“Eu Me Lembro”- Foto: João Caldas
Estreia neste sábado (09.01), no Teatro Novo, o espetáculo “Eu Me Lembro“, com direção de Miguel Hernandez. A história conta sobre uma civilização que evita conflitos graças a sua estrutura matriarcal. A peça é um contraponto com os dias atuais e propõe experiências sensoriais desde sua recepção, porém agora com algumas alterações.
Em virtude da Covid-19, o diretor conta que tiveram que reestruturar toda a movimentação do espetáculo. “”Antes o contato e o toque entre os atores era um elemento muito valorizado e isso teve que deixar de existir. Acho que a principal mudança é que se antes seguíamos uma linguagem realista, agora buscamos uma linguagem mais narrativa””, afirma ele. Também foi necessário incorporar as máscaras no espetáculo, e segundo Hernandez estão buscando o melhor tecido para não prejudicar a emissão de voz, e também estão sendo feitas sob medida para cada ator.
O diretor de produção do espetáculo, Eduardo Jacsenis, lembra que a estreia precisou ser adiada. “Iríamos estrear em maio de 2020, mas não conseguimos por causa da pandemia. Retomamos em novembro seguindo todos os protocolos de segurança, entre produção, elenco e plateia”, salienta, acrescentando que houve preocupação em relação ao público, e buscou-se medidas protocolares. “O teatro anfitrião estará cumprindo todas as normas de segurança, com medição de temperatura na entrada, redução do número de poltronas da sala em 60%, venda de ingressos pela internet, uso obrigatório de máscara e distanciamento entre os assentos”, reforça.
A peça transporta o público a uma época atemporal, sem espaço geográfico definido, e proporciona uma reflexão sobre nossos princípios, observando dogmas e moralidades da sociedade contemporânea em contraponto com uma realidade paralela à que vivemos. Hernandez comenta que uma civilização regida pelo matriarcado traz uma série de mudanças e que percebemos claramente o contraste de como as pessoas vivem naquela sociedade e como nós estamos vivendo. Ele diz que quando isso se reflete, conseguimos perceber uma série de comportamentos que hoje achamos naturais, mas são completamente absurdos. “A peça mostra que tudo é uma construção, que nosso comportamento não é natural, é algo construído e que pode mudar. Não damos uma solução, mas levantamos outras possibilidades de se viver. A peça te dá um repertório maior e melhor para poder agir no dia a dia, percebendo outras saídas e possíveis soluções.”
Thais Barbeiro, idealizadora do projeto, conta que se inspirou no livro homônimo do escritor DeRose: “Quando li a história me emocionei bastante e achava que era possível viver esse estilo de vida. Vejo uma forma de se viver a vida com escolhas”. Thais, que também faz parte do elenco, conta que para as audições, um dos requisitos foi a empatia com o conteúdo do livro. Além dela, também integram o elenco Valdano Sousa, Priscila Schimidt, Péricles Moraes, Matheus Prestes, Marisa Mainarte, Fabio Átila, João Corrêa e Josué Casemiro.
A proposta do processo imersivo, que vai ser vivenciado pelos espectadores na estreia, começou com os atores, que buscaram referências estéticas em Grotowski e Pina Bausch. Com a primeira referência, trouxeram vivências pessoais para a peça. Já em Pina Bausch, buscaram leveza, elegância e simplicidade que a coreógrafa difunde no jogo cênico. Para o diretor, o grande desafio é classificar um espetáculo em termos de linguagem dentro de uma sociedade Ocidental. “A peça não tem a ação como algo importante, mas sim como contemplação. Nossa tradição ocidental necessita do embate para que a narrativa se desenrole, diferente da peça”, ressalta.