Sempre há novidade boa aparecendo no cenário da música. Jairo Pereira é uma dessas gratas surpresas que, às vezes, recebemos na redação. Com uma pegada forte e letra consistente, o artista mostra logo a que veio, e seu som é uma porrada aos ouvidos, menos pelo peso sonoro, ms pela letra.
Em um cenário político-social estruturalmente racista, lutar não é opção e, sim, uma questão de sobrevivência. Afinal, para a necropolítica do estado não há idade, gênero ou classe social quando se tem a pele negra. Neste single, a dupla de rappers faz sua ode à resistência por dias melhores.
A música “A Corte Vai Cair!” tem participação de Dani Nega, e vale muito ser ouvida, pode apostar. O single remete um pouco ao início dos Racionais e tantos outros que hoje já brilham no cenário do rap. Nós curtimos bastante a pegada.
O videoclipe do novo som também será lançado dia 11 de dezembro, no canal no YouTube de Jairo Pereira. O trabalho é uma codireção entre Pereira e Murilo Durães, videomaker que vem se destacando na cena do hip hop.
“A Corte vai Cair!”
(Jairo Pereira / Dani Nega)
Eles me veem como ameaça
Porquê a minha aparência
Não condiz com o status
De bem sucedido
Feito o menino
Morto a tiros
Confundido por aquilo
Que acharam
(Racistas!)
Ser o “Tal Bandido”
Eu tô cansado mas não paro
Porque a guerra não descansa
Acredite ainda tenho muito pra lutar
Brecar a mão que ameaça com a chibata
É meu dever, não sou cativo
A senzala não é meu lugar
Repetitivo admito sou preto cismado
Contra os enquadros que dominam
Em prol da “elite”
Causam terror a minha gente
Perfuram barracos
Só que pra sua infelicidade
Ainda estamos vivos
Vejo facínoras fascistas
Guiando o povo
Se aproveitam da revolta pra fazer manobras
A massa clama pois tem fome
tem medo e chora
Mas ignoram cegamente
O valor da esmola
Diretamente da cidade em escombros
Realidade delirante
Ela afronta e enfrenta e fere o vilão
Sem arma na mão
Unhas e dentes
Ameaça o poder vigente
Com sua voz ferina
Pena e espada
Ela taca a lança
Trava a batalha e dança
Dani Nega!
Sistema de porco
Cuzão!
Que perfura de bala o pulmão
Da pele retinta do irmão
E o sangue pingando no chão
Que você ajoelhou em oração
No templo de…
Maquina de fazer cifrão
Que fode o cú do povo com a mão
De antemão, vou te falar
Prepara tua cova pra tu te enterrar
Que nós vamos chegar
Pra desinstalar
O ódio de anos não vamos calar
Nós vamos arrombar
E reinstalar
Um sistema pra mão preta comandar
E vamos afundar tua estrutura
Que fez a nossa pele de noite sangrar
Nós vamos chegar
Pode chorar!
Nós vamos atacar
Pode chorar!
A plebe se revoltou
A corte vai cair
O povo grita
E o tirano não gosta de ouvir
Sirenes tocam
Ratos se sentem donos do mundo
Olha o jogo que sujo
Seu pedigree é imundo
Ao meu redor vejo iguais
Se acabando em ódio
Todos querem pódio
E pra isso não poupam cabeças
Desbravadores genocidas
Moldaram a história
Pra vermos glória
Onde há um mar de violência
Não me peça paciência
Eu tô debaixo da bota
Fascistas rosnam
E “us moleke” juntando sequelas
Cê não entende
É que fizeram um belo trabalho
Quebre as grades
Que aprisionam sua consciência
Raíz é arma, eles sabem
Confiam na escola
Educação manipulada
Só ferra cá mente
Não tô aqui pra obedecer
O seu jogo sujo
Eu sou a mosca em sua sopa
A te deixar doente.
Erica Malunguinho:
[…] Assim como eu arco com o ônus de ter uma origem escravizada
E por isso eu tenho que negociar no mundo de algumas formas
A branquitude precisa arcar com o ônus de ter uma origem escravagista […]