Foto: Dih Lemos
Expondo pela primeira vez na América Latina, o artista franco-argelino Kader Attia estreia com a mostra “Irreparáveis Reparos”, individual em cartaz até 30 de janeiro de 2021 no Sesc Pompeia. Com curadoria da historiadora de arte alemã Carolin Köchling, a exposição traz ao público brasileiro obras inéditas e trabalhos emblemáticos de Attia.
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Inicialmente prevista para acontecer entre os meses de abril e julho deste ano, a mostra, que teve sua abertura adiada devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19, agora pode ser visitada gratuitamente pelo público de terça a sexta, das 15h às 21h, e aos sábados, das 10h às 14h, mediante agendamento prévio pelo site sescsp.org.br/pompeia. As visitas à exposição de Attia têm duração máxima de 90 minutos e o uso de máscara facial é obrigatório para todas as pessoas, durante toda a visita.
Foto: Dih Lemos
O galpão expositivo do Sesc Pompeia abriga sete salas montadas especialmente para receber instalações, fotografias, esculturas e obras em outros suportes que refletem a intensa pesquisa realizada nos mais de 20 anos de carreira do artista. As criações artísticas de Attia dialogam com temas latentes na contemporaneidade, como reparação, pós-colonialismo, diásporas africanas e questões relacionadas a como essas marcas históricas são vividas e revistas entre as nações.
Para o artista, a concepção de reparo pode ser entendida tanto como um processo de amalgamento das instituições ou das tradições; dos sujeitos ou dos objetos, como ainda pode estar ligado às perdas ou feridas, à recuperação ou à reapropriação da história.
Foto: Dih Lemos
Enquanto a noção de reparo no Ocidente tenta retornar os objetos a um estado e a uma ordem original, buscando uma perfeição e estética idealizadas, Attia apresenta uma outra forma de reparo, em que, por exemplo, sociedades que passaram por interferências de colonização transformam materiais e objetos da modernidade ocidental em suas próprias construções culturais, como na obra “Injury Reappropriated”.
Muitos trabalhos do artista podem ser lidos em conexão com o Brasil, tendo em vista paralelos históricos e heranças estruturais. Esse vínculo é percebido na videoinstalação “Mimesis as Resistance“. Nela, pássaros “assimilam” e reproduzem sons de motosserras, sons daquilo que reconhecidamente representam o processo de destruição da natureza. Tal característica de mimetizar os barulhos dos equipamentos responsáveis pela devastação ambiental pode ser compreendida, inclusive, como crítica ao sistema de exploração contínua na Amazônia e a destruição do território dos povos nativos.
De acordo com a curadora, “a concepção que Attia tem de reparo contraria a ruptura da modernidade Ocidental com o passado, que favorece o progresso de consumo, que alimenta o mito de que o reparo pode apagar a lesão, levando ao apagamento da memória. No contexto da complexa história brasileira de colonização e escravidão, a exposição tem como objetivo proporcionar uma reflexão sobre os legados e as manifestações coloniais nos dias atuais”.
Foto: Dih Lemos
A mostra ganha uma instalação inédita em conexão com temáticas brasileiras, “Untitled”, sobre como o deslocamento de artefatos culturais de comunidades africanas e indígenas apontam para uma transformação estrutural forçada, na diáspora, em museus ocidentais.
Um dos trabalhos mais emblemáticos do artista, a instalação “J’acusse”, também faz parte do corpo de obras expostas. Presente na 57º Bienal de Veneza de 2017, a obra reúne bustos de madeira que foram entalhados a partir de fotografias de veteranos da Primeira Guerra Mundial que sofreram lesões faciais severas. Ela enaltece o trabalho de pesquisa e concepção do artista sobre as histórias pós-coloniais, com profunda atenção, principalmente, ao trauma resultante da guerra.
A exposição acompanha o envolvimento de Attia com as correlações entre humanidades e objetos culturais, arquitetura, gênero e natureza; bem como os efeitos do trauma material e imaterial sobre o indivíduo e grupos sociais.
“Irreparáveis Reparos”, individual de Kader Attia
Local: Sesc Pompeia.
Curadoria: Carolin Köchling.
Período expositivo: até 30 de janeiro de 2021.
Funcionamento: Terça a sexta, das 15h às 21h. Sábado, das 10h às 14h.
Tempo de visitação: até 90 minutos.
Agendamento de visitas: www.sescsp.org.br/pompeia.
Classificação indicativa: 14 anos.
Grátis
Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93.
Não temos estacionamento. Para mais informações, acesse o portal: sescsp.org.br/pompeia.