco-brasileiro Xico Stockinger, considerado um dos principais escultores modernos, a partir do tema Dom Quixote. A série de litografias de Dalí, intitulada “Dom Quichotte”, foi realizada na década de 1950 inspirada em trechos selecionados do emblemático livro homônimo de Miguel Cervantes, enquanto a obra de Stockinger, que integra sua série de “Guerreiros”, foi criada em 1970 como um protesto velado à ditadura que pairava sob o Brasil. Nestes trabalhos, o artista recorria com frequência a arquétipos, sendo Dom Quixote o mais famoso entre eles.
No duo formado por obras de Belmiro de Almeida e João Câmara, a curadora chama a atenção do visitante para a semelhança visual e da composição das telas. Trata-se de “Figuras Femininas” (c.1900), tela construída de forma quase impressionista por Belmiro, e “Langueur do Outono” (1989), do contemporâneo João Câmara. O dueto traz um QR Code que leva o visitante até um depoimento em vídeo de João Câmara, no qual o artista fala sobre a obra exposta, trabalho da série “O Tango em Maracorday” (1989), na qual ele recria, à sua maneira, a saga do assassinato do revolucionário francês Jean Paul Marat por Charlotte Corday.
“Figuras Femininas”, c.1900, Belmiro de Almeida – Foto: Divulgação
Também de irrefutável semelhança, está o dueto composto por autorretratos de Ismael Nery e Iberê Camargo, que dialogam tanto pela aparência física das figuras retratadas, quanto na densidade dos personagens.
A melancolia, tema que tem sido, ao longo dos séculos, uma grande inspiração para as artes, conduz o dueto formado por Lasar Segall e Vik Muniz. Com o tema “A Melancolia Expressionista”, a exposição traz a emblemática tela “Duas Amigas” (1914), do pintor lituano Segall, artista que ajudou a mudar a cena de arte paulistana – e nacional -, ao lado da obra “Melancholy” (2008), de Vik, expoente da geração 80, com reconhecimento internacional.
Sob a ótica da poética do cotidiano, a mostra traz lado a lado obra da série “Ambiente Virtual” (2001), da artista carioca Adriana Varejão, com a infogravura “ACQUA XLVII” (2013), de Sérgio Helle, artista cearense há mais de três décadas em plena atividade, que mescla ferramentas digitais às tradicionais técnicas da pintura.
Alfredo Volpi e José Guedes são conectados na exposição pelo domínio singular das cores, da textura e do espaço pictórico. “Os Pigmentos” e a “Explosão das Cores” permeiam, ainda, o duo composto por trabalhos de Eliseu Visconti e Luiz Sacilotto.
Cada dueto é acompanhado de textos especialmente concebidos para mostra, acompanhados de referências e links sugeridos através do uso de QRCodes, áudios, vídeos, músicas, que explicitam a conexão elencada pela curadora. São desde vídeos de artistas vivos que compõem a exposição comentando seus trabalhos e também o que acharam da conexão estabelecida no dueto, até textos que a curadora já escreveu sobre os artistas e links para catálogos que a Fundação Edson Queiroz editou, mas que estão, fisicamente, esgotados.