Vestida de branco e tirando do peito sentimentos profundos, Miranda Caê lança seu segundo clipe elevando a dor e pedindo por paz após um ano muito conturbado e violento para tantas mulheres. Em “Leve“, a artista apresenta um arranjo sensível e imersivo usando sua voz e expressão artística para reviver Luara, uma amiga que foi vítima de feminicídio pelo próprio parceiro em agosto desse ano.
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Focado apenas em Miranda em um cenário de conexão com a natureza, o clipe carrega em si uma atmosfera que transcende entre a vida e a morte, o peso e a leveza e toda as singularidades sobre a transcendência e transgressão do própria corpo de Luara, que era uma mulher trans.
“Saber que ela estava morta pelo próprio namorado em um momento de ira dele foi extremamente forte. Ela vivia um amor conturbado porque foi uma forma que ela encontrou de se relacionar com outras pessoas”, divide Miranda.
Com influências da MPB e do R&B em seu trabalho, Miranda tem como um dos objetos principais de sua arte a expressão sobre os afetos, os encontros e os amores, por isso, em “Leve”, a artista ressignifica a dor através do reviver de Luara em um plano mais espiritual e afetivo, em busca de acalanto.
Para essa visita poética, a música foca na voz e piano com participação de Pedro Ascaleta, trazendo nessa musicalidade uma estética tão leve quanto seu próprio nome. “Eu queria usar esse espaço da minha existência enquanto artista para ela. Pensei em um clipe que trouxesse algum tipo de conforto à alma dela”, conta Miranda.
Vítima de feminicídio pelo parceiro, Luara Redfield, de 23 anos, foi encontrada morta no dia 22 de agosto em Mairinque (SP), após mais de 10 dias desaparecida. O ex namorado de 18 anos, foi levado à delegacia e confessou o crime.
Amiga de Jadson Siqueira, que é quem dá vida e voz à Miranda Caê, Luara é um dos exemplos de uma realidade alarmante: o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais em todo o mundo, segundo a Associação Nacional de Travestir e Transexuais (Antra).
De acordo com o documento, 124 pessoas trans foram assassinadas em 2019. Em relação ao feminicídio, esse foi um dos anos mais violentos para as mulheres (cis ou trans), de acordo com a pesquisa Um Vírus e Duas Guerras, uma mulher foi morta a cada nove horas durante a pandemia no Brasil. Desde o começo da epidemia, 497 mulheres perderam suas vidas.