O empresário sempre esteve inteirado da indústria cinematográfica, fez estágio fora e também comanda distribuidora (Foto: Divulgação)
Você é do tipo que passa muito mais tempo buscando um filme nas plataformas de streaming do que, propriamente, assistindo? O empresário Bruno Beauchamps usou essa cena para ilustrar o oposto do que a sua nova plataforma de vídeo sob demanda (S-VOD), a Filme Filme, oferece. Ao invés de um vasto catálogo aos assinantes, ela entrega produções com uma curadoria certeira. A cada semana, estreiam três novas produções em diferentes categorias, como se fossem salas de cinema diversas exibindo longas de ficção, documentário e curta-metragem.
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“Por causa do streaming, as pessoas começaram a ir menos ao cinema, que começou a ficar mais caro. Para fazerem a receita que faziam com um filme, as distribuidoras tinham de acabar lançando três filmes por mês. Então, era uma loucura de trabalho”, diz ele que desde cedo esteve envolvido no business cinematográfico e também comanda a Pagu Pictures. “Faltava uma plataforma focada em cinema de alta qualidade, onde você escolhe um filme, assiste e aquilo mexe com você”, opina.
Para entender seu público e o nicho, Beauchamps fez um estudo com todos os lançamentos no Brasil em 2019 – foram mais de 700 títulos. Levantou ainda quais teriam sinergia com seu público. Em mais uma análise, chegaram ao número de 9,5 milhões de bilhetes vendidos no total. Se o número fosse cortado para as pessoas que assistiram aos independentes, o número beira os 800 mil. A longo prazo, é esse o número de usuários que o serviço quer atingir. “A Filme Filme é para quem gosta de cinema, alta qualidade e a gente não quer ser ou brigar com o Netflix ou a Amazon“, defende ele, falando que as escolhas de curadoria não são focadas naquele cinéfilo que se interessa por obras-cabeça. Vencedores do Oscar e de apelo comercial também são bem-vindos.
“Nosso novo slogan é cinema que move você”, explica Beauchamps, que ao lado do sócio e co-fundador Victor Takahashi desenvolveu uma tecnologia única para a plataforma. “A gente quer que a pessoa termine de assistir e se sinta diferente de quando ela entrou na sala. Que aquilo mexa com você.” Segundo ele, a empresa está alicerçada em quatro pilares: mais tempo assistindo do que procurando, qualidade versus quantidade, curadoria feita por gente de verdade e, por fim, não é preciso pagar caro para se ter um produto de qualidade. “Você tem duas opções de plano: Paga dez reais por mês ou, no plano anual, que custa 96 reais, a gente dá 20 por cento de desconto e assiste ao que você quiser.”
A ideia é que só tenham escolhas excepcionais em que as pessoas entrem e, rapidamente, encontrem um filme para assistir sem zapear muito. “Quando a gente tem muita opção, se perde e dificulta seu processo de escolha.” Em um futuro próximo, a ideia é produzir conteúdos próprios. “A partir de janeiro, a gente quer trazer filmes inéditos e exclusivos, em lançamento simultâneo com o cinema ou estrearem direto com a gente”, sugere.
Se o cinema independente briga por espaço nos parques de exibição, que pouco cresceram ao longo dos anos e ficam restritos a salas como Espaço Itaú e Reserva Cultural, o lugar para curtas-metragens é quase inexistente nesse circuito. “Não existe mercado comercial de curta-metragem no Brasil e a gente apostou nisso e trouxe alguns como pontos fortes”, explica.
Quando lançou a plataforma, o usuário pagava pelo que assistia. Hoje, o site permite que você tenha acesso a dois tipos de conteúdo. Os filmes em cartaz, que ficam durante um mês e o catálogo, onde ficam por mais dois, com uma limitação de 24 filmes por categoria. Toda quinta-feira, entra um novo filme. Nesse espaço, há ainda uma indicação como espécie de termômetro ou selo de qualidade sobre prêmios e festivais internacionais, que passam pelo crivo de Beauchamps e da curadora Letícia Santinon. “Filmes do mundo inteiro, da Noruega ao Japão, passando por Coreia, Estados Unidos, Palestina, Islândia e Brasil. Todos, basicamente, passaram pelos grandes festivais de cinema do mundo e muitos ganharam prêmios”, garante.
Logo que lançou, em março, a plataforma estreou com 2 mil usuários ativos, depois pulou para aproximadamente 8 mil. Hoje, tem mais de 12 mil usuários. A ideia é que, no ano que vem, segundo estudo comparativo com outras plataformas, que vão de MUBI a Netflix, esperam chegar a pelo menos 200 mil. Além de estar disponível nos aparelhos iOS e Android, ano que vem será disponibilizado um aplicativo direto nas smart TVs.
Bruno Beauchamps com o sócio, Victor Takahashi, responsável por desenvolver a tecnologia da Filme Filme (Foto: Divulgação)
TRAJETÓRIA
Bruno Beauchamps não sabe onde termina o trabalho e começa a paixão pelo cinema. Ele estava no set de filmagem, como estagiário, quando Karim Aïnouz rodou “Madame Satã”, nos idos de 2002. Desde moleque, como gosta de contar, acompanha a distribuição de filmes no Brasil, uma vez que seu pai foi responsável por um vasto catálogo, quando esteve à frente da distribuidora Lumière. Descobriu que seu lance era mesmo o business, como a comercialização de títulos e, com 18 anos, foi trabalhar na Bach filmes, na França, atuando na divulgação de “Cidade de Deus” naquele país.
Em 2010, criou uma plataforma de crowdfunding, que muito ajudou a arrecadar fundos para filmes e pequenos documentários, que queriam se lançar em salas de cinema. Em 2015, queria voltar a trabalhar diretamente com cinema, vendeu sua parte na plataforma e assumiu a direção de planejamento em uma agência de publicidade. Nessa época, pensava em investir em um sistema de streaming, o que acabou se transformando na Pagu Pictures, que lançou mais de 40 filmes nos últimos três anos – que vão desde comédias francesas a dramas e documentários brasileiros.
Bruno Beauchamps está à frente de nova plataforma de vídeos sob demanda (Foto: Divulgação)