“A Caipirinha”, de Tarsila do Amaral – Foto: Divulgação
Em 1923, em carta enviada à família, a paulista Tarsila do Amaral (1886-1973) dizia: “Quero, na arte, ser a caipirinha de São Bernardo, brincando com bonecas de mato, como no último quadro que estou pintando”. A artista se referia à fazenda onde cresceu e à pintura “A Caipirinha” (óleo sobre tela, 60 cm x 81 cm), produzida naquele ano, um após a Semana de Arte Moderna, e que agora vai a leilão por conta de uma penhora judicial. Com lance mínimo de R$ 47 milhões, recorde para um(a) artista brasileiro(a), a obra estará disponível para arremate em 17 de dezembro, em evento realizado pela Bolsa de Arte.
“Nunca houve uma obra dessa relevância e deste valor sendo vendida no Brasil, por isso o leilão deve gerar uma grande expectativa. Até então, os dois recordes de vendas públicas no país eram de “Superfície Modulada nº 4”, de Lygia Clark, que alcançou R$ 5,3 milhões em 2013, e “Vaso de Flores”, de Guignard, arrematada dois anos depois por R$ 5,7 milhões em valores da época”, destaca Jones Bergamin, o Peninha, presidente da Bolsa de Arte.
Um dos nomes centrais da pintura brasileira do século 20, Tarsila garantiu sua posição no olimpo das artes visuais ainda em vida. Participou das bienais de São Paulo (1951,1952 e 1963) e Veneza (1964), a mais importante do mundo, e foi tema de duas grandes retrospectivas no Brasil – uma no MAM SP, em 1950, e outra (“Tarsila, 50 Anos de Pintura”, com curadoria de Aracy Amaral) dezenove anos depois, no MAM carioca e no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo. Mas foi só postumamente que suas obras atingiram cifras extraordinárias.
O marco dessa escalada se deu em 1995, quando o empresário argentino Eduardo Costantini adquiriu o “Abaporu” (1928) por US$ 1,3 milhão (cerca de US$ 2,2 milhões em valores atuais) durante um leilão em Nova York. Presente de Tarsila para o marido e poeta Oswald de Andrade e ícone inaugural do Movimento Antropofágico idealizado por ambos, o trabalho passou a integrar a coleção do Malba – Museu de Arte Latina de Buenos Aires, fundado por Costantini em 2001, do qual se tornou a principal atração.
Em 2018, o MoMa – Museu de Arte Moderna de Nova York realizou a exposição retrospectiva “Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil”, com curadoria de Luis Pérez-Oramas e Stephanie D’Alessandro, que reuniu uma centena de trabalhos e foi a primeira no país dedicada à artista. No ano seguinte, o museu incorporou à sua coleção a obra “A Lua” (1928), por um valor que, especula-se, beirou os US$ 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões). Ainda em 2019, foi a vez do MASP – Museu de Arte de São Paulo realizar “Tarsila Popular”, a mais ampla exposição já dedicada à artista no Brasil, com 92 obras, e recorde de público na história do museu, com 403 mil visitantes. Em novembro de 2020, a pintura “Idílio” (1929) esteve à venda na versão online da Tefaf – The European Fine Art Fair por US$ 7 milhões.
“Muitos desses eventos foram importantes para a valorização da obra da Tarsila, pois mostram que os estrangeiros olham para ela como uma artista fundamental na história da Arte Moderna no mundo. Ela está presente em alguns museus internacionais, como o Hermitage, em São Petersburgo (Rússia), o Reina Sofía, em Madrid, e o Musée de Grenoble, na França, além do próprio MoMa. Isso confirma que Tarsila não é importante somente aos olhos de colecionadores brasileiros; ela tem uma grande importância no cenário internacional”, defende Thiago Gomide, consultor do projeto.
Bolsa de Arte
R. Rio Preto, 63, Cerqueira César, São Paulo.
Tel.: (11) 3062.2333.
Visitação: de 8 a 17 de dezembro, das 11 às 19 horas.
Entrada franca. Máximo de 10 visitantes por vez no salão.