Foto: João Henrique Machado
Com 25 anos, o ator Bernardo de Assis é um dos grandes destaques da trama de “Salve-se Quem Puder”, que volta ao ar em 2021, na faixa das 19h, na TV Globo. Ele vive o motoboy Catatau, que é apaixonado por Renatinha (Juliana Alves). “Juliana é uma querida! Trocamos bastante dentro e fora de cena”, diz o ator.
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Na trama, o mais interessante é ver que o personagem, assim como Assis, é um homem trans. “Estar em uma novela em rede nacional faz com que corpos trans sejam vistos e naturalizados na televisão. Eu diria que é uma abertura de portas e uma desconstrução de preconceitos”, ressalta.
Assis diz que a recepção do público é sempre de muito carinho. Segundo ele, as pessoas acham o Catatau muito divertido e irão conhecê-lo melhor assim que a novela voltar ao ar. “Com a volta, conheceremos mais a vida de Catatau e com certeza ele não medirá esforços para conquistar Renatinha.”
O ator é carioca, mas nesse momento está sempre entre Rio e São Paulo. “Eu nasci no bairro de Inhaúma, Rio de Janeiro, onde cresci e passei 20 anos da minha vida. Hoje vivo na ponte área, Rio-São Paulo, onde fico com amigos e parentes”, completa.
Sobre o seu papel na novela, ele ainda fala sobre como está o clima na volta às gravações da trama. “Agora já estamos na reta final das gravações, mas foi um período de adaptações e desafios. Foi muito bom poder voltar a gravar e rever as pessoas”.
O ator começou muito cedo sua trajetória no mundo das artes. Com apenas cinco anos, já dava os seus primeiros passos. Ele diz que sabia que seria ator a partir do momento em que foi ao teatro pela primeira vez, em um passeio de escola. Ao sair da peça, perguntou quem eram aquelas pessoas à professora, que lhe respondeu: “Eles eram atores”. Depois disso, Assis disse meus pais que queria ser “atores” e comecou a fazer teatro. “Nunca mais saí.”
Após essa primeira experiência, ele tratou de começar a estudar. “Faço teatro desde os meus seis anos de idade entre cursos livres, cursos para crianças e adolescentes etc. Aos 14 anos, entrei no Curso Profissionalizante de Atores da CAL e, aos 16, ingressei na Faculdade de Artes Cênicas”, explica.
A arte foi de extrema importância na vida do Assis, porque foi nos palcos que ele identificou sua transexualidade. Tudo aconteceu durante o processo criativo do espetáculo “Bird”.
“A diretora e dramaturga Livs Ataíde me convidou para participar do espetáculo que seria sua formatura na UFRJ. Em princípio, ela montaria “Agreste”, mas decidiu criar a própria dramaturgia a partir de experiências pessoais e exercícios feitos em sala de ensaio. Mas, desde o início, a única coisa que sabíamos sobre “Bird” era que teria uma personagem chamada Maria Elisa, uma menina de 14 anos que em um belo dia acordava de barba. Conforme Livs ia escrevendo as cenas e nos apresentando, sentia alguns incômodos e comecei a olhar mais para mim. Percebi que tinha muita coisa em comum com Maria Elisa e, conforme a personagem ia crescendo, eu ia crescendo junto e me fortalecendo enquanto homem. Na estreia, eu já era Bernardo”, relata o ator.
Ele fala ainda sobre o processo de transição durante a sua vida. “Desde muito jovem, eu já tinha a consciência de que não era mulher, mas a falta de referências me fez desconhecer o termo “homem trans” até meus 15 anos, quando soube da história de João W. Nery. Foram anos de medo e insegurança. Mas, assim que descobri o meu verdadeiro eu, tudo se encaixou. Hoje sou bem mais forte e feliz.”
Além do teatro, o ator também tem outros projetos, como o seu primeiro curta, “Bhoreal”, dirigido neste ano e que teve sua estreia em um festival com o Mídia Ninja. Passou ainda pelo Festival de Cinema de Vitória e recentemente foi selecionado no Festival For Rainbow.
Foto: João Henrique Machado
“É um documentário sobre a drag queen Gervásia Bhoreal, que durante a pandemia fez alguns projetos sociais com moradores de rua de São Paulo. Esse curta nasceu como um exercício do curso Audiotransvisual, uma iniciativa do cineasta André da Costa Pinto, que ofereceu uma formação online e gratuita a 30 alunos trans durante o período de isolamento social”.
Quem curte o trabalho de Assis pode comemorar, pois além dele estar no elenco da novela “Salve-se Quem Puder”, ele também pode ser visto na TVE Bahia, onde protagoniza o seriado “Transviar”, da Eparrêi Filmes. Na TV fechada, está no elenco da série “Nós” e participa de “Noturnos”, ambas foram exibidas no Canal Brasil (e agora nos streamings do Globoplay e canais Globo), a última dirigida por Caetano Gotardo e Marco Dutra, e na produção da HBO “Todxs Nós”, dirigida por Vera Egito e Daniel Ribeiro, todas lançadas em 2020.
“O que venho conquistando aos poucos é fruto de anos de estudo e dedicação ao ofício de ator. E, com a transição, achei que isso não fosse possível, já que a nossa sociedade ainda tem grande dificuldade em enxergar existências trans. Então, fico muito feliz e realizado quando as oportunidades aparecem, eu asas agarro com toda força e amor do mundo. Tento honrar cada porta que se abre, para que futuramente outras pessoas possam também estar nesses espaços”, finaliza.