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Em 2021, Pinacoteca de São Paulo exalta artistas negros

Foto: Levi Fanan

Em 2021, a Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, investiga as relações entre arte e indústria. Essa combinação marca a exposição A máquina do mundo que examina as várias formas pelas quais a atividade industrial, desde o século 20, atravessa o pensamento da arte feita no Brasil. O tema também norteia as mostras sobre os artistas José Damasceno, John Graz, Rosângela Rennó e na que marca o centenário de nascimento de Fayga Ostrower. 

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Outro grande destaque da programação é uma mostra coletiva que se integra ao projeto Enciclopédia Negra, onde 100 retratos de personalidades negras da história do Brasil serão produzidos por 35 artistas negros contemporâneos, uma colaboração com a Companhia das Letras, o Instituto Ibirapitanga e o Instituto Soma Cidadania Criativa. A programação conta com 9 novas exposições que poderão ser visitadas pelo público na Pina Luz e na Pina Estação.

A temática deste ano é inspirada na noção de que arte e produção estão intimamente mais relacionadas do que imagina o senso comum. O termo “arte” corresponde ao grego “techné”, técnica, no sentido de uma atividade destinada à elaboração de conhecimento por meio da associação entre o fazer, ou fabricar, e o pensamento ou poieis. 

“De maneira geral, artistas chegam a soluções para suas questões materiais e expandem as possibilidades das várias linguagens artísticas. Eles e elas o fazem a partir de descobertas da ciência e da indústria – ou então terminam inventando, eles e elas mesmos, tais procedimentos e recursos”, ressalta o diretor-geral da Pinacoteca de São Paulo, Jochen Volz.

Em “A Máquina do Mundo”, com curadoria de José Augusto Ribeiro, os trabalhos abordam a arquitetura, o maquinário das fábricas, a produção em série, o trabalho do operário, os padrões, os modelos e as logomarcas dos objetos da indústria, entre outras. A seleção das obras incorpora peças emblemáticas de arte moderna brasileira, pinturas de Tarsila do Amaral, imagens feitas pelo fotógrafo alemão Hans Gunter Flieg em indústrias brasileiras, entre 1940 e 1980, e filmes que documentam a vida dos trabalhadores de fábricas em São Paulo no começo da década de 1980, entre eles, o “ABC da Greve e “Chapeleiros”, dos cineastas Leon Hirszsman e Adrian Cooper, respectivamente. O título da exposição é inspirado em um poema, de 1951, de Carlos Drummond de Andrade.

As mostra individuas de Rosângela Rennó, curadoria de Ana Maria Maia, e de José Damasceno, com curadoria de José Augusto Ribeiro, na Pina Estação, oferecem ao público uma seleção de obras dos últimos 30 anos desses artistas que permite elaborações sobre as diferentes fases de suas trajetórias. No tocante a Dasmasceno, a variedade de linguagens em cerca de 70 trabalhos chama a atenção, são esculturas, fotografias, desenhos e instalações, que por sua vez reportam ao cinema, à música, ao teatro, à arquitetura e à história da arte. Nos trabalhos de Rosângela, o visitante pode verificar que a fotografia sempre tem um pretexto, uma finalidade maior que vai além da visibilidade da imagem. Para esta mostra, foram encomendados projetos inéditos e comissionados para o contexto específico do museu.

Em mais uma mostra individual da programação 2021, o museu celebra o centenário de nascimento de Fayga Ostrower, com “Fayga Ostrower-Imaginação Tangível”, uma das pioneiras da gravura abstrata no Brasil. A seleção de obras conta com 130 trabalhos que relacionam a proximidade da artista com os mais diversos materiais e a sua capacidade inovadora na apropriação de técnicas tradicionais, como gravura em metal, xilogravura e serigrafia. Além disso, um recorte especial da artista é a produção de estamparias, momento de sua trajetória que estará presente na mostra que tem curadoria de Carlos Martins.

Representatividade

Recentemente, a Pinacoteca de São Paulo inaugurou a mais a nova apresentação da coleção do museu com cerca de mil obras de mais de 400 artistas, com narrativas mais diversas e inclusivas. Um retrato disso foi o crescente número de obras de artistas do sexo feminino e de artistas negros na mostra. As artistas mulheres passaram de 17 para 95, e os artistas negros de 7 para 26 na comparação com a antiga exposição do acervo. A representatividade norteia as escolhas da instituição que após inaugurar, em 2020, “Véxoa: Nós Sabemos”, dedicada à arte contemporânea indígena com curadoria indígena de Naine Terena, apresenta uma mostra coletiva dedicada às personalidades negras que marcaram a história do Brasil, ao todo 100 retratos serão produzidos por 35 artistas negros contemporâneos.

A iniciativa se integra ao projeto Enciclopédia Negra, organizado por Flávio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Schwarcz. A primeira etapa é a edição de um livro que será lançado pela Companhia das Letras, em 2021, com 300 verbetes sobre personalidades negras que se destacaram ao longo de quase quatrocentos anos de história do Brasil. Junto a tais biografias, a obra contém os retratos comissionados a 35 artistas negros contemporâneos, entre os quais Antonio Obá, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Castiel Vitorino, Dalton Paula, Daniel Lima, Desali, Igi Ayedun, Juliana dos Santos, Moisés Patricio, Mônica Ventura, Nadia Taquary, Panmela Castro, Paulo Nazareth, Rebeca Carapiá, Renata Felinto, Rodrigo Bueno, Sônia Gomes e Tiago Sant’Ana.

A exposição será a primeira visualização pública do resultado do projeto, que depois irá percorrer outros espaços. Os retratos integrarão à coleção da Pinacoteca de São Paulo, criando uma importante intervenção no que diz respeito à busca por maior representatividade de artistas negros no museu.

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